• Percival Puggina
  • 17/10/2019
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A NAÇÃO NO PELOURINHO JUDICIÁRIO

 

 Nossa lei penal, nosso processo penal, nossos tribunais são zonas de litígio. Quase nada está pacificado fora da letargia das gavetas e dos arquivos. Nas cortes, as posições divergem segundo el color del cristal con que sus miembros miran. No STF, há a turma do assim, e a turma do assado. Um ministro manda soltar e o outro manda prender. Não se entendem entre si, mas esperam ser compreendidos. Integram um poder político, fazem política sem voto, curtem a celebridade, mas querem ser tratados como se fossem exclusivamente poder jurídico imune às adversidades de relacionamento social e às críticas inerentes à vida pública. Topar com um cidadão é um desconforto que os faz enrubescer. Vergonha do STF!

 Nesta quinta-feira (17/10), os senhores ministros retomam o trôpego caminho por onde têm elucubrado e andado nesta aparentemente indeterminável questão: quando deve ser preso o réu condenado em 2º grau de jurisdição, sobre cuja culpa não incide mais a presunção de inocência? Retornar ao criminoso patrocínio da eterna impunidade e da prescrição, ou manter vigente a interpretação que interrompeu a atividade criminosa nos negócios com o Estado brasileiro? É preciso, afirmam, pacificar essa questão.

 Pois “pacificar” é uma boa palavra. Se tudo andar como pretendem os ministros, essa “pacificação” vai soltar algo entre quatro mil e 84 mil criminosos. Eles retornarão a seus negócios, às nossas ruas, estradas, parques. Somar-se-ão a outras centenas de milhares de inimigos da sociedade, à qual declararam uma guerra de conquista e formação de servidão. Ocupam território no meio urbano e rural; tomam o patrimônio e a vida de tantos; atacam nossas mulheres, nossas crianças e, em grande número, se constituem como estado paralelo dentro do Estado, a exigir integral submissão às suas determinações. Se não fui inteiramente entendido, esclareço: há uma parcela dessa bandidagem agindo com representatividade e vigor nas nossas instituições.

É essa a “pacificação”, sinônimo dolorido da nossa submissão, que muito provavelmente receberá notável reforço logístico da maioria do lamentável, desastrado e escandaloso Supremo Tribunal Federal brasileiro. O simples emprego da palavra “pacificar” é uma afronta e uma evidência suplementar da relação doentiamente alienada que o Poder mantém com a sociedade. A Corte vive num universo paralelo onde o brasileiro não conta, onde a realidade nacional é informação desconhecida. Nesse universo, a dubiedade dos tratados de Direito e dos precedentes contraditórios fazem o pretensioso cotidiano para que o próprio querer se imponha. Haverá muito mais bandido nas nossas ruas, a guerra contra a população recrudescerá, mas o STF “pacificou”. Ufa! Cairá a noite sobre um Brasil mais triste, mais desesperançado, mais perigoso, mais roubado, mas violento.

A grande celebração do crime, que fez do STF santuário de suas devoções, atravessará a noite. Metralhadoras, em festa, matraquearão balas perdidas arrepiando os morros. Abstêmios na prisão, grandes corruptos reabrirão suas garrafas de uísque. Farão o mesmo aquelas figuras conhecidas que exalam os maus odores da ira quando um endinheirado é preso.

Como obra de suas mãos, o Brasil se terá tornado um país pior para se viver. A vontade e a dignidade nacional sangrarão no pelourinho! Mas quem se importa com isso no STF? Lisboa, onde eles passam mais tempo, e a civilização ficam logo ali.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Jose Helio de Souza -   22/10/2019 12:10:42

Mais uma vez "Olavo de Carvalho" tinha razão, quando dizia que perdemos a chance de mudar o Brasil, quando do processo do Impeachment da Presidenta. Pois as lideranças mudaram o enfoque das bandeiras que grande maioria da população aspirava que era mudanças nas estruturas do Estado e passaram aderir as teses dos esquerdista ´ditos isentos” que pregavam a manutenções das “Instituições de Estado” mesmo sabendo que essas eram e são e sempre serão o problema, como os fatos insistem em mostrar. Dai o Congresso com a maioria dos políticos no mesmo modo “modus operandi”, bem como o Judiciário e também a corporação que orbita em torno do Executivo. Ou seja, quase nada mudou e causa que gera “o câncer” continua com o seu processo ininterrupto que logo chegara ao estado de metástase com todas as consequência nele inerente. E o que dói é saber que poderíamos termos “montado no cavalo selado que passou” e consagrado todas as mudanças tão necessárias para extirpar o câncer o Estado e toda a Sociedade nos últimos anos.

Décio Antônio Damin -   21/10/2019 16:08:35

Esta questão já tratada no STF pouco tempo atrás volta à pauta porque o resultado não foi conveniente aos grandes(e conhecidos!) corruptos do país. E, se novamente os desagradar, voltará mais e mais vezes, até que seja atingida a "pacificação", ou seja a decisão que os mantenha calmos e fora da prisão ainda que reconhecidamente culpados!! Temos razão, mas o que menos importa neste arremedo de Democracia é a opinião do povo!

João Guilherme Maia -   21/10/2019 14:43:52

Eu concordo com o seu texto. Agora só tem um detalhe, os militares não deixarão o país a retornar o que esses comunistas fizeram pós 1964. Como falou um General se tivermos uma nova intervenção militar, e tudo indica que infelizmente iremos ter de novo, vai ser total diferente da de 1964. As duas instituições que serão fechadas imediatamente serão o Congresso Nacional e o STF, por terem se juntados e tentarem derrubar o governo do presidente Jair Bolsonaro, que foi eleito democraticamente pelo voto popular. Eu já tinha falado várias vezes que a esquerda não iria desistir, até porque o único sonho que ela tem para o Brasil é tornar o Brasil um país comunista, nos moldes de Cuba e Venezuela, que é para o Lula retornar à presidência da República e se perpetuar no poder e se tornar o ditador do Brasil. Mas como já falei, ele não irá realizar este sonho dele, simplesmente porque as nossas Forças Armadas não irão deixar, como não deixaram em 1964 e também o povo de bem do Brasil que ainda são a maioria dos brasileiros, não querem mais o Lula no poder.

Dagoberto -   21/10/2019 10:26:56

O horrendo retrato da nossa realidade...

José Nei de Lima -   21/10/2019 03:33:39

Esta é a verdadeira falência das instituições, e principalmente o supremo tribunal federal batendo cabeças é uma vergonha para nação brasileira que espera por mudanças urgentemente, é um verdadeiro Pelourinho, meu amigo meus parabéns, que Deus vos abençoe amém.

Alfredo Giorgini nogueira de mello -   17/10/2019 18:59:47

Não os tiram de lá pois provavelmente "todos" estão com o rabo preso.

Donizetti Oliveira -   17/10/2019 18:12:16

Sejamos realistas e honestos, o Brasil jamais foi uma República de fato, muito menos uma verdadeira Democracia. Os fatos que aqui acontecem e aconteceram somente são visíveis em regimes totalitários, caso contrário os pilares democráticos e o pleno Estado de Direito estariam a todo vapor, o que não ocorre há 519 anos. Tomara que hoje não nos seja dada a punhalada fatal.

Luiz R. Vilela -   17/10/2019 15:09:41

Hoje no Brasil, temos dois elefantes brancos incrustados no judiciário. A justiça do trabalho e a justiça eleitoral, que já poderiam se extintas e seus servidores, todos eles, incorporados a justiça comum, que seria de grande utilidade na distribuição de justiça pelo pais. O que fere de morte a obrigação do estado de fazer justiça, nem são os três graus de jurisdição, que o processo deve tramitar. O que gera a impunidade, é a morosidade, os inúmeros recursos a que é dado como garantia ao réu, que ao contratar um advogado chicaneiro, garante a prescrição, e o criminoso a impunidade. Deveria ser lei, que todo processo, não ultrapasse dois anos para se dar como transitado em julgado, Também deveria ser proibido que o STF, se envolvesse com questões criminais, porque a corte suprema, é para questões constitucionais. Da maneira que é hoje a nossa justiça, as instâncias inferiores poderiam ser extintas. O STF é senhor de todas as ações, virou segunda instância da criminalidade de colarinho branco. Ou alguém imagina que no supremo só existem as ações do lula, tamanha é a celeridade que seus questionamento são julgados? Já ai a coisa depões contra a corte, da demonstrações explícitas que tem clientela seletiva. A elasticidade da lei, faz com que ministros já nem a estiquem mais, simplesmente a ignoram e fazem as próprias. A nossa democracia, já beira a anarquia, e se continuarem assim as tais "autoridades", o povo vai passar a achar que pode dispensa-los, porque para fazer isto que fazem, melhor é ficar sem. Se o supremo cometer a loucura de exigir que o acusado possa fazer todos os recursos disponíveis, só para depois ir preso, ai será o triunfo do crime sobre a lei, e o patrono da causa terá sido o encarcerado lula da Silva. senhor e amo de muitos que hoje o estão julgando. O Titanic Brasil, esta já muito próximo do iceberg.