No dia 4 de agosto, uma paralisação dos servidores públicos no Rio Grande do Sul, de onde escrevo, produziu certa alteração nas rotinas. Na véspera, ouviam-se advertências, contestadas pelas autoridades, no sentido de que as pessoas evitassem sair de casa. A situação, porém, não ficou tão anormal assim, exceto para a atividades dos restaurantes, à noite. Contudo, é inegável: o excesso dos gastos públicos frente à receita possível, levando ao fatiamento dos contracheques dos servidores ao longo do mês, nos conduziu ao estágio final da longa marcha da crise contra os bastiões de um Estado visto como inesgotável em sua capacidade de atender demandas. Nada diferente do resto do país, ao que se sabe.
A crise é um exército invasor formado por problemas que não chegam metendo o pé na porta. De longe, bem de longe, ela vem tocando trombeta - "Cuidado! Olha que estou chegando!". Os técnicos responsáveis advertem. Jornalistas zelosos repercutem. Indicadores piscam luzes vermelhas nos painéis. No entanto, para grande parte daqueles a quem está atribuída competência para decidir sobre o gasto público, e para a maioria da população, responsabilidade fiscal é tema tão indigesto quanto conversa sobre cinto apertado na mesa do almoço familiar.
Tenho bem presente as chacotas que a oposição ao governo Yeda Crusius lançava sobre o Déficit Zero que ela pretendeu, com imenso sacrifício político, emplacar como marca de seu governo. O que era meritório foi levado ao purgatório. O que era simplesmente responsabilidade foi retoricamente exorcizado como perversão neoliberal, patologia da consciência social, maldade pura. Quanto é sensível a opinião pública às fanfarronadas dos maus políticos! Quanta credibilidade é atribuída aos garganteios da tal "vontade política", presumível toque de Midas capaz de transformar conversa fiada em recurso público!
Não há como desconhecer: em 2010, o Rio Grande do Sul elegeu Tarso Genro malgrado seu discurso a favor da irresponsabilidade fiscal, que ele levou às últimas consequências, legando a seu sucessor um rombo de R$ 5,4 bilhões. E note-se, o somatório dos aumentos de vencimentos por ele concedidos para viger depois de seu governo, entre 2015 e 2018 representa um impacto adicional de R$ 7,5 bilhões ao gasto público.
É longo o parto do caos. A crise chega devagar. Vem avisando e leva bom tempo batendo à porta. Até que mete o pé e se exibe com toda a feiúra. Os servidores públicos que padecem o parcelamento de vencimentos pagos em dia à época do Déficit Zero, ali adiante verão as parcelas referentes a um mês se sobrepondo às do mês subsequente. Sim, a vida parece risonha e franca quando um Estado falido eleva seu gasto fixo, mas, parafraseando Marx, o que parecia sólido se desmancha no ar e o sagrado é profanado. O desfazimento e a profanação aconteceram ao longo dos anos, quando foram sendo negligenciados os problemas estruturais do setor público.
Clamam aos céus por justiça os desníveis remuneratórios existentes nos quadros de pessoal do Estado. Necessárias garantias funcionais resguardam desnecessários privilégios. É agressivamente desarmônico o tratamento entre a situação do Executivo e a dos poderes independentes (cujo pessoal ganha muito mais, em dia e recebe aumento). Mas a causa da crise vai muito além disso. Muito além!
Ela enfiou o pé na porta e o caos se instala. Seria desesperador imaginar que isso sirva, mais uma vez, para mobilizar esperanças na direção dos discursos demagógicos, da tal "vontade política", ou de algum pote de ouro no fim do arco íris.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Afonso Pires Faria - 08/08/2016 22:59:45
Deficit zero. Muito bem lebrado professor. Muito bem lebrado. Se não tivessem atirado tantas pedras e de tamanho tão proporcional a má intenção dos que à jogaram, poderíamos não estar passando por isto. Sábias colocações.Genaro Faria - 08/08/2016 14:21:25
A MENTIRA COMO ARTE - (Imagem Comentada). A festa de abertura dos Jogos Olímpicos foi forjada pelo governo de Dilma Rousseff para fazer propaganda do comunismo. No morro vermelho com barracos da mesma cor ergueu-se o punho verde da mão esquerda na saudação conhecida da facção criminosa travestida de partido político. E a história que o enredo contou foi a de um país escrito pelos índios e escravos africanos explorados pelo branco invasor. Coube ao compositor Claude Debussy conceituar a arte como "a mais bela mentira". Deve ser por isso que o comunismo tem tantos adeptos no chamado meio artístico.Odilon Rocha - 07/08/2016 15:28:42
Se há espertos (de todos os matizes), há inocentes úteis (de todos os matizes), também. Já me reportei aqui sobre o comunismo em todas as suas vertentes e roupagens possíveis. Um sistema de espertalhões jamais pensado, obviamente alimentado por otários (uma das versões de inocente útil). Temos ainda os ressentidos, nefelibatas, "anjos", "pombas", visionários, utopistas e uma horda inteira de sonhadores que alimenta esse sistema. Temos, ainda, os isentos, os acomodados e os "otimistas". Enfim, toda essa gente, grande parte bem intencionada, mas sem conhecimento, discernimento e falta de realismo, coopera, muitas das vezes, para a prosperidade de governos corruptos, estatizantes e totalitários, onde grupos de pessoas, empresas, instituições, amigos e parentes ( os espertos ) se beneficiam. Por isso gritam e esperneiam quando desmascarados. Os excelentes artigos que temos lido aqui são um alerta porque mostra a nova vertente, a cultural (aplicação da metodologia de Antonio Gramsci para se alcançar o "socialismo perfeito"), talvez a pior, pois tem aparência de "pacífica", o que, em parte, atrai os incautos. No entanto, transforma gostos, ideias e ideais das pessoas de forma silenciosa e imperceptível, de forma indelével, nos traindo muitas vezes. Não esmoreçamos. Essa gente não quer perder seus privilégios, suas boquinhas e mamatas. Farão de tudo (como já fazem, ao se autodeclararem democráticos, o que por si só é uma piada) para se manterem no poder e matar o liberalismo (aqui entendido na sua completude), sistema que lhes causa verdadeiro pavor. Execram o mérito, o estudo e o esforço próprio.maria-maria - 06/08/2016 21:03:57
A festejada independência dos poderes atende interesses mesquinhos dos fazedores de leis e dos que devem exigir o cumprimento delas , tudo ocorrendo em benefício próprio. Quem carrega o piano, o executivo, tem seu pessoal rebaixado a uma classe permanentemente sacrificada nas crises. Os membros dos tribunalecos só têm olhos - e mãos grandes - para defenderem a própria súcia e a dos "legisladores", aqueles que referendam os abusivos aumentos com que essas duas categorias se autobeneficiamclaudio silva rufino - 06/08/2016 20:51:42
Doutor Puggina: Bem lembrados os números constantes em seu último artigo. O governador também escreveu e a ZH publicou um oportuno comentário. Os demais Poderes do Estado, com pagamentos em dia, devem cuidar de seus gastos. Dias atrás vieram o Presidente do TJ e a Corregedora instalarem o tal juizado de Conciliação na Comarca de Ijui. Em dois automóveis. Vieram com motorista e acompanhantes. Não os contei. Estiveram em outras Comarcas da região com o mesmo fim. Juizes e servidores foram a cerimônia de instalação. O serviço paralisou, restando estagiários para atender o balcão. Antes de ontem fui até a sala do tal Juizado de Conciliação e Mediação. Não havia ninguém lá, nem servidor. Havia cadeiras, mesa com aparato para cafezinho e um botijão de dez litros para água. Mas desta última nem uma gota. A 2a. Vara Civel está perdendo a titular. Existem dezenas de processos para sentença, alguns de nosso escritório. Nem perspectiva. Uma cliente com seis meses de expectativa de vida espera decisão. Falta gestão. Gestão nos Poderes do Estado. Atenciosamente. Claudio Silva Rufino.Genaro Faria - 06/08/2016 05:38:16
Hoje eu recebi uma refugiada em minha casa. Carioca da gema, ela fugiu do Rio alegando que estava sendo perseguida pelas Olimpíadas. E eu não tive como lhe negar asilo. Até porque ela é uma pessoa muito querida por mim. Mas sua atitude me estranhou. Fugir do Rio por quê? Ela, então, me explicou. - Olha, eu moro em Ipanema. Como medo de não ser tomado por idiota fiz de conta que entendi que o angu tinha tudo a ver com salsa. E ficou por isso mesmo. Eu saí com ela para tomar um chopp no bar, porque aqui onde eu moro não tem mar. Tem bar. E ali pelas tantas, in vino veritas, descobri. Minha amiga não fugiu de uma cidade maravilhosa, que adora receber turistas e, se perdeu a sede da capital do país nem por isso deixou de palpitar no coração de nossa nacionalidade. Ela estava fugindo do vexame de ter um prefeito que confunde bom humor com molecagem. O que me deu um grande alívio. Supunha que ela estava com medo de um ataque terrorista. E disse isso a ela. - Meu querido - ela me retornou - sobre esse aspecto eu me sinto segura. Nenhum terrorista tem coragem de ir ao Rio para escandalizar. Ele sabe que vai ficar desmoralizado. Só se ele for de Brasília. E eu fiquei pensando: Quem sabe por conta desse bom humor moleque é que não terá o projeto hegemônico do PT resvalado para o terreno da galhofa?Genaro Faria - 05/08/2016 16:57:47
Os chefes da esquerda se hospedam em hotéis cinco estrelas, viajam de jatinho, comem do bom e do melhor. E amam suas famílias, preocupam-se com o futuro dos filhos como pais de grande responsabilidade. A classe A socialista é composta de gente que sabe viver como ninguém. Mas não são gente como nós. São muito melhores. Eles não gostam de explorar o seu semelhante. Isso é coisa de capitalista selvagem. O negócio deles é o Estado imaginado por um filósofo barbudo com um complexo incurável de Papai Noel. O único problema para a elite "progressista" (como ela faz questão de ser chamada) é que a farinha é pouca e, com os socialistas no poder, fica mais escassa ainda para o pirão. A solução, genial, que encontraram foi criar, então, uma geração coprofágica. Parente da hiena, que come carniça e sai dando gargalhadas. Como? Ora, com uma alquimia revolucionária chamada 'politicamente correto'. Droga administrada sem moderação por nove entre cada dez jornalistas ocidentais.