• Percival Puggina
  • 04/05/2023
  • Compartilhe:

A lei e o corte da espada de Themis

 

Percival Puggina

       Conheço bem a atividade parlamentar e poderia fazer um catálogo de manobras regimentais. Não obstante, nunca tinha visto pedido de urgência para um projeto de lei ser sucedido, sete dias depois, pela retirada de pauta por solicitação do autor.

Essa eu não conhecia. Gostem ou não os artífices da jogada, o fato é que se puseram má situação sob o ponto de vista ético. A urgência se revelou pressa de vendedor para enganar cliente. Quando algo assim ocorre no comércio privado, o assunto acaba em briga ou vai bater na porta dos órgãos de defesa do consumidor, ou do Ministério Público. Por isso, o constrangimento ficou estampado no rosto do presidente Arthur Lira, que se viu contribuindo para uma arapuca e sendo preso por ela junto com a base do governo.

A partir do momento em que a urgência foi aprovada, as pessoas trataram de ler a trapizonga que estava por virar lei. E o que se leu, deu no que se viu. Nem acenando com R$ 10 bilhões em emendas parlamentares aquilo iria passar! O mercado não se sensibiliza mais com essas cifras. Elas sobem por consequência da inflação e da taxa de juros, ou seja, por culpa do Bolsonaro e do Roberto Campos Neto. Você entende, não é mesmo?

Se é verdade que a Casa foi acordada pela opinião pública, pelo trabalho das redes sociais e dos bons deputados, também é verdade que a reação popular elevou a ira dos senhores da caneta e da força contra as redes sociais –caóticas e imprescindíveis à manifestação da opinião pública. São caóticas? Sim, são. Mas tenta viver num país sem elas, ou onde são tão controladas que nem para namorar servem.

Aborreceram-se os poderosos e os empoderados. Dois ministros do STF clamaram pela necessidade de regulamentar as redes sociais. Roberto Barroso disse que isso era indispensável; Alexandre de Moraes afirmou que ou sai pelo legislativo ou sai pelo judiciário. Em outras palavras, ou vai por bem, ou vai por mal. Por incrível que pareça, o argumento funciona. Aliás, foi o mais potente argumento lançado ao plenário da Câmara dos Deputados porque ali todos sabem para que lado corta o fio da espada de Themis.

Ao mesmo tempo, cá no arraial do povão, todos sabemos: sempre que o poder de legislar, de impor normas, foge das mãos do parlamento, aumenta o poder do Estado sobre a sociedade. E o poder de legislar, de impor normas, hoje é repartido por um sem número de agências oficiais, conselhos, órgãos de contas, Banco Central, etc. A seu modo, todos “legislam” e o STF já se apresenta como alternativa ao Congresso Nacional. Não criou até tipo penal por analogia?  Com consentimento de quem, mesmo?

Fazer lei, usar a espada e controlar a balança? Não vai dar certo. Se o Congresso não cuidar de si mesmo, se abdicar de seu poder, deputados e senadores se descobrirão, um dia, ocupados apenas com sessões solenes, laudatórios, votos de pesar e, claro, emendas parlamentares como brindes à negligência. Deputados! Não deixem esse assunto cair nas mãos do STF nem do governo. Liberdade de expressão é cláusula pétrea da Constituição! Eu a quero até para as plataformas que restringem a minha.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Neuro nauta -   08/05/2023 13:26:39

Se o judiciário aprovar essa lei Tirando o poder do congresso. De fato viramos uma senzala

José Eduardo Foganholo -   07/05/2023 19:06:10

O problema não é - só - o judiciário legislar, o que não é, não foi e nunca será sua competência. O problema é a ameaça à criação de crime e instalar inquéritos contra deputados que não são simpáticos aos togados para obrigá-los abaixarem a cabeça e submeterem-se aos desejos escusos, sempre favoráveis aos tiranos de plantão! Triste fim esse "ou vai por bem ou por mal"! Pergunto: até quando?!?

JUD ROMELLO -   06/05/2023 04:24:41

É verdade! Deputados, não deixem esse assunto cair nas mãos do STF nem do governo. Liberdade de expressão é cláusula pétrea da Constituição! Eu a quero até para as plataformas que restringem a minha.

GERALDO -   05/05/2023 20:50:30

Pressão popular,esta é a unica opção.

Marizaura -   05/05/2023 19:00:47

Professor faço minhas as suas palavras lidas em matéria anterior: quando a madrugada se aproxima, ergo o pensamento para Jesus – Ele mesmo Caminho, Verdade e Vida – rogando que vele pela nação brasileira e não se instale, aqui, o primado da mentira, eterna predadora da Verdade.

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   05/05/2023 18:45:00

Um debatedor da televisão e deputado, afirmou que o Arthur Lyra, presidente da Câmara, estava com dúvidas e pecisava pensar muito sobre transferir, A PEDIDO DO GOVERNO, a votação da Lei da Fake News, ou mordaça. Certamente, aliviou a pressão política e arterial decidindo-se pela transferência. Além disso, para seu maior alívio, casualmente, na véspera um ministro do STF, suspendeu dois processo contra o pai dele.

Cecilia -   05/05/2023 18:33:46

Me sinto mais forte ao ler seu artigo ….

AFONSO PIRES FARIA -   05/05/2023 11:15:41

Parabéns professor; me fez ficar cada vez mais convencido de que quanto mais se postergar a ação contra estes crápulas, maior terá que ser a batalha.

Gilberto dos Santos Teixeira Pessoa Física -   05/05/2023 10:40:36

Como sempre excelente artigo que infelizmente traduz a atual realidade que vivemos em nosso país.

felipe luiz ribeiro daiello -   05/05/2023 10:40:24

Vamos resistir?

Antonio Fallavena -   05/05/2023 10:15:51

Bom dia amigo e demais participantes deste espaço. Desconhecer que, a maioria das as redes sociais são "bolhas de desinformações", é odiar a verdade! Liberdade sem responsabilidade é, apenas, bagunça! São muitas as críticas contra a regulamentação do que nenhum regramento possui, atualmente. Entendo que, aos verdadeiros brasileiros, cabe sugerir o limite para a crítica e a opinião. Pensar, expor e agir são coisas em sequência e não iguais! Defendo a liberdade de opinião, dentro da verdade - que é uma só! Não existem duas verdade para um mesmo fato! Assim, sugiro e desafio que apresentemos propostas e suas justificativas. Antes porem, sugiro: verifique o que acontece com e-mails, celulares, canais de redes, notadamente em relação a forma de registros e identificações. É um mundo nas sombras!!! O Brasil precisa de um povo com mais qualidade!!! Fraterno abraço. Antonio Fallavena

Julio Dias -   05/05/2023 09:39:23

Parabéns pelo depoimento legítimo de quem quer o Bem do Brasil! Não podemos descansar enquanto não pusermos um ponto final nessa vergonha que acabará por subjugar a todos por covardia do Congresso!!

MARIA DA GLÓRIA FRITSCH NUNES -   05/05/2023 08:59:10

Bom dia Puggina A direita ainda está engatinhando,no Brasil,olha como são unidos e determinados,os canhotos. Nossa única salvação somos nós mesmos,temos que ter jogo de cintura para lidar com os espertos do lado de lá, abraços

Menelau Santos -   05/05/2023 08:02:57

Se eu fosse um investidor pensaria duas vezes antes de investir num país onde adulterar um certificado de vacina é tratado como crime hediondo e roubar um trilhão dos cofres públicos não acontece nada.