• Percival Puggina
  • 02/11/2020
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A GRANDE ARMAÇÃO

 Eu teria curiosidade de, um dia, espiar o universo paralelo onde vivem alguns analistas e comentaristas dos nossos grandes meios de comunicação. Deve ser quase como no STF, só que com menos LSD.

Sei que jamais me será dada tal oportunidade, mas deve ser uma experiência muito doida ver em Trump, subitamente, a encarnação do divisionismo na sociedade norte-americana e em Bolsonaro sua réplica brega. Os Estados Unidos sempre tiveram um elevado grau de consenso. As diferenças entre republicanos e democratas eram sutis e esse consenso contribuía para a solidez e pujança daquela sociedade. Acontece que nas últimas décadas passou a atuar sobre ela o mesmo ideário esquartejador que agiu aqui por dentro do poder, como se toda nação fosse um grande açougue onde retalhistas malucos passaram a dividir a sociedade em frações antagônicas.

De fato, perdida a luta de classes, dezenas de outras lutas foram imediatamente chamadas aos tablados e nunca para conversar porque manter os ânimos alterados é parte da estratégia. Talvez você não tenha se interessado ou visto isso acontecer nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil, querendo ou não, foi parte contada da armação.

Em matéria de ontem, 01 de novembro, O Globo reuniu um grupo de “especialistas” para concluir que os EUA vivem uma crise identitária causadora de uma “guerra de narrativas”. Ou seja, exatamente como aqui, só que tais especialistas livram Barack Obama e o Partido Democrata de suas responsabilidades na gestação e gestão desses conflitos e os trazem – claro! – para 2016 com a eleição de Donald Trump. Assim, num passe de mágica, no universo paralelo em que vive o movimento revolucionário no Brasil, Trump (e Bolsonaro) deixam de ser consequência para se tornarem causa das divisões criadas durante décadas ao longo das quais ambos viveram à margem do poder político real.

O que escrevo é um alerta nascido do fundo da alma. Pondere, leitor, a importância que passa a ter, no Brasil, aqui no nosso torrão natal, a criação de um consistente movimento conservador. Se as estratégias estabelecidas por influência dos autores da Escola de Frankfurt foram capazes de fracionar desse modo a sociedade norte-americana, imagine o que poderia acontecer em nosso país. Cabe, então a pergunta: quando haverá um novo ano de 2018 se o poder político retornar a qualquer dos partidos que há apenas dois anos perderam a hegemonia no Brasil?

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 


Silvana de Judicibus Marchesini -   03/11/2020 16:45:57

Perfeito comentario .... como sempre . E nas atuais eleições....esses mesmos "estrategistas" já dão Biden como vencedor.....

Vanderlei Zanetti -   03/11/2020 16:20:09

Até nos STATES este tal de Gramsci já está “andando”, mesmo já tendo morrido, e faz um bom tempo. Quem quiser saber mais é só ler o livro editado em 2013, “Credenciada para destruir: como e por que a educação se tornou uma arma - Credentialed to Destroy: How and Why Education Became a Weapon”, escrito por por Robin S. Eubanks, disponível na Amazon - EUA, onde é relatado como os esquerdistas, democratas, gradualmente estão controlando os currículos das escolas e universidades americanas

Menelau Santos -   03/11/2020 14:21:23

Prezado Professor, é a essa palavra certa que o Sr. usou :"esquartejar". Não é coincidência que a palavra "diabo" venha com o prefixo "di", de dividir. A cultura marxista -- que inspira a esquerdalha -- tem por objetivo a divisão da sociedade em todos os seus seguimentos, a destruição das hierarquias, a divisão das classes com seu "modus" operandi" na criação aritificial de antagonismos imaginários mediante a inveja.

Tânia Kemmer -   03/11/2020 13:49:10

Texto excelente. Precisamos ser lúcidos, criar conservadores com robustez de carater e ideias. Por enquanto temos uma direita que se melindra com qualquer atitude do presidente, sem ponderar e estudar o porque.

ODILON ROCHA -   03/11/2020 13:48:20

Caro Professor Brilhante artigo, como sempre. Uma das facetas da desinformação é a inversão sistematizada dos fatos, por meio de apoiadores e ativistas engajados. São doutores nesse mister. Infelizmente, ainda há muita gente (com excelente nível de estudo e "discernimento"!) que vai atrás dessas narrativas falsas e embusteiras.

Carlos Edison Fernandes Domingues -   03/11/2020 12:07:38

PUGGINA Não podemos perder o foco de nossa "guerra". Terminada a apuração do pleito municipal, que é uma das batalhas, continuaremos com a bandeira do Brasil desfraldada na luta em defesa de Bolsonaro. Carlos Edison Domingues

FERNANDO A O PRIETO -   03/11/2020 08:08:52

Muito bom e direto! Esses "analistas" comparam e comentam o que é conveniente a eles, do jeito que lhes é conveniente: por exemplo, o fato de que Trump e Bolsonaro têm defeitos pessoais - e QUEM não os tem? - com as forças e idéias que estão norteando a maioria de suas decisões (que são acertadas!). Se for assim, e os defeitos de Obama, Bill Clinton, Lula, Rodrigo Maia, Ciro Gomes, Dilma, Nanci Pelosi,...? São tão grandes, ou maiores...Mas NÃO se escolhe um líder pensando em suas virtudes e defeitos pessoais (a menos , é claro, que esses interfiram no desempenho). O julgamento deles como PESSOAS pertence a Deus, não aos eleitores. NÃO os escolhemos para serem amigos e frequentadores de nossa casa, nem para nos orientar pessoalmente.

André Moretto -   03/11/2020 04:12:45

brilhante, correto, direto ao ponto. obrigado.

Robinson Aparecido da Silva -   03/11/2020 03:06:10

Ótimo texto, a estratégia é essa mesmo, criar o caos para vender a solução. Obvio que sempre se apresentarão como salvadores da pátria.

Paulo Romão -   02/11/2020 23:50:04

Excelente, como sempre!