Percival Puggina
A falsa direita “pegou os bobos na casca do ovo”. Essa expressão é antiga, hoje substituída por trollar ou sacanear, mas serve bem ao caso porque enganar alguém na casca do ovo significa vender-lhe por ovo apenas a casca esvaziada de seu conteúdo.
A exemplo de muitos, também comprei casca por ovo. Acreditei que a “direita” obteve uma vitória considerável na eleição para a Câmara dos Deputados e que essa bancada iria conter a volta ao passado mais do que imperfeito para onde apontavam as manifestas intenções do novo governo Lula.
“Porém, ah, porém”, digo com Paulinho da Viola (aproveitando que escrevo num domingo de carnaval), persiste e se revigora a tradicional venalidade das convicções na sua troca por cargos. O União Brasil, partido contado como “de direita”, nascido da união entre o PSL (partido de Bolsonaro no pleito de 2018) com o Democratas (antigo DEM, anteriormente PFL) já tem três ministérios no governo Lula e quer mais posições no segundo escalão. Não bastasse isso, se consolida uma federação entre UB e PP, cuja alegada intenção é, apenas, o rateio das presidências das comissões da casa.
Como entender alguém que fez campanha como antipetista, buscou votos na direita e imediatamente após a eleição vai se aconchegar no colo de Lula? Traição ao eleitor! E ela só se explica porque o sistema eleitoral favorece a reeleição de quem está agasalhado e bem comportado no aconchego das tesourarias, dos cargos e favores do governo, das emendas parlamentares, dos fundões e dos fundilhos alheios. No último caso, os próprios eleitores do parlamentar. Esse pacote dá mais votos do que a fidelidade a princípios e valores.
A propósito, lembre-se de que quando Bolsonaro, durante os dois primeiros anos de seu mandato se recusou a estabelecer esse tipo de negociação, foi flagelado com a rejeição de suas propostas e pelos próprios parlamentares que pediram votos com ele e para ele. Por quê? Porque não é assim que a banda toca.
Por isso, defendo a existência de um partido de direita com programa, princípios e valores, não extremista porque os extremos saem do arco da democracia, nem centrista porque o centro e sua periferia, pela direita e pela esquerda, é o espaço do famigerado centrão. E o centrão, lugar dos vendilhões e de sua freguesia, tem que ser reduzido à menor dimensão possível para que a política nacional comece a tomar jeito.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
eleuteerio sousa barreira - 24/02/2023 06:39:10
excelente faco minhas suas palavras.perfeito acho que o fundo do poco vem ai infelizmente.Alexandre Carneiro Wendling - 22/02/2023 17:25:13
Esse partido nunca existirá. O nosso sistema de representação politica proporcional afasta o eleito do eleitor e o aproxima das corporações (gangues), por isso esse sistema está no Manifesto Fascista, já que é um modelo corpirativista.Alfredo Marcolin Peringer - 22/02/2023 09:51:05
Parabéns pelo excelente texto, caro amigo Puggina! Muito bem escrito e, como sói acontecer, "na mosca". AbraçãoMenelau Santos - 21/02/2023 10:41:56
Prezado Professor. Perfeito seu texto. Como diria o Professor Olavo, não quero me "gambá", mas eu lembro que o Sr. estava otimista com esse caminho para conter o tsunami petista, mas eu estava temeroso num comentário lembrando de casos como Joyce Hasselman, Alexandre Frota, Kim e o próprio Dória que eram bolsonaristas no início mas, "as pedras do caminho" falaram mais alto. E tem também o nosso STF, caso o trapezista caia, eles estão lá pra amortecer a queda. Tá difícil Professor.