• Percival Puggina
  • 05/04/2023
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A esquerda e a infalibilidade do Papa

 

Percival Puggina

         Quando o Papa Francisco emite alguma opinião política, a esquerda vive um comovente surto de arrebatamento espiritual. Aquilo que é mera e imprudente adesão do Pontífice a uma narrativa se transforma em objeto de culto, é envolto em incenso e exibido como relíquia canônica. Mas isso só vale se o Papa for Francisco. Não se aplica a qualquer outra opinião política, seja de Bento XVI, João Paulo II, Paulo VI, João XXIII, Pio XII e assim, regressivamente, até São Pedro.

Nunca imaginei que um dia veria esquerdistas invocando a infalibilidade papal! “Como pode um católico questionar as afirmações do Papa se ele é infalível?”, muitos escreveram comentando um vídeo que gravei sobre a entrevista em que Francisco se manifestou sobre assuntos institucionais brasileiros.

Opa! Não corram com esse andor! A infalibilidade papal não se aplica a meras opiniões de quem calça as “sandálias do Pescador”, para usar a expressão de Morris West. É óbvio que não.  O dogma da infalibilidade é uma dedução teológica com origem no próprio ato de instituição da Igreja por Jesus Cristo após pedir a tripla confirmação de Pedro. Graças ao que ali aconteceu, a Igreja Católica, exceção feita ao sempre lamentável Cisma do Oriente, se manteve hígida e como tal chegou até nós.

O dogma da infalibilidade foi proclamado em 1870 por Pio IX através da constituição dogmática Pastor Aeternus. O documento estabelece como dogma que, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, ao definir uma doutrina de fé ou de moral, o Romano Pontífice conta com a assistência divina prometida a seu antecessor Pedro e esta lhe assegura a infalibilidade desejada por Jesus à sua Igreja.

Para que estes requisitos se verifiquem, a proclamação de um dogma – repito: sempre sobre doutrina de fé, ou de moral – é preciso que o Papa o faça na precisa e anunciada condição “ex-cathedra”, vale dizer, desde a cadeira de Pedro. Fora isso, ele tem a falibilidade inerente à condição humana.

Resta claro, portanto, que a opinião do Papa sobre a política brasileira é mera opinião pessoal, notoriamente de esquerda, transparente nas suas manifestações. Em virtude das repercussões, muitas passam longe das funções da “cathedra” e, obviamente, abastecem o arsenal das narrativas mundo afora.

Na longa tradição que acompanhei de perto, como leigo católico estudioso dos documentos oficiais emitidos pelos pontífices de meu tempo, eu os reverenciei e admirei pela prudência e contenção de suas manifestações públicas.

Eu seria o último a negar, a quem quer que seja os diretos de opinião, palpite e achismo. Mas se quem opina, palpita ou acha é meu líder religioso e diz um disparate, alimentando a tensão política local, eu me permito opinar, palpitar ou achar que perdeu uma oportunidade de ficar calado.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Raimundo Evanes Teixeira Filho -   08/04/2023 18:20:30

INFELIZMENTE PARECE QUE O PAPA FRANCISCO É MAIS UM AGENTE DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO. QUE DEUS TOQUE NO CORAÇÃO DE CADA CRISTÃO E REPENSE SOBRE O COMUNISMO VELADO DENTRO DAS IGREJAS.

LUIZ C GIUBLIN JR -   07/04/2023 08:18:13

Me parece óbvio que um cristão não pode ser, ao mesmo tempo, comunista. São visões totalmente diferentes do mundo. O comunismo é, essencialmente ateu e materialista. Portanto um papa não pode comungar desses dois cálices. Quando o faz me obriga a ficar sempre com um pé atrás com relação a ele. Papas não são infalíveis. Vale lembrar de Rodrigo Borgia, o papa Alexandre VI. Depravado e assassino.

Maria Tereza Vaz -   06/04/2023 23:44:51

Gratificante ter a possibilidade de ler opiniões de forma séria, com bases sólidas. Para mim que sou católica, e muito consciente de minha fé concordo que o Papa Francisco perdeu por não de calar.

NORBERTO INACIO SCHERRER -   06/04/2023 22:02:09

Perfeito caro Puggina. Não querendo defender o Papa, mas apenas lembrando que por de trás do Pastor, existe um homem, que é santo e pecador, como nós todos e que pode ter uma convicção que não é a mesma que nós temos. Mas, continuo apoiando a tua manifestação.

Eloy do Prado Severo -   06/04/2023 15:33:40

Parabéns, sempre muito esclarecedor.

RIVADAVIA ROSA -   06/04/2023 15:30:26

Excelente abordagem. Seguramente, o vigário Bergoglio, em seu viés vermelho, se apoia em dogma. Mas dogma marxista que os devotos pensam que é ‘infalível’. Pero, será que a infalibilidade não está em São Malaquias [séc 12] que se referiu a sucessão de 111 papas, em que Bento XVI seria 110.º e teria apenas um sucessor, o atual papa, pela profecia identificado como Gloria Olivae [glória da oliveira] e o seguinte, o último – Petrus Romanus [Pedro Romano] que veria a destruição da Igreja – e da “cidade das sete colinas”?

Vera -   06/04/2023 14:54:00

Correto, Puggina sempre afiadissimo. Obrigada.

Arthur Alexandre Tabbal -   06/04/2023 14:33:24

Como sempre, o Puggina acertou na mosca!

Manoel Luiz Candemil -   06/04/2023 10:40:33

Quem falou não foi o papa Francisco, mas sim o religioso socialista argentino Jorge Mário Bergoglio!

Rita Martinelli -   06/04/2023 09:27:07

Parabéns! Texto impecável.

Sérgio Delgado -   06/04/2023 08:55:21

Perfeito.👏

Mirella Marchito -   06/04/2023 08:24:26

Muito oportuna sua reflexão sobre aceitar, no contexto da religião católica, apenas o que convém. E pelo exposto, só convém aceitar o que provém do atual Papa, apagando o rastro de todos os demais. Desde que ele resolveu desqualificar a justiça brasileira, assumindo o papel de juiz, entendi perfeitamente o papel que desempenha onde está. Defender o indefensável não é papel que se preze, nem mesmo para um representante de Deus. Assim penso.

Armando Micelli -   06/04/2023 08:16:38

Percival, concordo com você. O Papa tem perdido excelentes oportunidades de ficar calado.

Geraldo -   06/04/2023 07:58:28

É um direito dele de emitir qualquer opinião, como é direito meu de discordar totalmente dele. Nesse quesito ele não fala como representante máximo da Igreja de Cristo.

Mara Montezuma Assaf -   06/04/2023 07:55:57

Puggina, pela constante comprovação de que este papa é esquerdista , haja vista que nasceu e cresceu num ambiente peronista, eu me reservo o direito de não considera-lo representante da Igreja de Cristo. Um papa que não se posiciona contra o matrimônio de pessoas do mesmo sexo, não está a defender a família tal como a instituiu Deus como pilar da sociedade.

Alfredo Furtado -   06/04/2023 07:39:54

Perfeito! Preciso!

Romeu Rademann -   05/04/2023 20:18:34

Não creio que o Papa estava mal informado. Gostaria de entender as razões de suas afirmações.