Percival Puggina
Completou 90 dias, ontem, a indicação de André Mendonça para ocupar a cadeira vaga no STF. Cabe ao presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre, marcar data para que o candidato seja ouvido, em “sabatina”, pelos membros da Comissão.
Nunca houve algo assim, ao menos no meu horizonte de memória. Todas as indicações, inclusive as mais despropositadas pela inadequação e despreparo da pessoa à função, foram aprovadas após breves passeios dos indicados pelos gabinetes da Casa. As sabatinas eram indulgentes, os pré-requisitos desconsiderados e o notório saber substituído por notoriedades bem menos úteis à nação.
Assim, Lula e Dilma empacotaram uma dúzia de companheiros para o Supremo. Dos oito designados por Lula, cinco já se aposentaram. Dentre os cinco apontados por Dilma houve uma defecção por morte. Dos atuais, portanto, sete passaram pelo crivo ideológico de José Dirceu. Com essa orquestra, por si majoritária, afina-se, de uns tempos para cá, Gilmar Mendes (indicado por FHC) e com ela se perfilou, caneta em riste, Alexandre de Moraes (indicado por Michel Temer). É um autêntico rolo compressor que não se constrange com os malabarismos jurídicos e estripulias repressivas em curso na Casa.
Por outro lado, quem conhece o Congresso Nacional sabe que quando algo não tramita porque surgem “dificuldades”, “facilidades” estão à venda e a demora eleva o preço. Infelizmente, devemos ter ciência e consciência de ser assim que funciona o parlamento brasileiro. Não, leitor, não creia que os obstáculos enfrentados pelo indicado André Mendonça tenham algo a ver com más credenciais. É diante as boas que eles se levantam.
Pesa contra ele uma posição religiosa, a adesão a certos valores que vêm sendo combatidos dentro do STF, alguns dos quais fazem parte da preocupante “agenda internacional do Supremo”. Pesa contra ele ser indicado pelo presidente Bolsonaro, algo que, para muitos senadores de critérios rasos, é considerado vício de origem. Outros, sempre receosos do STF, veem a aprovação como algo que possa causar desagrado ao tal rolo compressor.
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Há um laicismo militante segundo o qual a moral não pode influenciar o Direito e esse laicismo está bem sentado dentro do Supremo e do Congresso. Segundo ele, a única convicção que pode influenciar o Direito é a laicista, diagnóstico que não consigo fazer sem achar muito engraçado.
Desde meu modesto posto de observação, é exatamente essa concepção que permite aos poderes de Estado agir de um modo que põe a moral para fora pela mesma porta pela qual entram, soberanos, os interesses particulares, políticos e partidários de qualquer ordem. O desprezo a princípios e valores dos candidatos enche os plenários de indivíduos que os mesmos eleitores, se os conhecessem bem, não convidariam para jantar em casa.
Para mim, a resistência à indicação de André Mendonça se converteu em sua mais insigne credencial.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Ana Cecira Kunz - 14/10/2021 12:04:24
Décimo mandamento Será uma luta árdua para as almas humanas, até que possam libertar-se das costumeiras transgressões do décimo mandamento de Deus, isto é, até que se modifiquem nisso, para finalmente viver realmente de acordo com o mesmo, no pensar, falar e agir! Para todos, porém, que não o conseguem, aguardam sofrimento e aniquilação aqui na Terra e no Além! Amém! http://www.br.abdrushin.name/na-luz-da-verdade/mensagem-do-graal-de-abdrushin-102.phpJose - 14/10/2021 11:13:13
Acredito que Alcolumbre não está agindo sozinho!Darcy Francisco Carvalho Dos Santos - 14/10/2021 11:01:24
Há vários interesses em retardar a indicação de André Mendonça. Criar dificuldades para gerar facilidades; deixar número par para facilitar algum julgamento de interesse desse senador; atrapalhar o governo, porque é só isso que esse Alcolumbre saber fazer. Se fosse um corrupto sem vergonha, ele já teria encaminhado o processo.Adriano Riesemberg - 14/10/2021 10:56:00
Parabéns Sr. Puggina! Excelente resumo do maior problema que o Brasil tem que enfrentar.Julio C Schaeffer - 14/10/2021 10:43:31
Prezado, faltou dizer que, Barroso sem qualquer pejo despachou pela criação da CPI do circo, com notória ingerência no legislativo, sob a alegação de respeito às minorias no legislativo. Por sua vez o ativista do Lewandovski, ao negar despacho a pedido do Podemos pela sabatina, alegou ser indevida intromissão no legislativo. STF virou circo também.José Domingos de Jesus dos Santos - 14/10/2021 08:11:44
Triste Brasil que tais filhos tem, em minha opinião, essa gente não é digna de viver no seu seio, já que a maioria são um monte de Salafrários !Menelau Santos - 13/10/2021 22:09:48
Muito oportuno seu texto, Professor. Há algum tempo as esquerdas passaram a ser minha referência. Quando desagrada a elas, é bom. Quando agrada, é ruim. Não falha.joão silva - 13/10/2021 20:44:57
Bolsonaro não manda em nada neste país?Eduardo - 13/10/2021 15:25:37
"... criar dificuldades para vender facilidades ... " é a real face do senador da CCJ. É o nosso famoso: "Puxa vida!".Jorge Tadeu de Andrade Lima - 13/10/2021 14:29:38
Belo texto, tristemente verdadeiro...e pensar que brasileiros elegeram os políticos que mais prejudicam o Brasil....Valdir Todeschini - 13/10/2021 14:25:01
Um absurdo , um Zé ninguém iinterferindo nas decisões do executivo.