• Percival Puggina
  • 03/04/2017
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A CAUSA. TUDO PELA CAUSA!

 

 Meu amigo dedica a vida a uma causa. Refere-se a Fidel como "El comandante". Encimando a porta de sua casa há uma placa onde se lê "Sierra Maestra". Aclamou a ascensão do chavismo como a "primavera venezuelana". Vendeu o carro para apoiar a construção do memorial de Luiz Carlos Prestes. Está convencido de que os bandidos são vítimas dos males sociais e só falta chamá-los de "meu bem". Internou-se com mal súbito no impeachment de Dilma. Ama Luiz Inácio, odeia Sérgio Moro.

  Seu círculo ideológico é tão fechado que qualquer outro sentiria claustrofobia. Ele não. Seu projeto de vida é simples. Basta-lhe seguir o líder. É fiel escudeiro de Lula para o ataque e para a defesa. Naqueles anos em que o chefe, ainda inexperiente, num mesmo discurso afirmava A e o contrário de A, era ele que puxava os aplausos nas duas pontas. Colou cartazes na porta do Teatro Municipal do Rio de Janeiro quando o líder se posicionou contra os pagamentos ao FMI. E foi para a primeira fila no sindicato dos metalúrgicos do ABC quando Lula presidente festejou haver quitado a conta.

 O problema é que essa vida moral simples, em que o bem e o mal são definidos pela utilidade à causa, dissipou-se num estrondoso Big Bang às avessas, numa voragem em que o radioso horizonte foi consumido como a imagem de um fotograma de celulóide que queima dentro do projetor. Em pouco tempo, travou o filme e o futuro ardeu na tela. Tudo se complicou. O receituário socialista de Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia, João Pedro Stédile, Leonardo Boff, Paulo Freire, Dilma Rousseff, depositou o Brasil no fundo do poço, removeu a corda e jogou fora a caçamba. Sobrou escândalo, polícia na porta, recessão e desemprego. A experiência abriu novo capítulo no volumoso catálogo dos insucessos da esquerda universal.

 Meu amigo sofre. Jogou todas as fichas de sua existência numa aposta perdedora. Pior que isso, funesta. Mas não esmorece porque a causa é maior do que o infortúnio e ele traz gravada na consciência a afirmação de Lênin sobre a renitente teimosia dos fatos. Ora, a teimosia só se dobra ante uma teimosia maior.

 A partir dessa observação, passei a entender melhor muito do que tenho lido do jornalismo companheiro. Suas conhecidas posições sobre temas nacionais caíram em descrédito. Tornou-se inviável, também, oferecer ao público doses maiores de receitas que levaram o país à perdição. A cena internacional virou, então, seu novo campo de doutrinação. O que dizem da política mundo afora é o que diriam do Brasil se fossem críveis. Preste atenção e depois me conte.

 O estratagema adequado a tais embaraços tem aplicação de largo espectro e vai do futebol à guerra convencional: se não podes vencer, impede que teu adversário avance. Então, pau na direita! E foi o que passou a fazer verdadeira multidão de formadores de opinião. Observe-os, leitor. No vocabulário deles, tudo que está à direita da esquerda passou a ser tratado como radical, fascista, brutamontes. Contudo, a direita não quebra vidraças; não tem black blocs; não faz pichações; não queima pneus nem lixeiras; não invade propriedades públicas ou privadas; respeita a Constituição Federal mesmo discordando; não enfrenta a polícia, valoriza-a. Mas é dita "violenta, radical e fascista". Ora, fascista é como os comunistas sempre chamam os não comunistas. Portanto, ao rotular os adversários de algo que não são, estão a classificar a si mesmos como aquilo que são. A linguagem e a lógica fazem essas coisas.

(A íntegra do artigo está disponível em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/noticia/2017/04/a-causa-tudo-pela-causa-9761447.html)
 

*Coluna em Zero Hora do dia 1º de abril de 2017


Walter Hoff -   04/04/2017 23:25:19

Pura verdade, tenho amigos que são totalmente refratários a qualquer tentativa de incutir-lhes a realidade dos fatos. Lamentável !

sanseverina -   04/04/2017 22:37:41

Não sei de quem é a expressão “militontos”, mas cai como uma luva para esses inocentes úteis e religiosos místicos da agenda esquerdista. Há um documentário de 2013 que rodou em São Paulo em 2015, o “Setenta”, dirigido por uma tal Emília Silveira que retrata a vidinha dos exilados brasileiros no Chile sob Allende, trocados pelo embaixador suíço no último sequestro daquela “safra revolucionária” (dezembro/70). Não é piegas, mas tem partido. Entre outros extremismos de amor a causa, tem o depoimento de uma das resgatadas, hoje vivendo em Paris, dando conta de que ela e o marido (que tinham dois ou três filhos menores) venderam a casa e o carro (!!!) para financiar a organização guerrilheira de que faziam parte. É fundamentalismo religioso ou foram mentalmente abduzidos pelos espíritos de Marx, Lenin, Stalin, Mao ou Che? O pior é que essa gente insiste e persiste até hoje!

Genaro Faria -   04/04/2017 18:46:41

Todo militante da "causa" é assim como o seu amigo, professor. Os últimos vestígios de sua personalidade fazem companhia aos bonecos de palha, às bolas de gude e outras tralhas do porão que a mamãe guardou de lembrança enquanto o infante estocava na caixa craniana o lixo que achava na rua. Um gari invertido. Não há o que o faça despertar desse delírio psicótico que alimenta o seu mal de cada dia amassado com o rabo do diabo.

Dalton Catunda Rocha -   04/04/2017 16:21:41

“Eu me pergunto sempre: “Quais são as pessoas que curtem a esquerda e, em espécie, o comunismo?” Geralmente os fracassados, aqueles que nunca iriam conseguir chegar onde sonhavam sem a ajuda de uma corrente política que precisa de acólitos. Tem gente que trabalha, estuda e ganha uma fortuna no meu pais. Esses geralmente, nem querem saber de política, na verdade não tem tempo para isso. Assim como tem gente que, não importa em que sistema eles viveriam, sempre vão se constituir no lixo da sociedade: alcoólatras sonhadores, preguiçosos, ladrões, bandidos. Toda essa a última categoria é o grosso do que se chama de “turma proletária*” mas não tem nada a ver com proletariado. É, na verdade, o esgoto da sociedade, a sujeira que fede de qualquer jeito à pobreza, ao medo e à covardia.” > http://minutoprodutivo.com/internacional/entrevista-medico-romeno-conta-como-era-viver-num-pais-socialista

Odilon Rocha -   04/04/2017 00:29:59

Sim, caro Professor, a Causa. Sempre ela. Mas, sempre tem um mas, a despeito de fanáticos, tolos e nefilibatas que alimentam a Causa, em seus esquetes e programas, por vezes muito bem conduzidos, a Causa também é muito "generosa". Ela bate no Capitalismo e sabe capitalizar dos mais diversos modos os bolsos cooperadores alheios. Confesso que ainda tenho minhas dúvidas com respeito a esse aspecto. São só cegos, ou o ouro os cega?

Paulo Onofre -   03/04/2017 18:38:40

Prezado Sr. Puggina. É o velho chavão leninista: Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é!

Ismael de Oliveira Façanha -   03/04/2017 16:50:50

Pobre gosta de abraçar causas. Como diz o comediante "Paulinho Gogó", quem não tem dinheiro conta história.

Marco Antonio -   03/04/2017 15:08:24

Belo texto! O problema é que qualquer cidadão, voltado à esquerda, não consegue pensar por meios próprios. Basta ver que, apesar de todas as evidências de corrupção e roubalheira do dinheiro público, promovidos por Lula e seus indicados e companheiros, ainda o defendem como se o meliante fosse o mais ilibado dos seres a viver neste país.

IvoHM -   03/04/2017 14:14:41

Caro Puggina, a solução é simples: chamou de fascista, processo no vagabundo.

Patricia Lanzoni da Silva -   03/04/2017 14:13:48

Bom dia Professor!! Acompanho seus escritos semanalmente mas hoje o senhor se superou! Esse amigo a que o senhor se refere todos temos, tenho na minha família, e fico olhando as falas e atitudes descrente de como podem falar e fazer tamanhas canalhices. Essa supremacia da mentira, do escárnio sufoca e tira, momentaneamente, nossas esperanças. Só mesmo por uma fé em Deus inabalável entendemos a lógica perversa destes prepostos do pai da mentira na terra. Eles são teimosos na defesa de sua causa, nós somos persistentes na fé e sabemos do triunfo da Verdade. Obrigada!