• Percival Puggina
  • 20/11/2023
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A Argentina perde Lula, mas ganha Milei.

 

 

Percival Puggina

         Foi um excelente negócio! Lula era uma espécie de parâmetro para os governistas (kirchneristas) e para os oposicionistas. Os primeiros viam em Lula a mão amiga e o apoio necessário (com o nosso dinheiro); os oposicionistas viam em Lula o fantasma da mesma governança incompetente que assolava a Argentina. Felizmente, para a maioria, Milei pareceu mais promissor do que um governo com aplauso e apoio de alguém como Lula. 

Era nítido que muitos eleitores rejeitavam Milei pelo seu modo de ser. E isso faz pensar naqueles que devolveram o poder a Lula (que loucura!) por não gostarem “do jeito de Bolsonaro”! Talvez por isso elegeram um presidente que aprecia a intimidade dos gabinetes, do avião e das comitivas companheiras. Não põe o pé na calçada. 

Em que pese certa sintonia, Milei e Bolsonaro são bem diferentes, como tem sido dito. Um faz lembrar o outro por algo em que ambos são muito eficientes: a capacidade de se comunicar com a população. O brasileiro com sua metralhadora virtual para combater o crime e o argentino com sua motosserra para cortar o gasto público. E vai parando por aí porque Milei é bem mais liberal do que Bolsonaro e este é infinitamente mais conservador do que aquele.

Não podemos esquecer o efeito que o modelo institucional exerce sobre as eleições. O presidencialismo é, cada vez mais um plebiscito entre esquerda e direita. Vence quem fizer mais votos pessoais entre 36 milhões de votantes na Argentina e 150 milhões no Brasil. É muito voto!  Esse “plebiscito” se trava em sociedades cada vez mais sequeladas pelos efeitos da Guerra Cultural e nem os Estados Unidos escapam de tal condição. Como consequência, a capacidade de comunicação e o modo como os candidatos lidam com as percepções e sentimentos da população são mais decisivos do que as propostas de governo.

Em 2018, sem dinheiro nem tempo de TV, Bolsonaro derrotou o poder hegemônico e paga caro por esse pecado imperdoável.  Milei usou de seus talentos, venceu bem a eleição e certamente enfrentará dificuldades análogas. Bolsonaro não era liberal, mas tinha Paulo Guedes, seu “Posto Ipiranga”. Pôs ordem na casa, mas Lula, antes da posse, já tinha prontos dezenas de projetos para destruir tudo. Veremos como os outros poderes da Argentina, viciados no estatismo, se relacionarão com a motosserra de Milei.

A Ciência Política tem soluções para algumas dessas deformidades institucionais comuns à América Ibérica, embora não para os problemas educacionais e culturais de suas sociedades. Contudo, a Ciência Política não é a Política. Menos ainda a política com “p” minúsculo como eu a deveria ter escrito.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

   


Paulo Antônio Tïetê da Silva -   24/11/2023 20:11:11

O que me preocupa é que Milei tem uma bancada mínima de apoiadores no Congresso Argentino. Temo que ele se transforme no "Jânio Quadros" da Argentina.

MARCO ANTONIO GEIB -   23/11/2023 10:15:56

Mestre, entendemos que a "troca de Lula por Milei" foi o melhor negócio político que os Argentinos poderiam ter recebido...!!! Além disto, os "hermanos" deram uma mostra de como se exerce a Democracia para o mundo....!!!

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   22/11/2023 18:21:36

O maior erro da direita no Brasil, é não aprender os métodos de ocupação, ensino e aparelhamento da sociedade brasileira. Não é possível enfrentar-se com um canivete, um iniogo que porta uma pistola 9 mm. Não é certo dançar valsa ou tango no baile de carnal.

Jorge Luiz Fenerich -   21/11/2023 20:42:35

Melhor esperar pra ver o que realmente o Milei fara de concreto pois a Argentina como nós não passa de um frango desgovernado, a esquerda entra destrói tudo e devolve pra direita refazer tudo pra em seguida repetir o esquema, portanto aguardem Argentinos.

DANÚBIO EDON FRANCO -   21/11/2023 11:29:15

MILEI, tal como ocorreu no Paraguai e no Uruguai, é um alento à America Latina, que, parece já nasceu comunista. Desde então, os Estados Unidos têm sido o grande vilão e culpado pela pobreza deste continente. Esse tem sido o grande argumento da esquerda - a culpa é sempre dos outros. Trabalhar que é o bem bom, nem pensar! Quando alguns o fazem, acusam-no de capitalista explorador, como se não fosse este que lhe permite ter uma vida digna. Lá como como aqui, é assim que acontece. Difícil, pois, a missão que Milei terá. Os esquerdista de lá, como os daqui, irão dificultar seu trabalho, vez que não estão preocupados com o país, mas com seu projeto de poder, ou seja, quanto pior melhor. Vamos torcer para que tenha sucesso.

Menelau Santos -   21/11/2023 10:27:27

Perfeito, Professor! Exatamente isso que fez o Lula ganhar aqui, a mania da perfeição! Não lembro que filme, mas os pilotos estão desacordados ou mortos, a comissária procura pelo avião um passageiro capaz de pousar a aeronave. Tinha um só, mas como ele havia sido mal educado com ela, foi descartado. Vendo que não havia outra opção, a comissária volta novamente a chamar o "troglodita" para salvá-los, pois ele era piloto. Ai vem a frase que vale o ingresso. O homem diz à comissária, "você finalmente percebeu que não é a minha educação que vai salvar sua vida"!

ALCIDES POLIDORO PÉRSIGO -   21/11/2023 10:26:20

Como me sinto feliz em meditar suas colocações Percival. Concordo plenamente em tudo.

Aéliton Teixeira -   21/11/2023 10:03:44

O Milei tem grandes desafios e infelizmente acredito que o risco dele ser expulso é grande. Algumas gerações foram alimentadas pela “esmola” estatal e não sabem a importância do trabalho como realização pessoal e empoderamento social. Todas as instituições devem estar aparelhadas de forma profunda. Que o Milei escolha bem as batalhas e aja com rapidez enquanto a esquerda não prepara o contra-ataque!! Que o Milei saiba que precisará manter sua popularidade nos maiores níveis! Quanto à nossa realidade, acredito que precisaremos de alguns mandatos de Presidentes de direita no Brasil para realmente equilibrar a democracia e que até lá alternem entre liberais e conservadores (a agenda de valores importa em Mundo que define narrativas ditatoriais, sem contraditório, a exemplo da agenda verde e suas ligações ocultas com a eugenia, malthusianismo). Infelizmente, os “isentões” acreditaram que tínhamos o luxo de dividir forças para combater a esquerda e muitos ainda não entenderam que a Direita não tem essa opção sob o risco de ser aniquilada via perseguições políticas, censuras, prisões, perseguição a empresários ligados ao setor bélico, agronegócio… Precisamos de mais Pugginas para nos ajudar a refletir!!

Eloy Severo -   21/11/2023 09:51:42

Verdade.

João Alberto Martens -   21/11/2023 07:38:02

Excelente comentário. Na mosca.