• Percival Puggina
  • 22/02/2020
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A ARAPUCA

 


O que pretendo aqui é alertar para uma armadilha retórica que a esquerda usa como pedacinhos de pão para atrair inocentes e incautas pombinhas à sua gaiola. Se há um talento nessas facções ele está em sua capacidade de extrair dos males do mundo o combustível necessário à sedução e mobilização de ativistas. Nesse sentido, a canhota ideológica funciona como uma refinaria projetada para transformar insatisfações sociais em energia pura.

Nick Cohen, em What’s Left (2007), já mostrava que a esquerda, no mundo todo, aliava-se a movimentos e governos totalitários e fascistas. Com efeito, comunismo, nazismo e fascismo são trigêmeos univitelinos. Quando Porto Alegre acolhia a fogosa militância dos Fóruns Sociais Mundiais (2001 a 2005), a cidade era adornada com pichações que davam vivas a Saddam e ao terrorista Arafat. Alegorias de mão louvando os ícones dos totalitarismos do século passado dominavam a paisagem nas ruidosas passeatas que promoviam. E não há silêncio maior do que o da esquerda em relação aos crimes dos irmãos Castro, à construção totalitária de Hugo Chávez e à sua amplificação sob Nicolás Maduro. Nada que façam extrai sequer um murmúrio de protesto.

O que leva jovens idealistas a entrarem numa canoa com tantos furos no casco, tão incompatível com ideais elevados? Resposta: a arapuca. Ela consiste em:
1. apontar os problemas constatáveis em sociedades de livre iniciativa, de economia de empresa, de capitalismo, enfim;
2. apresentar como resposta a esses problemas os mais consensuais e nobres anseios da humanidade; e
3. denominar esses anseios de socialismo ou comunismo.

É a ternura em estado puro, não endurecida. Nessa retórica, passa sem qualquer menção o fato de suas experiências, malgrado terem mantido bilhões de pessoas em sucessivas gerações sob servidão totalitária, não produziram uma única democracia, uma economia que se sustentasse e um estadista de respeito. 

Após um século de insucessos, os seus modelos acumulam cem milhões de cadáveres e disputam com a peste do século XIV o troféu universal da letalidade. É a dureza sem ternura.

A arapuca, portanto, consiste em comparar coisas desiguais, ou seja, a experiência real e muito mais bem sucedida das sociedades livres, nas quais obviamente persistem problemas, com a fantasia do paraíso descrito no falatório esquerdista. Em regra, quem arma essa arapuca é um manipulador que confia na ingenuidade alheia. No entanto, só se pode comparar coisas de fato confrontáveis, ou seja, cada doutrina com sua prática, ou doutrina com doutrina e resultado com resultado. E aí não tem nem graça.

 

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 


Rubens Mazzini -   27/02/2020 04:52:09

Brilhante como sempre. Excelente texto para tentar resgatar alguns incautos que já caíram na arapuca.

Flavio Aprigliano Filho -   24/02/2020 14:20:51

A mais pura verdade professor, mas como fazer este alerta chegar aos ouvidos e as consciências dos estudantes do segundo grau? Para que entrem na universidade, nos cursos técnicos ou no mercado de trabalho com alguma capacidade de se defender deste assédio?

Menelau Santos -   24/02/2020 14:15:38

A síntese é perfeita professor: "...transformar insatisfação social em energia pura...". O Padre Paulo Ricardo também diz nessa mesma linha, que a esquerda pega dois grupos supostamente antagônicos (étnico, de gênero, religioso) e cria um conflito entre eles através do combustível emocional mais antigo do mundo que é a INVEJA. É a velha e requentada luta de classes, aqui nesse texto, tão bem explicitada pelo Sr.

Luiz R. Vilela -   23/02/2020 11:19:10

LA SINISTRA, é assim que se chama a esquerda em italiano. em português, sabemos que uma coisa sinistra é nefasta, e portanto, desaconselhável. Todos os regimes de esquerda que já existiram neste nosso mundo, resultaram apenas em experiências frustradas, em tiranos sanguinários e montanhas de cadáveres. Então vem o enigma, porque os jovens em sua maioria são dados a professar um regime totalitário, que só se instala por força das armas, destrói a oposição e elimina fisicamente, inclusive, seus contestadores? Não é uma incoerência? Não vivem estes jovens a reivindicar mais liberdades de ação e expressão? Acredito que só possa ser por ignorância e desconhecimento, afinal qual brasileiro que com menos de uns 40 anos viveu ou conviveu com algum regime comunista? Não conhecem, não sabem o que é. Assim como vão para a escola e acreditam em todas as informações passadas pelos professores, sobre as matérias escolares, também acreditam quando os professores lhes dizem que o comunismo leva o indivíduo ao paraíso, ainda em vida. A classe dos professores, será sempre inconformada com a sua posição na sociedade. Dizem que são os que preparam a elite intelectual, que fatalmente, um dia serão ricos, enquanto eles,os professores, passarão a vida na condição de "remediado", assalariado e pouco valorizado pelo poder público. É briga para a eternidade. Já os jovens, contrariando o ditado espanhol que preceitua o " solo se ama lo que se conoce", passam a amar o que não conhecem. Não há outro lugar mais adequado para o perigo ir morar. Gosto muito da frase atribuída ao falecido ex ministro Roberto Campos, que dizia: " Se quando jovem você não foi socialista, é porque não tinha coração, mas se continuou a ser socialista depois de velho, é porque não tem juízo". Acho que é isso mesmo, a imaturidade não deixa ver o perigo, e quando se der conta da bobagem que fez, será tarde, estará velho e não poderá mudar nada. Viverá como um cubano de 50 anos, que passará toda a vida, vendo apenas um sobrenome no poder, e nenhuma liberdade, inclusive sendo proibido de deixar o "paraíso. E também como um coreano, que a todo dia, deve glorificar o "grande líder". Que bom que estamos no carnaval, cada um pode se fantasiar como quiser.

André Andersen -   23/02/2020 11:06:45

Texto enxuto, diz tudo que levei anos para entender. Parabéns!

Davi Carvalho -   23/02/2020 04:32:00

Dalton Catunda Rocha. Li uma crônica que dizia que as florestas precediam os homens e o deserto os seguiam. Assim é o comunismo, a prosperidade precedem o comunismo e a ruina o segue! Realmente o comunismo é um mal que assola as nações nas quais se enraiza e que assombra as que com ela namoram. Infelizmente o comunismo não é considerado crime tal qual o nazismo, pois se fosse não usaríamos os roubos vultuosos praticados por Lula da silva para puní-lo. Não vejo como hipocrisia o fato de condenar um criminoso por seus crimes e não por sua ideologia nefasta.

Dalma Szalontay -   23/02/2020 03:26:27

Os comunistas são altamente especializados em mentir, e o fazem tão bem que acabam por acreditar nas próprias mentiras. Não é fácil para a mente mediana por-se a salvo dessa influência deletéria, uma vez que a grande maioria das pessoas sofre de alguma enfermidade, de alguma carência material e de muita carência intelectual. Há pessoas que talvez de boa fé, e sem qualquer exame sério, acreditam em milagres, em "salvadores" e em quaisquer promessas de uma boa vida. Há os que gostam de se acreditar " vítimas inocentes de uma sociedade injusta" "pobres" "injustiçados" e por aí vai... Para esses a falácia comunista é como gasolina no fogo... Então, suponho que só o tempo (passando pela melhoria do ensino, pelo despertamento de valores morais mais elevados, pelo fortalecimento dos laços de família) fará de nós pessoas melhores e mais capazes de raciocinar com proveito.

Dalton Catunda Rocha -   22/02/2020 22:05:26

"Porém o suprassumo da cretinice é contestar a fidelidade de Lula ao comunismo mediante a alegação de que é um larápio, um corrupto. Qual grande líder comunista não o foi? Qual não viver como um nababo enquanto seu povo comia ratos? Qual partido comunista subiu ao poder sem propinas, sem desvio de dinheiro público, sem negócios escusos, sem roubo e chantagem?" > http://www.dcomercio.com.br/categoria/opiniao/el_mayor Há quase 100 anos atrás, o escritor português Fernando Pessoa (1888 – 1935) escreveu: "O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós." > http://conservadores.com.br/o-anticomunismo-de-fernando-pessoa/ “Quais são as pessoas que curtem a esquerda e, em espécie, o comunismo?” Geralmente os fracassados, aqueles que nunca iriam conseguir chegar onde sonhavam sem a ajuda de uma corrente política que precisa de acólitos.” > https://subversivoxxi.blogspot.com.br/2017/07/os-crimes-de-stalin-trajetoria.html