• Percival Puggina
  • 19/03/2017
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1917. E O MUNDO MUDOU PARA PIOR.

 

 Se o czarismo não dava origem ao melhor dos mundos, o movimento revolucionário que mudou o regime em 1917 causou à sociedade russa um dano incalculável. E não se deu por cumprido. Levado pelo imperialismo russo, o comunismo viria a estender fronteiras, impondo-se sobre nações até então livres e irradiando genocídio, miséria e servidão. O simples registro ou narrativa dos fatos que se desenrolaram a partir do velório da Rússia czarista não podem silenciar ante o simultâneo surgimento, ali e então, do primeiro, modelar e mais letal dos coletivismos totalitários que infernizaram o século XX. O nazismo e o fascismo aprenderam do comunismo. Deveríamos estar falando mais sobre isso, sempre que mencionados os fatos ocorridos às margens frias do Rio Neva, há exatos cem anos.

 As mulheres e os grevistas que a elas se juntaram para marchar nas ruas de Petrogrado, no dia 8 de março daquele ano fatídico, pedindo pão e paz, cantavam a Marselhesa e não podiam imaginar a intensidade das forças que desencadeavam. Talvez sequer soubessem que reproduziam o mesmo hino entoado na tomada do Palácio das Tulherias, quando, nos desdobramentos da Revolução Francesa, se liberavam as forças do Terror e a guilhotina fazia rolar três cabeças a cada dois minutos. A caixa de Pandora aberta em Petrogrado seria infinitamente mais maligna. Mas é bom relembrarmos: para cada Robespierre ou Saint-Just, a Revolução Russa iria, ao longo das décadas seguintes, mundo afora, disponibilizar multidões de sanguinários ditadores e monstruosos agentes políticos. Gerações de revolucionários e intelectuais, partidos e militantes se sucederiam para disseminar uma ideologia perversa na concepção e comprovadamente ainda mais perversa na execução, em todas as suas experiências históricas.

 Talvez convenha, aqui, lembrar o velho Winston Churchill, porque é sempre uma saudação à inteligência fazê-lo. Enquanto a chapa esquentava em Petrogrado, naquele março de 1917, Lênin estava exilado na Suíça. O curso dos eventos muito o agradava, mas não podia comandá-los através, apenas, das cartas que escrevia. Ele precisava chegar ao palco. Hábil que era, conseguiu negociar com os alemães autorização para cruzar o país em direção à Suécia. Foram oito dias em companhia de outros camaradas, dentro de trem blindado, até Estocolmo e, dali, para a Finlândia e Petrogrado. Churchill, referindo-se a essa inusitada travessia de um grupo de cidadãos russos, sendo a Rússia adversária da Alemanha na guerra, comentou que tal viagem se dera "num vagão lacrado como bacilo de peste". A frase e o lacre se justificavam plenamente.

Para Lênin, a Primeira Guerra Mundial era um conflito entre interesses imperialistas com o qual nada tinha a ver. Interessava-o aproveitar as consequências da guerra na vida das pessoas para fazer eclodir o que via como fundamental - o embate entre as classes sociais com vistas à ditadura do proletariado. Foi com tal visão que convenceu os alemães a lhe darem passagem e foi com essa perspectiva que chegou ao poder supremo no final do mesmo ano. E sobreveio o Terror. E nasceu o organismo dele encarregado, a Cheka, que viria a inspirar, menos de vinte anos depois, as SA e as SS nazistas, e os camicie nere fascistas. Alguém dirá que a política não é lugar de muito bons modos, que nunca foi domicílio da verdade e que, em maior ou menor grau, a repressão, ativa ou inativa, está sempre em seu estoque de meios.

O que só o coletivismo comunista e seus dois filhotes - nazismo e fascismo - fazem, porém, é uma política em que os adversários não são pessoas ou facções divergentes. São estes também, mas, principalmente, são grupos sociais inteiros passíveis de eliminação: burgueses, proprietários, etnias, nacionalidades. E tudo (...) O final do artigo pode ser lido em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/noticia/2017/03/1917-e-o-mundo-mudou-para-pior-9750819.html
 


Haroldo Gré da Silva -   25/03/2017 18:11:49

Enquanto filosofamos e damos opiniões a virose se espalha por aqui e pelo mundo. Creio já ser tarde para detê-la. Apreciemos o show, depois não haverá mais show e sim discursos . O último quartel já começou a cair, Trump é apenas o último aviso, não chegará ao fim, Deus estará definitivamente morto junto com a democracia e o capitalismo liberal. Viva Marx e seus seguidores, conseguirão o que nem o Diabo conseguiu, o inferno na Terra. Mas com bons discursos parecerá o paraíso. Deus se manifeste, Deus...

Ruth -   23/03/2017 14:27:11

Assistam a série Seyit & Sura na Netflix sobre esse tema. É excelente.

fernando frascari -   22/03/2017 13:45:28

E a história da disputa pela exploração dos poços de petróleo da Rússia entre os Rothschild e os Rockfeller. É verdade isso? Trotsky era protegido dos Rockfeller.

Genaro Faria -   22/03/2017 12:10:23

Estes versos de Drummond parecem espelhar a alma da pusilanimidade a que foi reduzido o nosso povo. O veneno da paralisia moral foi inoculado em doses tão cavalares pelo politicamente correto da contracultura e da desinformação em massa, que não nos restou um só vestígio do ânimo dos patriotas, uma só gota da fé que nos elevava como criaturas divinas, semelhantes à imagem do Criador. Muito obrigado políticos venais e jornalistas canalhas, artistas engjados e professores ativistas. Seu salário será a morte de um país que em vão sonhou com a emancipação que os senhores já converteram em decadência antes do apogeu. ..................... Meu Deus, essência estranha ao vaso que me sinto, ou forma vã, pois que, eu essência, não habito vossa arquitetura imerecida; meu Deus e meu conflito, nem vos dou conta de mim nem desafio as garras inefáveis: eis que assisto a meu desmonte palmo a palmo e não me aflijo de me tornar planície em que já pisam servos e bois e militares em serviço da sombra, e uma criança que o tempo novo me anuncia e nega.

Genaro Faria -   21/03/2017 15:19:45

Muito bem, professor Puggina, essa ferida continua aberta e purulenta o pai e mais monstruoso fenômeno do século passado não foi enfrentado como seus rebentos - o fascismo e o nazismo. Seus psicopatas genocidas jamais foram levadas às barras dos tribunais. E a prova material de seus crimes não foi exposta como os campos de extermínio de seu congênere nazista. Seus líderes nunca foram julgados, mas "justiçados" pelos próprios comunistas nos expurgos. Além disso, eles aprenderam com Hitler a não explodir, mas implodir a democracia, renunciando ao ataque frontal com armas, em favor de uma tomada do poder pelo voto popular. Poder do qual não saem pela vontade popular, pois apodrecem por dentro a democracia real e deixam à vista apenas sua caricatura formal.

fabrice -   21/03/2017 12:34:25

Os dirigentes desses sistemas ditatoriais sejam comunistas, nazistas, fascistas ou, principalmente, reles populistas cuja ideologia é se dar bem, têm como tática comum, depois da razia (ou do pleito) pela tomada do Poder, a cooptação das classes formadoras da base da pirâmide social. Na nuestra latinoamerica, por exemplo, ao povo são oferecidas as facilidades para viver à custa do Estado e/ou do empregador privado, ou seja, receber o mínimo, mas sem trabalhar ou quase. O sistema tem tido sucesso porque se encaixa como peça de um puzzle nos desígnios da ralé: o Estado-provedor e o patrão paternalista (no Brasil, condição obrigada pela CLT e pela justiça trabalhista). O que vige, afinal, é um contrato social e político tácito: o Governo quer as massas carentes (da própria subsistência e de educação) para manter o seu mercado de apoio e votos e os pobres concordam em troca das esmolas de sempre, desde que permaneçam no dolce far niente. O modelo é o mesmo das religiões organizadas que, há milênios, pregam a pobreza como virtude e passe para o céu ou o nirvana para manter o mercado dos adeptos. É Controle e Poder. Poder e Controle.