• Percival Puggina
  • 24/04/2015
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“ERRANDO SE APRENDE”. APRENDE?

 

 Estará o Brasil aprendendo com os próprios erros? Aprendem algo os homens públicos observando a história e os fatos do presente? Parece pouco provável. O erro costuma ser a mais perigosa e a menos produtiva forma de aprendizagem. A expressão que dá título a este artigo surge com freqüência, em forma de argumento, por exemplo, nas altercações entre pais e filhos quando estes desejam fazer algo que aqueles afirmam ser errado. A frase se esgotaria na própria insensatez, se a sensatez não fosse qualidade cada vez mais rara na vida social. Por isso, a pedagogia do erro, o "errando também se aprende" ganha dimensão de sabedoria conquistada a duras penas e justifica muita conduta imprópria.

Entendamos bem a questão. Há uma diferença fundamental entre o erro cometido por quem quer acertar e o erro praticado por quem deliberadamente busca o mal. É provável que o primeiro cumpra, sim, uma função didática, não tanto por causa do erro em si mesmo, mas devido ao anterior e posterior desejo de agir bem. Pela razão inversa, aquele que erra sabendo que vai fazer algo incorreto, dificilmente aprenderá qualquer coisa que lhe venha a ser útil porque, tendo buscado intencionalmente o mal, não está animado para uma aprendizagem adequada.

Na maior parte dos casos em que essa expressão costuma ser empregada é importante verificar se não se trata de uma artimanha, coisa de quem, na verdade, já aprendeu, mas está seduzido por algum erro tentador. “Deixem-me errar porque errando se aprende”, pedia a mocinha de certa novela. Ora, “deixem-me errar” implica o prévio reconhecimento de que se vai em direção a um erro e, portanto, quem diz isso já sabe o que é errado e o que é certo. Já aprendeu. E o mais provável é que acabe desaprendendo.

Ademais, o erro não pode ser usado indiscriminadamente como forma de aprendizado pois, como regra, existem outros métodos mais vantajosos, tais como os proporcionados pela observação, pela sadia orientação e pelos bons livros. Em outras palavras: dentre todas as formas de aprender, a pior - a que devemos relegar à posição mais remota - é aquela que o erro pode facultar, principalmente quando dele podem advir graves problemas a quem erra e/ou aos demais. Viu, dona Dilma?

No caso brasileiro, a situação se agrava. Estabeleceu-se, aqui, ativa e até agora dominante, uma pedagogia que dissemina o erro, serve o mal como bem e a mentira como verdade. Interpreta ardilosamente os fatos, muda a história e, por isso, nada aprende sequer das grandes catástrofes políticas e econômicas vividas por outros povos. É uma pedagogia maligna por excelência. Quando se depara com as consequências dos erros a que conduz, jamais faz o mea culpa. Com o ar indignado, gira o dedo indicador para qualquer direção, exceto à do próprio peito.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 


José P.Maciel -   27/04/2015 21:12:13

Acho que podemos falar de modo geral,em crise mundial,em mundo cujo problema fundamental é a perda da consciência moral,cuja formação se origina na vida familiar,e que celebra o "tudo é relativo",como aceitar o conceito de "errando se aprende",tendencioso, cuja falácia bem demonstra o amigo Puggina? Palavras,palavras,palavrório falso sem fundamento,que a História e o dia a dia da vida humana demonstra com evidência.

ALDO LANGBECK CANAVARRO -   26/04/2015 21:09:04

aproveitando o tema em discussão, quero lembrar um provérbio popular: Povo inteligente aprende com os erros dos outros, povo burro com os próprios, o Brasil não aprende!

ricardo froner -   26/04/2015 12:40:20

Grande Percival Puggina ! É um privilégio compartilhar a simultaneidade temporal de vidas de pessoas como tú ! Tu és um ícone republicano do pensamento lógico, isento e não-velhaco como o dessa corja bandida e locupletante que se adonou deste infeliz país a exatos 4.498 dias, desde 01/01/2003 com a funesta posse do LULLARÁPIO IGNORANTE SAFADO (nada de Ignácio da Silva coisa nenhuma !) O que eu mais lamento é que "o Sistema" não consiga se depurar e expelir todo o pûs que representa essa caterva bandida numa rapidez alvissareira, face ao outro problema que é o "ESTADO DE TORTO" oops..oops, "DE DIREITO" (uma piada aqui no Brasil) criado pelos políticos bandidos para beneficiar bandidos políticos e bandidos em geral, do varejo ! Um rapidez como aquela da Romênia, em 1989 https://www.youtube.com/watch?v=dPRhLT5wOkc Grande abraço e sigamos nossa luta perceverante contra estes demônios pôdres ! Até a última gota do veneno, oops, sangue..DÊLES !

Décio Antônio Damin -   26/04/2015 11:47:19

O erro tem, obviamente, também uma função pedagógica, desde que cometido sem a intenção de errar, e não para dele obter alguma vantagem indevida! É o que tem acontecido muito amiúde: a má intenção disfarçada de ingenuidade que assim justificaria as conseqüências do erro! O grande problema é que os "pseudo-erros" cometidos atingem a todos e não só aos que, crédulos acreditaram nas nas boas intenções! Espero que nós, sociedade como um todo, pelo menos agora, estejamos aprendendo com o erro que permitimos que acontecesse! "Errar é humano! Permanecer no erro é burrice!"

paulo de carvalho filho -   25/04/2015 22:38:27

Mestre Puggina, a pergunta que não quer calar é: Será que os militares aprenderam com o seu erro do passado? Os tempos são outros e as pessoas são outras, mas uma coisa é certa, erva daninha se arranca pela raiz!

Ismael de Oliveira Façanha -   25/04/2015 18:24:53

Caro patrício, na política comum não existe, como na guerra e no amor também não, Certo e Errado; existe, sim, Sucesso e Fracasso, Vitória ou Derrota. No atual cenário político brasileiro, profundamente amoral, vigora a lei do Zé Trindade, aquele comediante dos anos 1950 cujo bordão era: "Eu quero é me locupletar". Ora, amores vêm, amores vão; indo-se o PT ao Lixo da História, logo o PSOL virá ocupar o lugar daquele lobo em pele de cordeiro. Enquanto vivermos no estado Democrático Liberal e pluralista, amorfo, enquanto não forjarmos um Estado Novo balizado nos ideais de Deus, Pátria e Família, continuaremos a deslisar irremediavelmente para o Comunismo. O incêndio vermelho, se combate com a Chama Verde, porque, com liberalismo e conservadorismo, certamente não se combate, pois são apenas o patético muro das lamentações da burguesia.

José lima -   25/04/2015 16:33:28

Tudo de errado no Brasil se torna regra e principalmente os nossos gestores e as escolas Básicas ou Ensino para Futuros Políticos que vem com pouco conhecimento na parte de administrativa e História Geral precisamos rever os conceitos em todos âmbitos um grande abraço parabéns pela ótima matéria.

Juan Koffler -   25/04/2015 14:25:37

"Errando se aprende", meu caro Percival, é uma premissa fantasiosa, falaz, covarde. A questão de aprender com os erros apenas se aplica àqueles que, cônscios dos seus direitos e deveres, ao errarem analisam e processam seus erros para não mais repeti-los. E estes são - convenhamos - bem poucos, neste imenso Brasil de 200 milhões de indivíduos. Não me arrisco a dar palpites sem qualquer base, mas, se quiséssemos arriscar (em base ao análise crítico e desinteressado, com fulcro vivencial), diríamos que não passamos de 5% os que repensamos o erro cometido e nos comprometemos a não repeti-lo. Nossa sociedade nasceu assim, com a herança dos seus conquistadores solidamente inserida em seus genes. Dessarte, nada de diferente poderia se esperar. Seriam necessárias muitas gerações para apagar tal hedionda herança, e isto se iniciássemos mudanças drásticas já - algo como uma incômoda falácia -. Parabéns pelo artigo. Forte abraço.

Genaro Faria -   25/04/2015 09:49:28

Uma terrível consequência desse equivocado modo de pensar foi a primeira eleição daquele que não poderia, por despreparo intelectual e pela falta de qualidades morais, sequer ser um presidente do Corinthians, time ao qual ele se filiou e se tornou o mais conhecido torcedor. Eu cansei de ouvir: "o PT e um mal necessário". E somente agora, depois de tantos males, esses mesmos compatriotas desavisados perceberam que o PT era - e sempre serah - um mal desnecessário. Agora que nem sabemos se seremos capazes de nos livrar dele. Não eh fácil aprender com a Historia , sobretudo quando não quisermos aprender com ela. Como disse Samuel T. Coleridge: "Mas as paixões cegam nossos olhos/E a luz que a experiência nos dah/Eh de uma lanterna popa/Que apenas ilumina as ondas que deixamos para tras". Felizmente, não nos faltam o exemplo e o conselho dos virtuosos. Basta que não os desprezemos.

Julio Rosais -   25/04/2015 03:22:22

Prof. Puggina, publiquei, sem sua autorização, este texto na minha página do Facebook. Penso que assim, as pessoas que conheço em outros Estados passem a conhecer seus pensamentos e sua luta pela LIBERDADE no sentido correto da palavra.

Odilon Rocha -   25/04/2015 00:04:26

Perfeito, Professor! “Deixem-me errar porque errando se aprende”, pedia a mocinha de certa novela." Só podia ser em novela. O espaço mais disseminador de temas comportamentais subliminares. Há público para tanto. O caso Pasadena reflete bem o seu artigo. Tudo, tudo, tudo, foi arquitetado. Até as discordâncias contratuais! Erro é que não foi. O erro foi achar que nada daquilo viria à tona. Parabéns pelo tapa de luva - de pelica - nesses crápulas. Abraço