"Eu sei, não, eu sinto que Deus existe."
(Jorge Luis Borges)
O que nós sabemos, não, sentimos é que o nosso país está deixando de existir. Não aquele que se indignou por Marta Rocha, por causa de duas polegadas a mais na cintura, não ter sido eleita Miss Universo. Que projetou seu orgulho nos campeões Eder Jofre, Garrincha, Pelé e Maria Ester Bueno. Que construiu Brasília e conquistou o mundo com os acordes e o ritmo da bossa nova e sua poesia intimista, sofisticada na fusão de Debussy com o jazz, assim promovendo o samba que descia do morro a uma expressão musical universal.
Não, aquele país fincou suas raízes numa geração que não existe mais. Dela só restou a lembrança que vai se apagando com o tempo. E se esvai a cada mito que Deus seja servido de convocar para o infinito. E com eles nos também morremos um pouco. C'est la vie!
Quem dera nosso país também deixasse de existir assim, naturalmente, como a aurora de nossa vida na infância e juventude! E hoje debruçasse sobre o peitoril de uma janela que descortina o passado a esperança que nos consola em nossos filhos, netos e nos que ainda haverão deles descender, herdando a pátria e a civilização que para eles edificamos. Mas o país que está deixando de existir não é o nosso. É o deles. Não é o que o tempo levou, mas o que ele não poderá trazer. Porque hoje estão no poder aqueles que não suportam a realidade. Que é feita de passado, presente e perspectiva de futuro. Uma contingência com a qual eles, sendo revolucionários, não podem se conformar. Seu tempo só se conjuga no futuro. Sempre. Somente nele seu ideal de abolir o passado e exterminar o presente poderá ser julgado. Conceito este que os redime eternamente de qualquer crime que tenham cometido, pois o futuro sempre andará um passo à frente da justiça, que só examina o pretérito ou o presente.
Genial, não?
É claro que esse absurdo só pode ser encenado na mente de um psicopata. Ou de um belo cafajeste que não perderia essa oportunidade de se livrar do que ainda lhe possa pesar o que restou da sua consciência. O cidadão comum, que é honesto desde o camponês, o operário, o comerciário, o autônomo, até o agricultor, o industrial, o comerciante e o profissional liberal não cuida que está sendo vítima do sequestro da sua dignidade. Sem a qual ele será órfão da sua origem e natureza divina.
Mais, muitíssimo mais do que o assalto praticado nestes treze anos do PT no poder, a pátria comum e tudo que nos identificava como um povo, a partir do amor que nosso lar nos infundiu e dos primeiros passos de nossa catequese cristã, o que nós perdemos foi o Brasil. Um país perdido no futuro. Talvez para sempre.