• Rubem Sabino Machado
  • 30/09/2024
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Ubuntu: medalhas pros medíocres?!

 

Rubem Sabino Machado*

 

         Esta semana, ouvi na academia um professor explicando a uma mãe:  é um campeonato mas todos vão ganhar medalhas...  E ela sorria!!! Como é que é?  Quem perde ganha?!  É isso mesmo?  Lembrou-me até discursos estranhos e famosos... E ela acha isso bom, ao menos pela cara que fez...

Uma vez assisti a uma palestra de um professor de direito famoso e já falecido.  Embora fosse um grande orador, ao contrário de outras personalidades que demonstraram suprema mediocridade ao falar, ele defendeu posições muito ruins, mas o que foi mais assustador foi ter ouvido , pela primeira vez, a historinha do tal do Ubuntu: fiquei horrorizado:

– Um senhor, vendo crianças brincarem, chamou-as, mostrou uma cesta cheia de doces e disse – Vamos fazer uma corrida, o primeiro a chegar fica com a cesta.  Ele organizou e, então deu a largada.  As crianças deram as mãos e correram devagar e juntas até a chegada, para que todas ganhassem a cesta... O senhor (decepcionado com razão, digo eu) teria indagado o porquê de fazerem aquilo.  As crianças responderam: “Ubuntu, tio”.

Mas que coisa mais ridícula aquilo... Ubuntu é, então, o culto à mediocridade!  Vejam, quem vencesse poderia dividir a cesta com todo mundo se quisesse e teria participado de uma competição de verdade, voltada para o homem alcançar o seu melhor.  Mas optaram por não buscarem o seu melhor.

Mas eu tivera uma prévia daquele horror.  Numa noite em que voltava de madrugada para casa, vi à venda num posto de gasolina um livro que também celebrava a mediocridade: “Brincadeiras não competitivas para crianças”.  É claro que pode haver brincadeiras sem competição que sejam até divertidas, mas fazer um livro voltado a isso mostra uma vontade deliberada de rejeitar a competitividade.  Que seria do futebol sem o gol, do basquete sem a cesta e da Sociedade sem a evolução e a excelência que é o que se consegue com a competição?  E se a competição não fosse da essência humana: por que os times teriam tantos torcedores?

Quando passava alguém com medalhas no pescoço, eu pensava: “nossa, ganhou algo...”.  O observado estufava o peito por ter conseguido seu objetivo.  O pai e mãe dele, se estavam do lado, sorriam de orgulho da vitória que o filho teve... E agora? Agora eu não sei se ele ganhou, há dezenas, centenas com medalhas no pescoço e os pais não sorriem por verem um filho campeão ou prata ou bronze.  Contentam-se com migalhas agora feitas de lata e penduradas no pescoço.  Aonde acham que esse tipo de estímulo às avessas pode levar alguém?  Acham que se contentando em fazer o mínimo, com pouco, sem obstinação e sem foco pra evoluir eles chegarão a algum lugar?  Já igualam até  o belo e o feio como vemos desde o século XX.  Agora querem mediocrizar o esporte. Pelo menos a Nike repudiou isso, abandonando todo o woke e politicamente correto e teve a coragem de fazer um comercial valorizando a competitividade e a vitória ( < https://www.youtube.com/watch?v=pk1wU7382co ).

Quando eu vejo essa promessa de medalhas sem mérito e o orgulho de usá-las sem ter vencido, eu entendo o porquê de certas ideologias  ainda serem defendidas, apesar de seu fracasso mais que centenário.  A preguiça e a inveja substituíram os maiores valores e virtudes: a “justiça” que eles defendem, a tal da Social, é novo nome para um misto de pelo menos dois pecados capitais...  Sowell já nos avisou disso.

E sempre que ouço a palavra “Ubuntu”, tenho vontade de fazer a rima que rebaixaria esta crônica ao mesmo nível dos não competitivos...

Se és capaz de encarar a Derrota e a Vitória

como matrizes que são, do Olvido e da Glória.

Millôr Fernandes

*        O autor é cronista fictício e está sempre competindo: até contra si mesmo!

**      A imagem que ilustra este artigo é obra de Julius Schnorr von Carolsfeld obtida em <https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Julius-Schnorr-von-Carolsfeld/931534/As-ofertas-de-Caim-e-Abel,-G%C3%AAnesis.html>

In God we trust!