Juliano Roberto de Oliveira
Leio hoje pela manhã um artigo do economista Paul Cwik, professor de economia e finanças da universidade de Mount Olive. O economista inicia seu artigo com a descrição de como a cultura woke (a cultura da turma ESG e do Great Reset) se aproveitou de algumas características do ser humano para impor, sutilmente, sua agenda totalitária.
O ser humano, sempre que possível, evitará esforços que considera dispensáveis. Não que seja preguiçoso, diz o professor, mas porque a tomada de decisões baseada na relação “esforços versus benefícios” é algo inerentemente humano. Quando analisam a quantidade de esforços necessários para a obtenção de dado benefício e chegam à conclusão de que o benefício não é capaz de recompensar seus correspondentes esforços, as pessoas simplesmente optam pelo caminho mais cômodo. Parece óbvio, não? Este fenômeno se aplica, por exemplo, ao caso de eleições de conselhos de administração de grandes empresas (hoje tomados por CEO’s cujas ações são guiadas por pautas woke). Aplica-se também ao caso de eleições para cargos políticos. Se meu voto, numa democracia, não conta muito e, se ao fim, prevalecerá a vontade de uma maioria influenciada pela academia e pela grande mídia, haveria razão para algum esforço em torno de pesquisas sobre quais candidatos participam de um pleito e as pautas que defendem? Dir-nos-ia a lógica que não. Não faz nenhum sentido. É neste contexto que os ativistas woke têm reproduzido suas narrativas e, coercitivamente, reestruturado toda uma forma de cultura e comportamento. Tornamos as coisas mais fáceis para a propagação do wokismo e de suas medidas autoritárias quando colocamos nossas decisões em suas mãos (a turma do isencionismo, os famigerados insentões que ganharam notoriedade na arena da política brasileira, deve entender bem disto).
Outro artigo que segue a mesma linha é o do escritor libertário e pesquisador sênior do Austrian Economic Center in Viena, Áustria, Jeffrey Tucker (os artigos de Tucker são sempre uma fonte inesgotável de sabedoria e de uma leitura honesta dos fatos, a propósito). Ao analisar a proibição das sacolas plásticas pelo estado, Tucker nos adverte de como fomos tomados de assalto pela cultura woke que deseja, sem nenhuma discrição, destruir a felicidade alheia. Para dar destaque à sua mensagem, em dado momento, o autor nos leva a refletir sobre como éramos felizes quando saíamos dos supermercados carregando as sacolas plásticas que suportavam, facilmente, 100 quilos de mantimentos. A nossa felicidade e a nossa liberdade de escolha, porém, sempre serão o alvo de gente amarga, sinalizadora de virtudes, que apregoa boa vontade e bom mocismo enquanto coloca em torno de nossos braços um par de algemas que limite a nossa felicidade e condicione nosso comportamento à sua incontrolável vontade de “salvar o planeta”.
Para cobrir sua análise de cientificidade Tucker apresenta dados de um estudo conduzido pelo Freedonia Research Group que comprovam que as sacolas não descartáveis atualmente utilizadas para o transporte dos mantimentos possuem muito mais plástico que as velhas sacolas fornecidas pelos supermercados e que, não raro, são usadas por duas ou três vezes apenas para, logo após, serem trocadas. Seu impacto ambiental? O aumento da emissão de gases de efeito estufa em 500% (o artigo original completo está aqui).
Adicionalmente o autor aponta a hipocrisia desta gente que odiaria morder um único pedaço de carne ou pão que estivesse à venda num mercado a céu aberto (cujo ambiente fosse tomado por moscas), mas não abre mão das embalagens plásticas em que os produtos que consomem são acondicionados, as quais lhes garantem produtos limpos e frescos. A este respeito, diz o autor:
“Afinal, a maior parte do plástico relacionado ao supermercado vem dos próprios produtos. Pense nisso. Cada pedaço de carne, tudo feito de pão, cada caixa tem um plástico dentro para frescor, e até mesmo seus legumes são colocados em sacos para levá-los ao balcão. Todo o lugar é uma meca de plástico. Quanta diferença as sacolas de transporte realmente fariam?”
Não obstante os cenários aqui narrados e apresentados por ambos os autores, Paul Cwik mostra ainda certo otimismo em relação às ideias da liberdade e, portanto, frontalmente opostas às coerções da agenda ambientalista que muito pouco tem, de fato, de ambiental. Para o autor, grupos de estudos, associações voluntárias, a postura corajosa e, acima de tudo, a leitura e a dedicação ao conhecimento dos fundamentos da liberdade (notadamente a dedicação à busca pelo conhecimento das mensagens e teorias difundidas pela Escola Austríaca de Economia) serão capazes de preparar um verdadeiro exército de intelectuais aptos a travar uma “guerra” no campo da cultura contra a servidão a que somos submetidos diariamente. “Planejo iluminar minha luz e as Luzes da Liberdade dentro de meus alunos e daqueles ao meu redor. Você vai se juntar a nós”? Eis a pergunta com a qual o economista conclui sua defesa otimista de um movimento liberal.
Como o autor, também penso que a defesa da liberdade, diferentemente da imposição da servidão, não pode ser centralizada. É um movimento que depende de esforços e talentos individuais. Como professor de economia já tive várias e variadas oportunidades de discutir com meus alunos os benefícios do livre mercado, da propriedade privada e a importância do indivíduo para o florescimento de uma nação e uma sociedade ricas e prósperas. É um esforço hercúleo, porém. Ocupar os espaços tomados pela cultura woke exige muita resiliência. A respeito disto, lembro-me de quando fui convidado a palestrar a uma turma de jovens alunos a respeito de macroeconomia e políticas internacionais. Foi um momento vibrante. Vi nos olhos de muitos dos presentes um brilho característico de quem é exposto a verdades que não são facilmente encontradas nos livros fabricados pela educação estatal. Não obstante, foi uma experiência pontual da qual consegui extrair três importantes lições: 1) parte de nossos jovens já foram convencidos de que a política assistencialista é necessária e que, sem o estado, o mundo estaria mergulhado em completo caos; 2) outra parte, numericamente superior, deseja ouvir sobre as ideias da liberdade e anseia por um mundo em que prevaleçam a meritocracia e a liberdade capazes de catapultar indivíduos para perto de seus objetivos individuais e 3) nossas entidades, como dito por Cwik, estão sob a direção de pessoas cuja gestão está alinha à cultura woke (embora, em grande parte, não seja possível saber se este é um fenômeno que define a crença de nossos gestores corporativos ou se eles estão, simplesmente, rendendo-se à cultura para evitar dores de cabeça e um possível estado de ostracismo profissional).
* Em 25/02/2024
** O autor, Juliano Roberto de Oliveira, é Bacharel em Administração de Empresas – FAI, Especialista em Qualidade e Produtividade – UNIFEI, Mestre em Eng. da Produção - UNIFEI