• Christian Gomez
  • 13/07/2016
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O JIHAD VERMELHO RUSSO

 

(Publicado originalmente no The New American, 02 outubro de 2012).
[http://www.thenewamerican.com/world-news/asia/item/13069-russian-red-jihad].
Tradução. Bruno Braga.

Em um recente e exclusivo artigo para o World Net Daily [1], Ion Mihai Pacepa, ex-Tenente-General do serviço de inteligência do bloco soviético romeno, escreveu como a recente onda de radicalismo islâmico no Oriente Médio, da Primavera Árabe aos ataques em Bengasi, não foram obras de ataques espontâneos, mas resultado de uma operação planejada cuidadosamente por décadas pela União Soviética.

Em julho de 1978, o Presidente americano Jimmy Carter concedeu asilo político ao Tenente-General Pacepa, que tornou-se um cidadão dos Estados Unidos. Pacepa é o oficial de inteligência de mais alta patente que já desertou do bloco Soviético. Ele auxiliou a CIA e recebeu dela elogios por fornecer "uma contribuição importante e única para os Estados Unidos".

No seu artigo, Pacepa observa que "o dia do assassinato do nosso embaixador, 11 de setembro de 2012, foi o dia em que o Kremlin celebrou um aniversário significativo - 125 anos do nascimento de Feliks Dzerzhinsky, fundador da KGB, nomeada agora FSB". Pacepa continua:
"Minha experiência no topo do grupo de inteligência do bloco Soviético me dá uma base sólida para afirmar que os ataques Muçulmanos contra as embaixadas americanas e o assassinato do nosso embaixador na Líbia, levados a cabo com lançadores de granadas de fabricação soviética, Kalashnikovs e coquetéis Molotov, são tão 'espontâneos' quanto as paradas das Festas de Maio, em Moscou - e que eles têm os mesmos organizadores".

Comunista inspirado fora da Rússia? É exatamente o que Pacepa quer afirmar. Ele cita um encontro pessoal, em 1972, com Yuri Andropov, então presidente da KGB, no qual Andropov traçou um plano soviético secreto para fermentar revolução no mundo Islâmico utilizando propaganda anti-Americana e anti-Semita, o que incluía os "Protocolos dos Sábios de Sião", traduzido para o Árabe e disseminado pelo Oriente Médio.

"A idéia era pintar os Estados Unidos como um país Sionista, belicista, financiado com dinheiro judeu e dirigido por um ganancioso 'Conselho de Anciãos de Sião' (epíteto escarnecedor da KGB para o Conselho americano) com o objetivo de transformar o resto do mundo em um feudo Judeu", Pacepa relembra o que Andropov lhe disse.

Pacepa refere-se a Andropov como o "Pai do terrorismo internacional e do anti-Semitismo de hoje". Ele especialmente recorda:
"Andropov frisou que um bilhão de adversários poderia causar um dano maior do que apenas 150 milhões. Nem Maomé, disse ele, limitou sua religião aos países Árabes".
O chefe da KGB descreveu o mundo Muçulmano como uma placa de Petri, na qual nós poderíamos nutrir um tipo virulento de ódio contra os americanos, crescendo da bactéria do pensamento Marxista-Leninista. O anti-Semitismo islâmico é profundo, ele disse.

Pacepa falou especificamente sobre o seu papel no projeto:
"Antes de deixar definitivamente a Romênia, em 1978, o meu serviço de espionagem romeno - e apenas ele - tinha enviado por volta de 500 agentes secretos para vários países Islâmicos. A maioria deles era de agentes religiosos, engenheiros, médicos, professores e instrutores de arte. De acordo com uma estimativa recebida de Moscou, em 1978, o grupo inteiro de inteligência do bloco Soviético tinha enviado ao mundo Islâmico por volta de 4.000 agentes de influência desse tipo".

Ninguém sabe ao certo o grau de influência que tiveram tais esforços, diz Pacepa, mas "deve ter causado algum impacto". Um ano depois da comunidade de inteligência do bloco Soviético enviar 4.000 agentes de influência para o mundo Islâmico, os revolucionários muçulmanos derrubaram o Xá no Irã, invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã, fazendo reféns americanos.

Desde então os Estados Unidos tiveram que lutar contra o terrorismo Islâmico, especialmente contra o Hezbollah e a al-Qaeda. Em 1983, o Hezbollah se apresentou ao mundo bombardeando o quartel da Marinha americana, em Beirute. Dez anos depois, o Hezbollah promoveu ataques terroristas no edifício da Associação Mutual Argentina Israelita, em Buenos Aires, Argentina.

O terrorismo logo atingiu a costa dos Estados Unidos, quando Osama bin Laden e sua rede al-Qaeda bombardearam o World Trade Center, em Nova Iorque, pouco tempo depois da destruição das embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia. Em 2000, a al-Qaeda atacou o "Cole", destroyer da Marinha americana. Em 2001, eles orquestraram os ataques terroristas de 11 de setembro no continente americano. O terrível ataque resultou na destruição de quatro aviões comerciais, destruição das Torres Gêmeas, graves danos ao Pentágono e a perda de aproximadamente 3.000 vidas americanas.

O terrorismo islâmico tem custado caro aos Estados Unidos, mas pode-se dizer com precisão que ele, pelo menos em parte, é resultado de operações Soviéticas secretas?

Os críticos dessa teoria descartam rapidamente a noção de colaboração entre Muçulmanos e Soviéticos, citando a aparente incompatibilidade entre comunismo-ateísmo e Islã. Mas um estudo diligente sobre o Islã na União Soviética revela uma história altamente relevante, embora pouco conhecida, especialmente à luz do recente caos no Oriente Médio.

O poder soviético e o Islã.

Em 1984, a agência de imprensa Novosti, em Moscou - controlada pelo Partido Comunista - publicou um pequeno folheto, intitulado "Poder Soviético e Islã" ["Soviet Power and Islam"]. Esse folheto detalhava a história da colaboração Soviética-Muçulmana, começando com a infame Revolução de Outubro de 1917. Muçulmanos da Rússia Central e Oriental apoiaram inicialmente Lênin e sua Revolução Bolchevique contra o governo do Tsar - visto por eles como anti-Islâmico. O folheto cita a seguinte declaração do Conselho Muçulmano da Rússia, e tem a data de 15 de setembro de 1923:
"Pela infinita misericórdia de Allah, a revolução que tem lugar na Rússia eliminou a cruel e despótica autocracia que perseguia a religião do Islã".

Em 25 de outubro de 1926, o Congresso Pan-Russo do Clero Muçulmano - patrocinado pelos Soviéticos - foi aberto com o seguinte telegrama, endereçado ao Partido Comunista da União Soviética:
"Em nome de todos os Muçulmanos, o Congresso expressa gratidão e devoção ao poder Soviético, o defensor do povo oprimido do Leste, e se compromete a apoiar as medidas do governo Soviético para consolidar as conquistas da revolução".
A União Soviética organizou Conselhos Muçulmanos especiais, que eram responsáveis pela "Supervisão das mesquitas e orientação da vida espiritual dos muçulmanos na URSS", de acordo com o folheto. Os Conselhos Muçulmanos incluíam:
. O Conselho Muçulmano da Ásia Central e Casaquistão, com sede em Tashkent;. O Conselho Muçulmano da Sibéria e da Parte Européia da URSS, com sede na cidade de Ufa;. O Conselho Muçulmano do Norte Cáucaso e Daguestão, com sede em Makhachkala;. O Conselho Muçulmano da Transcaucásia, com sede em Baku.

A devoção dos Muçulmanos ao poder Soviético torna-se mais evidente em 1970, quando os países Árabes se lançam na guerra contra Israel:
"Depois da quarta guerra Árabe-Israelense, em outubro de 1973, os líderes das instituições religiosas Muçulmanas da União Soviética convocaram uma conferência para os dias 13 e 14 de novembro, 1973, sob o lema 'Pelo apoio à justa luta dos povos das nações Árabes pela Libertação dos seus Territórios, pela Independência Nacional e Progresso Social'".

A conferência contou com a presença de delegados do Egito, Iraque, Líbia, República Árabe do Iêmen e do Kuwait. Ela também adotou um "Apelo a todos os Muçulmanos e Povos de Boa Vontade", que declarava:
"Nós, Muçulmanos da União Soviética, expressamos nossa completa solidariedade para com os fraternais povos Árabes que lutam pela unidade, liberdade, independência e soberania nacional de seus países. De acordo com o nosso dever religioso, insistimos no estabelecimento da justa e definitiva paz no Oriente Médio - a terra sagrada dos seguidores de várias religiões. Para promover o estabelecimento de tal paz, exigimos a implementação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, de 22 de outubro de 1973, a retirada imediata e incondicional das tropas Israelenses de todas as terras Árabes ocupadas, e o reconhecimento dos direitos legítimos do povo Árabe da Palestina para determinar o seu próprio futuro".

Essa noção de auto-determinação tinha sido a chave histórica para as revoluções e insurgências apoiadas pelos soviéticos na China, Cuba, Vietnã, Nicarágua, El Salvador, Uruguai e Angola. Percebendo a natureza particular do Oriente Médio, a União Soviética sabia que não podia depender do tradicional Marxismo-Leninismo ou do rosto branco russo para fermentar a revolução anti-Capitalista e anti-Ocidental. Por isso, o Kremlin adaptou a sua retórica a um tom mais Islâmico e utilizou os Muçulmanos que já viviam na União Soviética.

O folheto citou a seguinte declaração, feita por Kazi A. Kolonov, um representante do Conselho Muçulmano da Ásia Central e Cazaquistão, em nome dos fiéis e do clero Muçulmano do Tajiquistão:
"Os Muçulmanos acolhem a nova [1977] Constituição da União Soviética, que em cada linha mostra distintamente uma preocupação com o homem. Eles estão completamente satisfeitos com o seu sábio conteúdo e grande humanismo. Nós a aprovamos completa e irrestritamente".
Conexão do Terror Soviético-Muçulmano.

Outra publicação que fornece informação relevante sobre a penetração Soviética e a exploração do Islã para promover a revolução é "New Lies for Old", escrita em 1984 pelo desertor da KGB Anatoly Golitsyn.

Antes de desertar para o Ocidente, em 1961, Golitsyn serviu como membro do ultra-secreto Departamento D da KGB, que trabalhava com desinformação de longo alcance. O Departamento D era subordinado apenas ao Comitê Central do Partido Comunista e tinha "acesso aos ramos executivos do governo e aos departamentos do Comitê Central para permiti-lo preparar e conduzir operações que requeriam a aprovação e o apoio da liderança do partido", disse Golitsyn.

Golitsyn também confirmou a colaboração Soviética para o mundo Muçulmano ser utilizado como instrumento de guerra contra o Ocidente:
"Em março de 1965, a Primeira Conferência de Muçulmanos da Ásia e da África foi realizada em Bandoeng. 35 países estavam representados. O Mufti da Ásia Central e Cazaquistão, Babakhanov, chefiou a delegação soviética. A conferência discutiu a utilização de sociedades de proselitismo muçulmano como arma contra o imperialismo. A necessidade de aproveitar o Islã para servir a revolução tinha sido abertamente discutida pelos estrategistas comunistas. Com base na experiência soviética na Ásia Central, o problema de conseguir isso era difícil, mas solúvel".

Ele também explicou as raízes por trás do patrocínio soviético do terrorismo:
"O objetivo da violência é criar caos e anarquia, impor pressão adicional sobre os partidos democráticos governantes, eliminar seus líderes mais competentes, forçá-los a recorrer a medidas anti-democráticas e mostrar para o público a inabilidade deles para manter a lei e a ordem, deixando o campo aberto para o partido comunista legal se apresentar como a única força alternativa efetiva".

Além de Golitsyn, o General Alexander Sakharovsky, chefe da Diretoria Principal da KGB (responsável pela inteligência internacional de 1956 a 1971, disse, "no mundo de hoje, em que as armas nucleares tornaram obsoleta a força militar, o terrorismo deve ser nossa principal arma".

Considerando as evidências de Golitsyn e Sakharovsky, temos muitas razões para acreditar que o jogo final de Moscou para o terrorismo Islâmico foi o estabelecimento do comunismo. No "Relatório do Comitê Central do PCUS" para o XXVI Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o líder Soviético Leonid Brezhnev disse para a assembléia de delegados do Partido Comunista, "a bandeira do Islã pode levar à guerra pela libertação".

Esta é ainda a política da Rússia? Pouco antes de ser assassinado por envenenamento de polônio, em 2006, Alexander Litvinenko, desertor da KGB/FSB, disse: "O centro do terrorismo global não está no Iraque, no Irã, Afeganistão ou na República Chechena. A contaminação do terrorismo rasteja dos gabinetes da Praça Lubyanka e do Kremlin para o mundo todo".

Praça Lubyanka refere-se à sede da KGB, agora FSB. Em 2008, o Tenente-Coronel Konstantin Preobrazhensky, desertor russo da KGB/FSB, publicou o livro "KGB/FSB's New Trojan Horse: Americans of Russia Decent". Nele, Preobrazhensky observa que, diferente das apolíticas CIA ou MI-6 britânica, a FSB "é um departamento do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética".

Ele descreve a FSB como uma "unidade armada" do Partido Comunista que permaneceu intacta após a reestruturação da União Soviética, em 1991, na moderna Federação Russa. "A FSB e o Partido Comunista compartilham as mesmas ideias". Preobrazhensky escreve: "os chequistas [nome dado aos oficiais da KGB/FSB] até hoje permanecem Comunistas nos seus corações".

Um "chequista" bem conhecido ou ex-agente da "unidade armada" do PCUS é Vladimir Putin, o atual Presidente da Rússia, um admirador de Yuri Andropov.

Andropov foi o chefe da KGB de 1967 a 1982, e contou pessoalmente ao Tenente-Coronel Pacepa sobre a necessidade de utilizar o mundo Islâmico, especialmente o Oriente Médio, para incitar o sentimento anti-Americano e anti-Israelense em prol da revolução Marxista-Leninista.

Os motivos próprios de Putin podem ser deduzidos da declaração que ele fez em 2005, como Presidente: "O colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século".

No seu segundo livro, "The Perestroika Deception", publicado em 1995, Anatoly Golitsyn escreveu: "Quando chegar o momento certo, as máscaras serão retiradas e os Russos - com a ajuda dos Chineses - irão impor com as suas próprias condições o seu sistema ao Ocidente. Será a culminação da 'Segunda Revolução Socialista de Outubro'".

Com o Oriente Médio submerso numa revolução Islâmica em curso, só resta aguardar para ver qual será o resultado de tudo isso. Mas uma coisa é certa, conforme os relógios se aproximam de 2017 - marcando o Centenário da primeira Revolução Socialista de Outubro - não se deve descartar o papel da Rússia.


REFERÊNCIAS.

[1]. PACEPA, Ion Mihai. "A brand new cold war". WND, 23 de setembro de 2012 [http://www.wnd.com/2012/09/a-brand-new-cold-war/].

ARTIGO RECOMENDADO.

GOMEZ, Christian. "As raízes russas do Estado Islâmico". Trad. Bruno Braga. The New American, 09 de março de 2015 [http://b-braga.blogspot.com.br/2016/04/as-raizes-russas-do-estado-islamico.html].
Postado por Bruno Braga às 11:13 AM