Seria bom se isso fosse apenas uma especulação. No entanto, isto é história. Passada e presente.
Como temos dito o Manifesto Comunista é apenas uma síntese do pensamento marxista. Nele é possível conhecer ao menos em resumo o que pensa o socialismo sobre vários assuntos. Por sua síntese o conhecereis. Logo, não podemos esperar daqueles que o consideram uma exposição de verdades qualquer simpatia com o cristianismo. Nele está escrito:
Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a, moral, em lugar de lhes dar uma nova forma e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior.[1]
Se uma ideologia diz que quer abolir verdades eternas, religião e moral ela está declarando abertamente uma guerra ao cristianismo, porque ele proclama verdades eternas, é uma religião e apresenta um código moral. Nada mais lógico.
E quando essa ideologia se apossa do Estado e de seus recursos bélicos, com certeza levará esse conflito da esfera do pensamento para esfera da realidade física e social. Em outras palavras, se as ideias do Manifesto se concretizam, o ataque aos cristãos é inevitável.
Seria bom se isso fosse apenas uma especulação. No entanto, isto é história. Passada e presente.
A rejeição de qualquer tipo de religião pelo marxismo é uma necessidade de sua própria natureza. Como definiu James W. Sire em O Universo ao lado, o marxismo é o naturalismo na prática, uma visão do mundo sem espaço para Deus ou para qualquer coisa que não seja matéria. Se o cristianismo está certo, então o marxismo está errado e isso, segundo os seguidores de Marx, seria inconcebível.
“Posso entender”, escreveu um pastor que passou anos sendo torturado por sua fé, “Posso entender que os comunistas prendam padres e pastores como contra-revolucionários. Mas por que os padres foram forçados a dizer a missa sobre excrementos e urina, na prisão romena de Piteshti? Por que cristãos foram torturados para tomarem a comunhão com esses mesmos elementos? Por que a obscena zombaria da religião?” (Era Karl Marx um satanista?, p. 47). Respondo. Porque ele é anticristão em sua essência.
Marx era ateu muito antes de ser comunista.[2] “Numa só palavra: odeio todos os deuses”, escreveu ele em sua tese de doutorado.[3] E fez do ateísmo o fundamento para o seu socialismo. Por isso comunismo tornou-se sinônimo de perseguição religiosa e a morte aos cristãos ainda é uma realidade nos países que conservam a ideologia comunista[4]. Todo esse ódio concreto dos governos ao cristianismo tem como fonte o ódio concreto do próprio Marx. “Para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais imorais que existe”[5]
Lênin, que pôs em prática o pensamento marxista dizia que “toda ideia religiosa é uma abominação”. E acrescentava:
A guerra contra quaisquer cristão é para nós lei inabalável. Não cremos em postulados eternos de moral, e haveremos de desmascarar o embuste. A moral comunista é sinônimo da luta pelo robustecimento da ditadura proletária.[6]
Se a educação foi se tornando cada vez mais antirreligiosa e cada vez mais anticristã, devemos isso, em boa parte, ao marxismo. É quase impossível hoje fazer um curso em uma universidade sem ser inoculado com uma forte dose não de mero ateísmo, mas de um anti teísmo doentio que responsabiliza o cristianismo por todos os males da humanidade.
Os detentores das cátedras de história, geografia, direito, sociologia, psicologia, filosofia, política e mesmo matérias aparentemente inócuas, fazem ataques constantes aos cristãos. Não admira o grande número de ateus na faixa etária pós faculdade.
Quer um exemplo de educação marxista antirreligiosa?
A escola soviética, constituindo instrumento para dar educação comunista às gerações, não pode, por princípio, ter outra atitude em face da religião que a de luta intransigente. A base doutrinal da educação comunista é, com efeito, o marxismo, e ele é inimigo irredutível da religião. O marxismo é materialismo, disse-o Lenin; como tal, impiedoso inimigo da religião, à exemplo dos enciclopedistas do século XVIII ou do materialismo de Feuerbach.[7]
O anticristianismo marxista não é acidental. Ele é essencial. Não é um desenvolvimento pós Marx. É o próprio Marx despejando seu ódio anticristão sobre os que acreditam em Deus. “Desejo vingar-me Daquele que governa lá em cima”, escreveu ele em um de seus poemas da juventude. Como muitos ateus, ele dizia não crer em Deus, mas o odiava por via das dúvidas. E esse ódio foi e continua sendo a causa do sangue cristãos, derramado através do mundo e da história.
Para abolir as verdades eternas, a religião e a moral, conforme diz o Manifesto Comunista, o comunismo persegue, prende, tortura e mata desde o primeiro momento em que chegou ao poder. Assim foi, é e será. Não podemos como cristãos esperar nada melhor da parte dele.
[1] MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global Editora, 1986, p. 35
[2] ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulus, 1991, p. 123.
[3] WILSON, Edmund. Rumo à estação Finlândia. São Paulo: Companhia das Letrs, 2006, p. 147.
[4] MARSHALL, Paul, GILBERT, Lela e SHEA, Nina. Perseguidos – o ataque global aos cristãos. São Paulo: Mundo Cristão, 2013, pp. 35-74
[5] MCLELLAN. David. Karl Marx – Vida e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 54
[6] V. Souvenirs, de Clara Zetkine sobre Lenine, 1929.
[7] E. I. Petrovsky. L.Éducation athée à l’école – Sovietskaia pedagógica, 1955, nº 5
Pastor, jornalista, professor de teologia e história no Vale da Bênção. Palestrante nas áreas de apologética, seitas, escatologia, Israel e vida matrimonial. Colaborador da Bíblia Apologética de Estudos. Articulista das revistas Povos e Apologética Cristã. Criador do curso de Apologética Aplicada pela FAETESF e locutor da rádio Saber & Fé. Autor dos livros Lições de Amor e Novas Lições de Amor (casais), Israel Povo Escolhido, Visitação de Deus e Quem é o Perdido?