LULA REFOGADA EM FOGO BRANDO; OU, COMO PRENDER O CHEFÃO
(Publicado originalmente em http://professorpaulomoura.com.br/)
O apoio que Lula tem junto ao petismo é o último baluarte de sustentação do governo Dilma. A presença do PT no governo é o último baluarte do poder que o petismo ainda tem. Sem a sustentação de Lula, Dilma cai. Sem a presença no governo o PT definhará. Viciados na droga do poder, o petismo não sobreviverá à síndrome de abstinência dos cargos públicos.
Enquanto alguns comentaristas e editorialistas da imprensa alardeiam que Lula desejaria ir para a oposição e entregar a gestão da crise que ele criou para um adversário, o chefe do PT movimenta-se freneticamente para impedir o impeachment de Dilma e melar a operação Lava Jato.
Por um lado, há a tentativa de tirar o julgamento dos acusados pela operação Lava Jato das mãos do juiz Sérgio Moro, distribuindo-o para outros juízes e soltando indiciados mantidos presos em Curitiba há meses.
Por outro, Lula manda o PT atacar Eduardo Cunha com a mão esquerda, ao mesmo em que estende a mão direita para o presidente da Câmara, oferecendo-lhe proteção para preservar seu mandato e o foro privilegiado, e sabe-se lá, que compensações pela perda do dinheiro que mantinha em suas contas recém descobertas na Suíça.
Os movimentos de Lula, ao mesmo tempo em que conferem fôlego ao governo Dilma e problemas à condução da operação Lava Jato pelo juiz Sérgio Moro não estão imunes ao contra-ataque. Observe-se, por exemplo, como Moro reagiu à soltura de Alexandrino de Alencar encaminhando novo pedido de prisão de Marcelo Odebrecht e antecipando-se à virtual tentativa de soltá-lo.
Ao mesmo tempo, tudo indica, Moro prepara, a resposta mais decisiva e importante que poderia dar às artimanhas do petismo para livrar Dilma do impeachment e os réus da Lava Jato da cadeia: a prisão de Lula.
Por que, com tudo que já se sabe, Lula ainda não foi preso?
Essa é a pergunta que se fazem onze entre dez cidadãos que têm ido às ruas em defesa da liberdade, da democracia e do impeachment de Dilma.
Porque esse é um tiro que o juiz Sérgio Moro não pode errar. Ou seja, para avançar essa peça decisiva no tabuleiro da Lava Jato, Moro precisa ter provas e certezas sobre sua consistência. Mas, isso não tem sido problema para o juiz do Paraná.
A questão principal não é esta. A prisão de Lula tem pelo menos duas implicações de enorme significado e importância.
A primeira delas reside no fato de que ao prender o principal líder do PT, que foi um presidente da República extremamente popular, Moro o fará para provar que, ao contrário do que argumenta a abancada do PT no STF, todo o esquema de assalto aos cofres públicos envolvendo a Petrobrás, a Eletrobrás, o BNDES, e, provavelmente todo o governo federal sob gestão petista, é prática de uma e somente uma quadrilha, que tem um e somente um chefão.
A segunda decorre do fato de que, não obstante as provas e evidências abundantes que jorram do noticiário todos os dias sobre as práticas criminosas do petismo no poder, Lula é objeto de uma devoção religiosa e irracional por parte de expressiva parcela dos seus devotos. E não estou falando aqui dos beneficiários do Bolsa Família. Falo de petistas que passaram pelos bancos escolares, inclusive de universidades, e que, simplesmente, se recusam a aceitar a realidade.
Gente assim, acredita que Sérgio Moro e os procuradores e delegados da Polícia Federal que conduzem a Lava Jato não passam de conspiradores a serviço do PSDB; que a imprensa livre que noticia os crimes do petismo integra uma conspiração da elite branca contra o partido que permitiu aos pobres andar de avião; que os crimes da Lava Jato não existem ou que, no mínimo, se justificam, pois se tratava de forma legítima de financiar a causa. Gente assim pode reagir de forma irracional e violenta à prisão de seu ídolo.
A prisão de Lula representará um golpe definitivo no petismo, tanto por razões jurídicas e policiais, como por razões políticas. Portanto, todos os cuidados e precauções que o juiz Sérgio Moro tiver na condução desse movimento decisivo para o sucesso do seu trabalho se justificam. E, quero crer, nos aproximamos do momento em que Moro decretará a prisão do capo do PT.
Por que? Porque há algum tempo já, a imprensa vem sendo abastecida com informações sobre as nebulosas relações de Lula com as empreiteiras da Lava Jato. No início a imprensa revelava os contratos de Lula como palestrante, seus valores e informações sobre eventual prática de tráfico de influência do ex-presidente, que teria usado seu poder sobre órgãos do governo Dilma para arrancar financiamentos do BNDES para seus clientes ou vender decisões governamentais em benefício de empresas ou segmentos empresariais que sustentam seu poder em troca de favores.
Mais recentemente as revistas e jornais começaram a revelar pagamentos suspeitos aos filhos e à nora de Lula. Igualmente soube-se que em seu depoimento ao Ministério Público de Brasília, Lula teria admitido que repassou a um ministro do governo Dilma, uma carta do governo cubano solicitando financiamento ao BNDES, revelando que as alegações do chefe do PT, de que atuava apenas como palestrante a serviço das empreiteiras pode não ser bem assim.
Não é de todo improvável que, os vazamentos gradativos de informações cada vez mais graves sobre a forma como Lula fazia seus negócios, obtinha contratos milionários e se remunerava por suas “palestras”, façam parte de uma inteligente estratégia para acostumar a opinião pública e os fiéis devotos de Lula com a ideia de que a prisão do chefe do PT é inevitável.
Não é de todo improvável, também, que, para estar vazando informações sobre repasses feitos a um sobrinho, aos filhos e à nora de Lula e sobre a atuação de José Carlos Bumlai, amigo íntimo e possível operador do ex-presidente, os investigadores da Lava Jato já tenham evidências e provas bem mais consistentes sobre o eventual envolvimento do próprio Lula no comando central do maior assalto aos cofres públicos de que sem tem conhecimento na história das democracias ocidentais.
A prisão de Lula, como se vê, não é algo simples. É uma medida que requer cuidados técnicos na condução do inquérito e suas investigações, mas, também, cuidados políticos. Além de produzir provas consistentes, faz-se necessário acostumar a sociedade e o petismo com a ideia de que a prisão do chefão é decorrência natural, óbvia e incontestável de seu envolvimento nos crimes investigados. E, tudo indica, Sérgio Moro está fazendo a coisa certa.