Muitos segmentos da sociedade brasileira ainda estranham o povo evangélico. E torcem o nariz para essas pessoas de Bíblia sob o braço, que vão ao culto e pagam o dízimo. Há poucos dias, li artigo de uma jornalista ateia que se sentiu hostilizada por um taxista. Ele insistira em convencê-la sobre Deus. A lógica do mundo torna realmente difícil compreender a entrega do crente.
Ocorre que evangelizar é da essência de um cristão, seja evangélico ou católico. “Ide e evangelizai”, disse o próprio Jesus Cristo. Logo, quem é religioso sempre buscará aproximar o outro de Deus. Afinal, esse é o seu maior tesouro espiritual. Quando profetiza, portanto, o crente faz um gesto de amor, não de hostilidade. Entrega o melhor de si.
Quem não entende isso terá dificuldade de conviver num país verdadeiramente laico, onde as pessoas podem exercer livremente sua religiosidade ou seu ateísmo. Ou irá propor, como fez a senadora Marta Suplicy, um projeto que quer limitar as manifestações religiosas apenas para dentro dos templos. Como se a rua fosse propriedade do silêncio de quem crê e da estridência de quem descrê. Como se a louvação a Deus merecesse ficar encarcerada.
Há exageros e preconceitos por parte de cristãos, sem dúvida. Há abordagens infrutíferas e inoportunas. Há muitos enganadores e enganados no mundo da fé. Mas a ação dos evangélicos é pacífica e virtuosa em essência. Basta ver o que fazem nos presídios, ou debaixo das pontes, ou nas casas de recuperação de dependentes químicos, ou nas ruelas mais esquecidas do país. O mesmo pode ser dito dos católicos. Os gestos de fraternidade superam, em muito, eventuais hostilidades ou despautérios verbais.
Por outro lado, é fácil perceber uma tentativa de rotular a toda espécie de religiosidade como algo ultrapassado ou intelectualmente inferior. Uma onda politicamente correta, com ares de superioridade cultural, tenta transformar o mundo da religião num subproduto civilizatório. E, para isso, vale-se de exceções ou de caricaturas que ajudam a criar clichês e preconceitos fáceis de repetir e de ridicularizar.
Mas é no Brasil, por exemplo, que um grupo de manifestantes enfiou crucifixos e imagens sagradas em suas partes íntimas durante a visita do Papa. É aqui também que um grupo humorista, o Porta dos Fundos, escolheu desrespeitar o cristianismo sistematicamente. Também é neste país que grande parte dos operadores culturais trata carolas como devassas, padres como proxenetas e evangélicos como desmiolados.
Mesmo que, como católico, desgoste desses atos, defenderei sempre o direito de que tais manifestações artísticas e de opinião possam existir livremente _ respeitados os limites da lei e da democracia. Porém, o cristão também tem igual direito de achar ruim, de mudar de canal ou de deixar de comprar. E, sim, de profetizar! Afinal, evangelizar não é crime _ pelo menos por enquanto.
Cleber Benvegnú, advogado e jornalista