• Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 15/08/2018
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DEBATES DEVERIAM SER OBRIGATÓRIOS


 A propaganda eleitoral de 2018 se aproxima e, juntamente com ela, pesquisas sinalizando que os brasileiros aceitam melhor os debates do que o horário apelidado de gratuito. Esse decididamente não convence mais. De tanto ser ouvido e repetido por semanas a fio, fica esvaziado em forma, conteúdo e sentido. Prova disso é que a curiosidade natural da primeira semana vai cedendo lugar ao enfado, culminando num alívio quando as exibições se encerram e a programação retorna ao normal.

  De outra parte, mesmo que eleições sejam acontecimentos indispensáveis, as pessoas não estão dispostas a conversar sobre as candidaturas. Elas sabem que a vida rodada na publicidade das campanhas não é, nem de longe, aquela que acontece no dia-a-dia. Diante de dois Brasis, o desafio está em convencê-las de que somente escolhas refletidas é que poderão atenuar as distorções do cotidiano. O progresso do país depende desse convencimento.

  Respeitados por estudiosos e analistas, os debates são modalidades de comunicação que melhor se contrapõem ao desfile de palpites rasos e candidatos sofríveis que amesquinham a propaganda eleitoral. Somente o confronto entre propostas é que pode despertar algum interesse pelas eleições. Visando conferir fôlego às exposições de rádio e televisão, alguns projetos de lei buscam inserir uma regra tornando obrigatória, e não facultativa, a realização desses encontros entre candidatos a presidente, senador, governador e vices.

Não se imagina que os debatedores tenham respostas prontas para todas as questões ou que predomine a linguagem erudita. Pelo contrário. Objetividade e clareza são suficientes, assim como aqueles momentos de polarização e divergência rompem o script rotineiro. O ideal mesmo seria que tivessem honestidade para abordar temas tabus ou aflitivos.

Inequivocamente, se forem comparados com espaços onde predominam coreografias e teatralidades, debates são eventos que estimulam o senso crítico ao permitir que candidatos externem propostas com mais autenticidade e menos subterfúgios. Neles, os imaturos ou com dificuldade de conviver com divergências cambaleiam. É também um instante para pretendentes em inferioridade nas pesquisas convencerem indecisos. Portanto, se houver desvantagens resultantes das mudanças que preconizam a sua obrigatoriedade, elas certamente serão inferiores às vantagens. A democracia agradeceria.

*Advogado e professor de Direito Eleitoral