Percival Puggina
Uma coisa dessas só acontece no Brasil e sob a lona do circo montado no Congresso Nacional. A CPI da Covid vai contra tudo que a observação cotidiana me mostrou desde que o Centrão se formou durante o processo constituinte finalizado em 1989.
Faço essa afirmação porque, no decorrer dos últimos meses, o governo federal formou com o Centrão uma tão sorridente quanto farta e sequiosa base de apoio. Franqueou-lhe acesso às presidências da Câmara e do Senado, ministérios, fundações, cargos e outras regalias de que se faz a política sob a lona circense do parlamento nacional.
A partir daí, pense comigo. Certo mocinho enfezado de um partido nanico, que faz mais política no STF do que no Senado, resolve forçar a criação de CPI com o objetivo de produzir mais incômodos ao governo e mais combustível para o incêndio promovido pela mídia militante. O Centrão nem tenta brecar a iniciativa da oposição minoritária. Formada a comissão, – surpresa geral! –, a maioria de seus membros é oposicionista. Ou seja, a minoria cria uma CPI na qual se revela majoritária e seu presidente, supostamente governista, indica o notório Renan Calheiros para presidi-la.
Ora, se o Centrão majoritário não apoiar o governo neste ano de 2021, não será no ano que vem, com a eleição nacional e as eleições estaduais no foco das decisões partidárias, que irá produzir esse apoio.
Faço estas observações porque nas eleições do ano que vem, o foco dos eleitores conscientes deve mirar não só a esquerda tóxica, mas incluir na faxina democrática os negocistas do Centrão.