Percival Puggina
Entre os e-mails e demais mensagens que recebi após a publicação de meu artigo “Depois da hora mais grave”, havia o de uma leitora de muitos anos que, respeitosamente, se mostrou chocada com o teor do artigo. Não transcreverei integralmente o que ela escreveu afirmando rejeitar extremos e não ser petista nem ultradireitista.
O que a espantou? Com palavras dela: “Você inicia dizendo que as eleições foram manipuladas. Parei de ler ali, nesse primeiro parágrafo”. E, mais adiante: “Entrar nessa onda populista de manipulação da eleição, jamais esperei de um escritor inteligente como você”.
Transcrevo a seguir minha resposta, que imagino possa ser útil a outros leitores nestes dias que sucedem a “hora mais grave”.
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Prezada leitora.
Vamos tentar reduzir seu estado de choque, amiga.
A política se desenvolve (assim li em Olavo de Carvalho, com ele concordando) num ambiente cultural, num espaço onde se formam opiniões, sentimentos, informação, impressões, etc.. É aí que os eleitores decidem seus votos.
Eu nunca vi, nos últimos 50 anos, esse espaço ser tão manipulado! Nunca vi o jornalismo tão miserável, o Supremo tão protagonista, o TSE tão intrometido, abusivo; nem a liberdade tão restringida. Bolsonaro enfrentou um bandido sem passado, alma zero quilômetro, reconstruído por photoshop biográfico. A frase “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és” se tornou inaplicável ao candidato do PT, com suas parcerias tão apagadas quanto as condenações.
Ora, amiga, se isso não é manipulação, então não sei o que seja. Observe que não falei de urnas e de totalizações. Escrevi pensando nos algoritmos e robôs que durante meses atuaram no espaço digital como cães farejadores de palavras e expressões, e na estratégica contração da comunicação nas plataformas das redes sociais. Escrevi pensando nos direitos de resposta concedidos num zás-trás contra quem apenas dizia verdades, na indecente censura imposta "com todos os cuidados" pelo TSE, nos perfis bloqueados, nos inquéritos ameaçadoramente abertos para permanecerem abertos.
Ademais, escrevi pensando na exigência por "paridade de armas" na Jovem Pan, como se houvesse diversidade de opiniões na CNN ou na Globo, onde quem não afinava com o consórcio foi demitido há bom tempo. Tudo isso manipulou o ambiente eleitoral, sim, amiga. Só não vê quem não quer, e só discorda quem não entendeu o que viu.
O consórcio da imprensa com os tribunais e o amordaçamento das redes sociais por pressão do TSE sobre as plataformas fez o serviço. Muito bem feito, por sinal.
Não me queira mal. Abraço.