Percival Puggina
Comentários de leitores são uma fonte inesgotável de reflexões. A gente aprende com eles e (espera-se!) vice-versa. Este, me escreve longo comentário, na verdade um manifesto, exaltando o contingente de 32,2 milhões de “eleitores-cidadãos-contribuintes-consumidores” que se recusam terminantemente a sair de casa para se submeter ao voto obrigatório. Com justa razão critica o voto obrigatório, o sistema eleitoral, o sistema de governo, o Congresso e a dupla STF/TSE. Defende o parlamentarismo, o voto distrital e o recall. Diz que Lula perdeu longe para a soma dos votos de Bolsonaro aos dos que se abstiveram de votar; que pouco importa quem venceu.
É a mais eloquente defesa da abstenção que já li. Sinteticamente respondo-lhe a seguir.
***
Você é responsável, sim, meu caro. Inclusive por aquilo que condena. Ao se abster de votar, você deixa sem representação parlamentar suas pautas corretas e importantes sobre nossas jabuticabas institucionais e, de lambuja, entrega ao país à decisão dos 120 milhões que foram às urnas.
Você fala de uma verdadeira multidão (32,2 milhões é muita gente) que corresponde à quase totalidade dos eleitores do estado de São Paulo (34 milhões). Essa multidão, rigorosamente, não fez coisa alguma em favor do que pensa, do que quer, de si mesmo ou do Brasil. Zero! Nada! Voto facultativo é uma prerrogativa de quem não qualquer motivação cívica. Você tem!
Sua reação, contudo, é tão sem sentido, desculpe-me por dizer, que precisa de um e-mail personalizado para tentar explicar. Quando eu receber 32,2 milhões de mensagens explicando os motivos da omissão de cada um dos remetentes eu estarei convencido de ser verdadeiro, embora estéril, o protesto que, nome de todos, você afirma.
No Chile e na Colômbia o voto é facultativo. Em ambos os países, no segundo turno, os dois candidatos perderam para a abstenção. E daí? O que isso quer dizer? Qual o valor disso? Qual a contribuição dos eleitores ausentes ao bem de seus conterrâneos?
No Chile e na Colômbia o voto é facultativo. Em ambos os países, no segundo turno, os dois candidatos perderam para a abstenção. E daí? O que isso quer dizer? Qual o valor disso? Qual a contribuição dos eleitores ausentes ao bem de seus conterrâneos?
Pense nisso urgentemente. Em 2024 haverá eleições municipais. Não posso, por fim, deixar de ponderar que o Brasil será entregue a um pilantra, a Globo e os presídios festejam vitória, Alexandre de Moraes, se tudo ficar como está, sai consagrado por sua tenacidade em levar o pleito para onde quis e por ter conseguido realizar a proeza. E a nação? Bem, essa está ferrada por quatro anos.
Abraço