Percival Puggina
Escreve um leitor:
Repete-se o "festival" ocorrido no período de 2002 até 2014. A Petrobras tem o monopólio do petróleo. Então, para que pagar propaganda dela mesmo? Só se tivesse rede de postos.
Desconfio que em 2024, a Globo voltará a transmitir a F1 e o Brasil terá um novo piloto nas disputas, que a nossa bandeira aparecerá, medindo 5 x 8 cm, no carro, capacete e macacão. Afinal, o governo tem que ajudar quem lhe ajudou a ganhar a eleição.
Como veremos adiante, a observação do leitor nos trás de volta à Lei das Estatais, aprovada por iniciativa de Michel Temer durante seu mandato presidencial tampão após o impeachment de Dilma Rousseff. À época, enquanto a Lava Jato cumpria seu papel, o jornalismo brasileiro cumpria o seu informando sem manipular a opinião pública, os cidadãos cumpriam o seu exigindo responsabilização criminal e o fim da corrupção, juízes e cortes cumpriam o seu aplicando a lei aos fatos e os políticos iriam cumprir o seu aprovando uma lei severa para disciplinar a gestão das usadas e abusadas empresas estatais.
Por seu turno, o ministro Gilmar Mendes, futuro inimigo-mor da Lava Jato, dizia num evento da Fiesp em setembro de 2015:
“Na verdade, o que se instalou no país nesses últimos anos e está sendo revelado na Lava-Jato é um modelo de governança corrupta, algo que merece um nome claro de cleptocracia. Veja o que fizeram com a Petrobras. Eles tinham se tornado donos da Petrobras. Infelizmente para eles, e felizmente para o Brasil, deu errado” (aqui).
No mesmo evento, falando sobre o financiamento de campanhas eleitorais, havia afirmado:
“Era uma forma fácil de se eternizar no poder. Pelas contas do novo orçamento da Petrobras, R$ 6,8 bilhões foram destinados à propina. Se um terço disso foi para o partido, eles têm algo em torno de R$ 2 bilhões de reais em caixa. Era fácil disputar eleição com isso” (aqui).
Em oito anos, os ventos mudam de lado e os cômoros de areia alteram sua forma. O PT volta ao poder, o ministro Lewandowski com mala pronta para deixar o STF derruba exigências da Lei das Estatais” e a Petrobras “casualmente” retorna ao mercado publicitário.