• 12/07/2023
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Medicina “identitária”: cursos para assentados do MST

 

Percival Puggina

         Nos meus tempos de estudante, anos 60, volta e meia algum colega sumia para ir estudar em Moscou, na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba. O caminho passava pela indicação do PCB e tramitava pela União Internacional dos Estudantes (estou lendo isso no Wikipedia). Era o roteiro de formação dos jovens comunistas. Cerca de mil estudantes brasileiros passaram por lá.

Estarei exagerando, certamente, mas o exagero vale como palavras em “bold” num texto: para graduação em comunismo, hoje, basta matricular-se no curso superior mais perto de casa.

A Universidade Federal de Pelotas tem se destacado nesse mercado. É de lá que vem, agora, a ideia de criar um curso de Medicina para estudantes oriundos de assentamentos do MST. O ingresso seria por baixo da cancela usual, sem vestibular, mediante uma prova de redação e históricos pessoais. Suponho que o nível das exigências não se prenda à correção gramatical, nem à riqueza do vocabulário, nem às metáforas ou analogias, mas à fidelidade ideológica e à disposição de servir ao movimento, seu “saber histórico” e suas “narrativas” ...

A rigor, a linha de argumentos acima é inútil porque o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária existe desde 1998 e desde 2012 pôs em funcionamento cursos de formação de médicos veterinários que já graduaram 139 profissionais.

A autonomia da universidade permite, a senhora reitora e a reitoria querem e de nada valem os protestos das entidades médicas nem os alertas que podem ser suscitados pelo bom senso.

Professores de cursos tradicionais de Medicina se queixam do despreparo dos alunos que ingressam através dos exames vestibulares. Esse despreparo tem razões graves oriundas das precariedades apontadas pelas avaliações do ensino fundamental e médio. Imagine o que acontecerá num curso de Medicina com as características desse concebido pela UFPel.