Percival Puggina
Parece não haver registro de que a frase “Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é”, tenha sido dita por Lênin. E realmente, essa frase, em Lênin não faz sentido. O líder bolchevique não precisava dela, pois a política era dispensável no regime que instaurou. Os adversários da sua revolução eram eliminados. A Lênin bastava citar Robespierre e implantar o “terror sem o qual a virtude é impotente”, frase que apreciava muito. E estávamos conversados.
Seus sucessores mundo afora, tendo que se haver, ao menos provisoriamente, com os meandros da política, é que criaram a frase. Não? Bem, se não a criaram, ouviram-na, gostaram e passaram a aplicar. Quanto a isso não resta dúvida alguma.
O mais recente exemplo foram as manifestações ocorridas há bem poucos dias, de modo simultâneo e em toda parte: “O presidente prepara um autogolpe!”.
Naquele exato momento, falou alto em mim o aprendizado dos anos: estão preparando um golpe e acusando o adversário. E ele está em curso, vindo de todos os lados ao mesmo tempo. Tem agenda, cronograma e operadores que trabalham na respeitável e honrada máquina do Estado brasileiro. Só não vê quem não quer, só silencia quem concorda.