• 13/07/2022
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Hipocrisia com mandato, terno e gravata

 

Percival Puggina

 

         Como podemos qualificar a atitude de quem, perante um mesmo fato, adota duas atitudes opostas, uma após a outra, buscando benefício político em ambas? O nome disso, claro, é hipocrisia, a velha hipocrisia fingida, histriônica, que cada vez mais intensamente vem fazendo campo de prova na política brasileira.

A exemplo do que aconteceu no Senado, ao chegar à Câmara dos Deputados, a apelidada PEC das bondades foi recebida sob xingamentos da oposição. Acusavam-na de ser oportunista, demagógica, eleitoreira e de comprometer o equilíbrio fiscal. Discutiram e obstruíram. Como de hábito, apelaram para o STF (tipo menino mimado contrariado, que vai “fazer queixa pro papai”).

Tudo em vão. A discussão não convenceu, a obstrução não teve continuidade, o papai desta vez não se intrometeu.

O projeto venceu o corredor polonês ao som de impropérios e foi à votação. Votação nominal, palavrinha mágica que vincula para sempre o parlamentar ao voto que dá. O resultado de 393 a favor e apenas 14 contra a PEC das bondades equivale a uma sentença moral.

Era impossível votar contra, alegavam os oposicionistas, porque a proposta destinava auxílio aos setores sociais mais afetados financeira e economicamente pela pandemia, aos mais prejudicados pela alta dos combustíveis e aos mais atingidos pela consequente inflação.

No entanto, se era impossível votar contra, por ser a providência benéfica aos mais carentes, por que todo o empenho para impedir o governo de submeter a PEC ao Congresso, como manda a Constituição? Por que toda a discurseira hipócrita, demagógica e oportunista que seria desacreditada por eles mesmos com o voto pela aprovação?

Houve, no caso, dois grupos coerentes. O dos governistas que votaram com o governo concordando com as intenções benfazejas da proposta e o dos 14 oposicionistas que encararam as consequências do voto que deram e mantiveram sua rejeição. A aderência a princípios é sempre respeitável; a hipocrisia, não.