Boulos trabalhou para obter esse resultado. Ele é saudável e seu adversário está debilitado pela luta contra um câncer; jogando pela regra, o psolista tentou se descolar de sua imagem anterior e se repaginou; mudou o guarda-roupa, olhou a tabela e viu o eleitorado do candidato do PT, Gilmar Tatto, sem chance e pedindo socorro. Nascia ali o novo Boulos, afilhado de Lula, para restaurar a velha jogada da política paulista: um confronto entre PT e PSDB, com o eleitorado petista convergindo para o jovem barbudo que esteve ao lado de Lula no comício que antecedeu sua prisão no dia 7 de abril de 2018, Após tantos anos do mesmo dilema, o eleitor paulista médio não sabe votar fora desses dois quadrinhos. A provar isso estão os oito vereadores eleitos pelos dois partidos formando as duas maiores bancadas saídas das urnas de 2020. Os seis vereadores do PSOL são consequência da candidatura de Boulos na majoritária, que sempre atrai votos para os candidatos da eleição proporcional.
Portanto, a tentativa de viabilizar a candidatura de Celso Russomano para o segundo turno esbarrou, mais uma vez, na regra pela qual quem faz sempre a mesma coisa não pode esperar resultado diferente.
Haverá, por certo, outras leituras da realidade paulistana no pleito de domingo e eu apreciaria vê-las respeitosamente expostas aqui. A que me parece menos viável é a que imagina uma grande conspiração para fraudar a eleição. Perante qualquer evidência, registre-se B.O. na delegacia mais próxima. De hábito, porém, considero mais produtivo avaliar os erros cometidos. Após cada eleição é imprescindível identificar o trabalho não feito, as muitas omissões, as manifestações de rua e por que se despovoaram, as desistências e desesperanças, e a conduta dos isentões.
Muito raramente se tornam viáveis candidatos que não passaram, antes, por uma projeção na comunidade local que lhes permita entrarem em disputas eleitorais colhendo o que anteriormente foi plantado. Arrancar votos da colheita alheia é menos produtivo, mais difícil e oneroso.