Percival Puggina
No dia 5 de abril, falando em evento promovido pelas fundações Perseu Abramo (PT) e Fundação Friederich Ebert, Lula teve um surto de Marilena Chauí (aquela que odeia a classe média) e despejou palavras de repulsa aos remediados do país. Literalmente, disse Lula:
“O país está pronto para 10% da população. Nós temos uma classe média que ostenta um padrão de vida que em nenhum lugar no mundo a classe média ostenta. Nós temos uma classe média que ostenta um padrão de vida que não tem na Europa, que não tem em muito lugar. Aqui, na América Latina, a chamada classe média ostenta um padrão de vida acima do necessário”.
Em recente matéria (26/05), Metrópoles.com publicou conteúdo sobre inspeção feita no lixo depositado diante da casa de Lula.
Entre as garrafas vazias deixadas para serem recolhidas pelo serviço de limpeza, havia, por exemplo, uma do exclusivo vinho português Pêra-Manca, da safra de 2014, superfestejada pelos especialistas. Com notas de carvalho e tabaco, o Pêra-Manca é produzido no Alentejo, na região centro-sul de Portugal, e harmoniza bem com carnes. Uma garrafa similar é vendida em lojas do ramo por R$ 5 mil, em média.
Entre os vinhos estrelados consumidos na casa de Lula, tinha também um exemplar do Casanova di Neri, um legítimo Brunello di Montalcino, produzido na região italiana da Toscana. O preço na loja em que foi comprado (um adesivo na parte de trás da garrafa dá a pista): R$ 5,8 mil. Havia, ainda, garrafas de vinhos um pouco mais modestos, como Angélica Zapata (argentino, R$ 500), Colomé (argentino, R$ 140) e Quinta Vale D. Maria (português, R$ 115).
Lula vive como um abastado milionário e cospe sua indignação para os andares inferiores da pirâmide social. No mesmo pronunciamento, que pode ser assistido aqui, lá pelas tantas Lula exclama: “É uma pena que a gente não nasce e a gente não tenha uma aula: ‘O que que é necessário para sobreviver’”.
Imagino que o padrão de consumo enófilo descrito acima corresponda ao topo da pirâmide de renda dos brasileiros economicamente bem sucedidos. E, também, daqueles que gastam muito porque não precisaram nem precisam trabalhar para ganhar o que têm porque o dinheiro lhes veio de atividades criminosas. Em relação a elas, porém, alguns cidadãos contam com especial proteção institucional.