• 23/09/2022
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A perseguição à Jovem Pan

 Nota: Bianca Nunes, Diretora de Redação da Revista OESTE, divulgando aos assinantes o conteúdo da última edição, escreveu este belo texto introdutório de um tema da maior gravidade, abordado na revista. 

 

         "Além da multiplicação da pobreza, da escassez de produtos de consumo, da inflação descontrolada e da produtividade raquítica, governos populistas de esquerda da América Latina têm outra característica comum: o desprezo pela liberdade em geral e, em particular, pela liberdade de imprensa.

Em janeiro de 2021, por exemplo, depois dos sucessivos ataques a veículos de comunicação ocorridos durante o governo de Hugo Chávez, Nicolás Maduro tirou do ar o canal de streaming VPItv, o único que costumava transmitir eventos oposicionistas. O ditador em gestação também condenou à morte os sites independentes Efecto Cocuyo, Tal Cual, El Pitazo e Caraota Digital, além do jornal Panorama, de Maracaibo. Em Cuba, faz mais de 60 anos que existe um único jornal: o Granma, um Diário Oficial piorado. Em novembro de 2021, nove homens encapuzados lançaram coquetéis molotov contra o prédio do jornal El Clarín, em Buenos Aires.

Valendo-se da linguagem literária, escritores como George Orwell e Aldous Huxley mostraram como regimes socialistas censuram, oprimem e perseguem aqueles que não obedecem às ordens dos donos do poder. Mas nem mesmo esses autores de fina linhagem poderiam imaginar que algum dia a imprensa apoiaria a institucionalização da censura.

Neste estranho 2022, uma emissora de rádio e televisão se tornou alvo não do governo, mas da ira dos próprios jornalistas e do pensamento único da esquerda. A perseguição à TV Jovem Pan News não ocorre por acaso. Segundo levantamento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 80% dos jornalistas brasileiros se declaram de centro-esquerda, esquerda ou extrema esquerda. Em contrapartida, somente 4% desses profissionais se identificam como de centro-direita, direita e extrema direita.

Os efeitos decorrentes desses números são resumidos num artigo publicado em 2017 por Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha. "As redações são formadas em sua maioria por uma elite intelectual de jovens progressistas de esquerda", afirmou. "O resultado era palpável nas páginas do jornal, por mais que os profissionais se empenhassem em fazer valer o princípio de apartidarismo."

Qualificada de "braço mais estridente do bolsonarismo", a Jovem Pan é a única emissora efetivamente plural. Afinal, que canal de TV junta no mesmo programa figuras como Amanda Klein e Roberto Motta, ou Fábio Piperno e Rodrigo Constantino? E que lei impediria a Jovem Pan de adotar a posição política que quiser, como fazem os concorrentes? Até agora, nenhum veículo de comunicação saiu em defesa da emissora.

Como reagirão agora, confrontados com a mais recente arbitrariedade registrada na Nicarágua? O tirano Daniel Ortega, decidido a reiterar que é ele quem manda no seu pequeno reino, fechou o canal da CNN local. Lula é um dos mais ativos defensores do companheiro Ortega.

Nesta edição de Oeste, o jornalista argentino Gustavo Segré fez uma profecia perturbadora: "A Venezuela é a Cuba de amanhã. A Argentina, a Venezuela de amanhã". Na eleição presidencial brasileira, uma má escolha pode transformar o Brasil de amanhã numa Argentina, numa Venezuela, numa Cuba. Ou numa inquietante cópia ampliada da Nicarágua."