DESTA VEZ, SEM GROUXO MARX
Percival Puggina
“Estes são meus princípios, se não gosta deles, eu tenho outros”. (Grouxo Marx)
Lembrei-me desta frase do notável humorista norte-americano ao ler que Rodrigo Maia tomou a iniciativa de se desculpar publicamente com o ministro Paulo Guedes e de afirmar, literalmente:
“Nós tínhamos que estar unidos, dentro do teto de gastos, para encontrar as soluções. As soluções para o programa de transferência de renda, que precisa ser criado, com todas as dificuldades que teremos, porque quem conhece o Orçamento primário sabe, que de onde formos tirar, terá sempre uma polêmica”.
Que os poderes de Estado se agreguem em torno de alguns princípios básicos, é bom para o país e permite, adicionalmente, uma oportunidade de explicar o que é isso a que chamamos “princípios” e observar o que nos habituamos a fazer com eles na gestão pública. Princípios são afirmações que orientam ações ou comportamentos.
A declaração de Rodrigo Maia formula um princípio: “a unidade dentro do teto de gastos”. O teto de gastos é teto de gastos, teto de vencimentos é teto de vencimentos. A lição de Grouxo Marx e a experiência nacional, infelizmente ensinam diferente: sempre haverá um outro princípio disponível, seja no Executivo, seja no Judiciário, seja no Legislativo para relegar ao esquecimento o princípio original. Ora isto, ora aquilo, sempre haverá um princípio de ocasião, de conveniência política, corporativo, de ordem judicial para cumprir essa tarefa vizinha da falência, se considerarmos a história da formação de nossa dívida pública.
Portanto, ao mesmo tempo que devemos saudar a formulação do princípio por dois lados da praça, torçamos para que não retorne a flexibilização marota de Grouxo Marx.