• 13/08/2020
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LIBERAIS NO GOVERNO

Percival Puggina

 

Leio no Brazil Journal um importante artigo de Salim Mattar com o título “Porque saí do governo” (1). Salim Mattar, todos sabem, é um empresário bem sucedido, fundador e sócio da locadora de veículos Localiza. Ele relata suas observações sobre a diferença entre a lógica do governo e a lógica da iniciativa privada, de onde ele provinha e para onde voltou após 19 meses atuando como servidor público. Esses mundos deveriam ser complementares, mas acabam se tornando competidores, um contra o outro. No governo, diz ele, “procura-se defender o Estado, enquanto o correto seria defender o cidadão”.


Esse é um dos dois principais empecilhos para que o Brasil tome jeito. O outro, só para deixar registrado, é o modelo institucional que, mais uma vez, está provando que não funciona. De fato, poderíamos espichar o olho para o andar do Brasil pelos caminhos da história e chegaremos a apontar uma longa tradição, entre nós, de um Estado que funciona para si mesmo. Não estávamos na estação quando o trem das mudanças passou pelo Ocidente, no século XIX, promovendo um ciclo de liberalização que oxigenou as estruturas do poder. D. Pedro II sabia, mas a elite brasileira não quis saber. O empreendedorismo de nosso Barão de Mauá foi mal visto nestas bandas.


Por outro lado, em passado bem menos remoto, um ciclo de criação de empresas estatais (Salim Mattar contou 698 empresas entre as de controle direto, suas subsidiárias, coligadas e com simples participações) foi seguido por um ciclo de governos de esquerda. E assim chegamos ao sexto século, contado do Descobrimento e do povoamento carregando um poder público que, em descrição sumária, arrecada para gastar em si mesmo, alegando fazê-lo para promover o bem comum.


O que mais se percebe no artigo de despedida redigido pelo ex-ministro é a ausência de liberais no setor público nacional. Paulo Guedes deve estar observando o mesmo fenômeno. Esse antagonismo gera estagnação no desenvolvimento humano e constante perda de posições relativas em comparação com outros países. Será necessário um longo ciclo de liberais no comando da área econômica para que o setor público brasileiro mude por dentro. Perceberemos, então, que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) só cresce quando, em vez de o Estado “cuidar” das pessoas, estas puderem fazê-lo por si mesmas. É nessa direção que deve andar o Estado e é disso que devem cuidar os bons políticos.

(1) https://braziljournal.com/por-que-sai-do-governo.