• 03/06/2019
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HÁ UMA ESQUERDA QUE PRECISA DOS MISERÁVEIS NA SUA MISÉRIA

Percival Puggina

Há alguns dias, o site Gaucha ZH publicou matéria sobre ex-sem-terra que virou fazendeiro, tornou-se crítico do MST e do modelo de reforma agrária praticado no Brasil. Lembro-me perfeitamente das circunstâncias em que aconteceram os fatos bem relatados na matéria.

O tempo dos governos militares caminhava para seu final, no início dos anos 80, e começava a ganhar intensidade a agitação no meio rural, com crescente número de pessoas engrossando o volume dos acampamentos. Nessa ocasião, o governo incumbiu o coronel Sebastião Curió de lhes oferecer terra em novas fronteiras agrícolas que se abriam no Centro Oeste do país.

O tema ganhou as páginas dos jornais com teses favoráveis e contrárias. As forças políticas de esquerda e as lideranças que, em 1984, formariam o MST, João Pedro Stédile entre elas, condenaram veementemente a ideia de alocar essas famílias em região longínqua de suas raízes. Isso seria desumano. Eles queriam desapropriação de fazendas na região mesma onde os sem-terra se concentrassem.

Do grupo que estava em Ronda Alta, com cerca de mil famílias, 205 aceitaram a oferta do governo, que incluía 200 hectares de terra, transporte e um salário mínimo durante 18 meses. Cerca de 150, relata a matéria, retornaram ao Rio Grande do Sul ao longo de um período de dois anos. Os que ficaram, deram-se bem. Entre eles, o senhor Aquilino, hoje proprietário de uma fazenda de dois mil hectares em Lucas do Rio Verde, um município cuja economia não para de crescer.

O bem sucedido fazendeiro confirma o que a história veio mostrar. O projeto de reforma agrária do MST foi um fracasso desde o início. E poderia ter tido condução diferente. Mas para a esquerda, o mais importante era o movimento, era a política, era a ação revolucionária, eram as invasões e era a massa de manobra.

Por isso, seus líderes – em grande parte, hoje, bem sucedidas lideranças políticas e sindicais – reclamam da injusta situação dos sem-terra esquecendo-se de referir a grande parcela de culpa que a eles mesmos cabe, por motivos difíceis de admitir e confessar.