• 28/05/2019
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FREIRE NÃO RESISTE AO TESTE DO TEMPO


Percival Puggina

 A história da Educação no Brasil começa com a obra de um santo – São José de Anchieta – canonizado em 3 de abril de 2014 pelo Papa Francisco. Chamado de “o Primeiro Professor”, padre Anchieta dedicou-se à educação e à evangelização dos índios, cumprindo sua vocação e a incumbência dada por D. João III aos jesuítas. Poeta, dramaturgo, gramático e linguista, foi autor de “A arte da gramática da língua mais falada na costa do Brasil”, referindo-se a uma língua do tronco Tupi. A inauguração do colégio que criou no Planalto de Piratininga é considerado como ato fundador da cidade de São Paulo.

Parcela significativa da sociedade brasileira, vendo os resultados da educação freireana irem no rumo oposto ao que se deveria desejar, tem se mobilizado para substituir Paulo Freire por São José de Anchieta como patrono de nossa Educação. As qualificações são incomparáveis. Enquanto Freire não resiste o teste do tempo, Anchieta acumula quase cinco séculos de consagração no juízo da História.

Terá, o tempo, deixado de ser, senhor da verdade e da razão? Pois para os dois religiosos gestores do Santuário São José de Anchieta parece que sim. Ambos assinam um manifesto repudiando a ideia. O documento,  em resumo, mostra contrariedade com a mudança nos rumos do país, notadamente com o contingenciamento das verbas da Educação e uma série de lamúrias para encontrar motivações ideológicas na proposta de substituição de Freire pelo santo.

No capítulo que escrevi para o livro Desconstruído Paulo freire, organizado por Thomas Giulliano dos Santos, afirmo que A Pedagogia do oprimido é o livro mais ideológico que já li. Mas isso não importa porque os companheiros do Santuário estão inconformados com os novos rumos  escolhidos pela sociedade brasileira.

Vale a pena ler o manifesto. É altamente elucidativo, tem a crueza das idéias nuas, despidas de todo ornamento. É assim que os dois religiosos pensam. O santo que vá procurar outros altares para sua reverência.

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.