UMA VENEZUELA EM QUALQUER LUGAR
Percival Puggina
Que um ditador faça as coisas que Nicolás Maduro faz, não causa qualquer surpresa. Que o cordão de puxa-sacos concidadãos do presidente, na plateia da cerimônia, aplauda o tirano e se comporte como impõe a gratidão dos seus protegidos, tampouco. Afinal, é da mesa do poder à qual eles sentam que caem os restos disputados nas lixeiras pela populaça.
A orquestra toca e os pares dançam conforme a música. Foi assim que o PT se fez representar na vergonhosa solenidade, afinado que sempre esteve com ditadores comunistas e pretendentes a esse galardão nas maquinações e conjuras do Foro de São Paulo. Também isso não surpreende.
A única coisa que a mim surpreendeu nesse episódio foi constatar a encenada surpresa de alguns analistas e comentaristas. Ao longo de décadas fecharam os olhos para o fato simples, plano e raso de que o Partido dos Trabalhadores sempre foi assim. Para ele, a maior virtude de qualquer organismo político é ser antiamericano. A segunda maior virtude é defender um modelo político que controle a imprensa e neutralize sua oposição. A terceira é combater a civilização ocidental. A quarta é, enquanto faz tudo isso, forjar, com habilidade, uma falsa superioridade moral.
Quando o PT inventou o Fórum Social Mundial e passou a sediá-lo em Porto Alegre nas primeiras edições, a capital gaúcha amanheceu, certo dia, recoberta com pichações exaltando o cruel ditador iraquiano Saddam Hussein. Na Pontifícia Universidade Católica desfilavam como grande coisa Ricardo Alarcón (marionete número um de Fidel Castro), o revolucionário argelino Ben Bella (“Eu não sou um democrata, sou revolucionário!”), representantes das narcoguerrilheiras FARC, e delegações do mundo inteiro que transformavam a PUC na biosfera da esquerda mundial, catalisada pelo slogan da superioridade moral: “Um outro mundo é possível”.
Claro que é possível. A experiência secular da humanidade mostra que, dado ou tomado o poder por pessoas com aquelas ideias, é perfeitamente possível fazer uma Venezuela em qualquer lugar. Do mesmo modo que Che Guevara ansiava por fazer “um dois, três, mil Vietnãs”.