Pessoas como Roberto Campos deveriam receber, pela dedicação ao interesse público, pelo brilho e lucidez de suas inteligências, um crédito conversível em anos de vida, para melhor uso e fruto, para maior proveito de sua atividade intelectual ao longo do tempo.
Intelectuais com visão de estadista (ou estadistas que também sejam intelectuais), além de raros, costumam receber da história uma justiça demasiadamente tardia. Não foi diferente com Roberto Campos, vilipendiado como Bob Fields pelo que, ao seu tempo, havia de mais retrógrado e burro no Brasil. Impotentes para enfrentá-lo num debate, incapazes de alcançar o nível dos seus chinelos, esses seus aversários, militantes na esquerda brasileira, reservavam para ele a essência de seu mau humor.
A frase que escolhi para lhe prestar esta homenagem é um pitéu. Uma dessas pequenas joias que devem ser lidas com os olhos e saboreadas com o paladar, que é, sim, um atributo das inteligências educadas, dotadas da capacidade de apreciar, com a acuidade dos cinco sentidos, os feitos e confeitos da sabedoria alheia.