Se há alguém, ali, cuja vaidade consegue sobressair-se dentre todas, esse é o ministro Marco Aurélio Mello, da foto e frase acima. Imagino o mal-estar que cause entre os demais quando se põe a lecionar-lhes. No plenário ele é o Verbo. Sua excelência sequer fala como as pessoas comuns falam. As palavras lhe saem arquejadas, numa espécie de sopro divino, criador, forma verbal das cintilações do astro rei da constelação. Ante um brilho desses só se chega usando óculos escuros e protetor solar.
Ele sabe que paixão é uma coisa e valor moral é outra. Ele sabe que valer-se dos conceitos de Estado laico e de separação entre Igreja e Estado para enxotar as posições cristãs da sociedade é amordaçar a cidadania de quem as compartilhe. Sabe que se tal argumento for válido, toda condenação ao terrorismo, à tortura, ao assassinato, ao roubo, à calúnia e ao vasto universo das perversidades seria inaceitável pela mesma razão: a moral judaico-cristã também reprova tudo isso. E desde muito antes da Constituição de 1988, ao que me lembro. Até um embrião congelado entende algo tão simples.
A separação entre Igreja e Estado tem sentido superior. Significa autonomias recíprocas. Ora, se não existe a hipótese da ignorância para explicar a frase acima, resta a desonestidade. Ela se expressa como desejo de vencer o debate sem preocupação com a verdade (sofisma), ou de resumir o exercício dos direitos civis à minúscula minoria cuja moral não tem qualquer fundamento.