OLHA O QUE ESSE PESSOAL TEM NA CABEÇA
Percival Puggina
Recebo do amigo, colega arquiteto e escritor Luiz Carlos Da Cunha duas imagens. Uma reproduz capa de O Globo com a manchete: “Rio teve 640 tiroteios só no primeiro mês do ano”. Logo abaixo, a foto de uma senhora, aos prantos, sendo protegida e conduzida por dois policiais para fora da área de conflito. A outra imagem é do jornal comunista A Nova Democracia. Mostra um policial tendo ao fundo a favela, com os dizeres: “Intervenção policial no Rio de Janeiro aprofunda a guerra contra o povo”.
Meu amigo pergunta: “Dá para entender o que pensa um comunista? Se Freud estivesse vivo certamente não compreenderia as razões”. E aponta o paradoxo de um veículo se declarar “a favor dos menos favorecidos, do proletariado, dos estudantes, do campesinato e das massas das favelas enquanto critica ferozmente a intervenção
federal,cujo objetivo é minimizar a violência que aterroriza essa mesma população”.
O paradoxo, a meu ver, se explica com a seguinte chave de leitura: o comunista só vê classe social. O único crime que ele não perdoa é a prosperidade alheia (a própria não o perturba, mas a prosperidade alheia o deixa indignado). O comunista precisa da insegurança social. Ela lhe serve para denunciar o sistema econômico como causador das desigualdades que jogam bandido nas vielas do crime. O fato de a economia brasileira ser menos capitalista do que a do Afganistão, estar nivelada com Serra Leoa, e haver muito mais segurança nas ruas dos países realmente capitalistas (Hong Kong, Nova Zelândia, Suíça, Irlanda, entre tantos outros) deixa de ser por eles mencionado porque não convém.