• 06/02/2018
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O MINISTÉRIO DA FILHA DE ROBERTO JEFFERSON

Percival Puggina


É prazeroso ouvi-lo falar. Roberto Jefferson, o simpático delator do mensalão, tem todos os recursos de um grande orador, mas isso não é um salvo-conduto. Cumpriu cinco mandatos de deputado federal pelo PTB até ser cassado e condenado a 7 anos e 14 dias de prisão que cumpriu parcialmente em regimes semiaberto e aberto até ser indultado em 2015. Retomada a liberdade, voltou à presidência do PTB, posição desde a qual passou a pressionar para que a filha assumisse o ministério do Trabalho. O resto você sabe. O passado recente da deputada Cristiane é tão incompatível com essa missão quanto seria o de alguém condenado por racismo para ocupar o ministério dos Direitos Humanos.

 

 No entanto, o PTB tem uma bancada significativa na base do governo, que precisa de seus votos e não pode colocar a relação em risco. Não é hora de “discutir a relação”. Em contrapartida, o impasse em nada ajuda a já difícil relação do governo com a sociedade. Está muito certo quem reclama da conduta do governo, da conduta do PTB e das sempre inadequadas atitudes da postulante ao gabinete ministerial.

 

 Outro problema, porém, está passando batido nessa história. Refiro-me ao fato que viabiliza esse tipo de situação. O caso de Cristiane, de rolo em rolo, é apenas mais um dentre incontáveis casos em que elevados postos do governo e da administração direta e indireta são confiados a pessoas inadequadas, para cumprirem missões desastradas, desastrosas ou, mesmo, criminosas. E isso é viabilizado e estimulado pelo sistema político que torna o governante refém da maioria parlamentar que tem os bônus do poder sem as necessárias responsabilidades com o governo e perante o governo.

 

 Em vão se reclama do cardápio se a receita não for trocada.