Sobre a crônica de Martha Medeiros usada domingo (07) no vestibular da UFRGS
A IGNORÂNCIA A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO
Percival Puggina
Trecho da crônica de Martha Medeiros usada como inspiração para redação no vestibular da UFRGS:
“... o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados, pois desde que essa história começou (1500), foi um tropeço atrás de outro, um país descoberto por engano, por causa de uns ventos inesperados que conduziram as caravelas para outro destino que não a Índia e foram parar aqui sem querer, e quem dá importância ao que foi sem querer? Descuidos não são levados a sério, nunca fomos e jamais seremos a primeira opção nem pra nós mesmos. O Brasil é um acidente de percurso do qual se tenta tirar alguma vantagem para que o engano de rota não resulte em total perda de tempo.
Se você discorda, se ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me declaro invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio porque tem parentes no convés, apenas por isso”.
Credo! O pior não é que tenha sido oferecido esse texto aos alunos como motivação para suas próprias dissertações. Afinal, os vestibulandos poderiam opinar favoravelmente ou contrariamente. O pior é saber que eles estão ingressando na mesma máquina acadêmica em que a cronista aprendeu assim ou muito parecido com isso. Quantas salas de aula deste país esmigalham a autoestima, o amor à pátria, o estímulo para progredir, e inculcam no espírito dos alunos o conhecido sentimento de cachorro vira-lata que rescende no texto da autora? Que tristeza!
Não adianta recomendar-lhe que volte à faculdade para estudar porque, possivelmente, vai ouvir mais do mesmo. O espírito que norteia porção dominante do mundo acadêmico brasileiro é deliberadamente esse. Um indivíduo amorfo, sem identidade e sem valores, ante um diagnóstico assustador, se molda à terapia que os fazedores de cabeça lhe receitam.
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