• 02/07/2017
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O "TRADICIONALISMO" DA MÍDIA E A "REBELDIA" DE TEMER


Percival Puggina

 

 Estou até agora tentando encontrar alguma razão efetivamente jornalística que explique a torcida da mídia nacional por Nicolao Dino, bem como para as pungentes frustrações manifestadas quando ele não foi escolhido por Temer para o cargo de Procurador Geral da República.

 O que mais se lia e ouvia era sobre a importante "tradição" de indicar o nome mais votado. Há que reconhecer: uma tradição imberbe, que vem de 2003, contando 14 anos, em plena adolescência portanto, deve clamar por imensa consideração das instituições republicanas...

 Michel Temer, com aquele seu jeito rebelde de ser, rompeu a longeva praxe. Entre um reconhecido adversário, muito próximo ao seu algoz, e uma procuradora sabidamente distante de Janot, optou por esta. O preceito constitucional é claro: o presidente da República recebe a lista tríplice e pode escolher um dos votados ou ignorar a lista e indicar para a sabatina do Senado qualquer outro dos 1 400 procuradores.

 Nesse caso, o próprio presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), José Robalinho Cavalcanti, afirmou ao UOL acreditar que o presidente Michel Temer (PMDB) indicaria alguém da lista, mas não teve a pretensão de cobrar que ele obedecesse a ordem da eleição procedida entre os procuradores. A mídia, porém, sapateava exigindo respeito à "tradição". Como é conservadora a mídia brasileira!

 Não tomei conhecimento de que algum analista houvesse reprovado o processo inscrito na Constituição. Este sim, totalmente impróprio! Percebam quanto, e em quase tudo que importa, é irracional o modelo institucional brasileiro! Como pode a norma constitucional propiciar ao presidente da República o privilégio de escolher quem o irá processar? Mais uma regra pela impunidade! No entanto, em um conjunto de avaliações totalmente superficiais, o único interesse da imprensa pareceu recair sobre a designação ou não do primeiro da lista, justamente por ser, neste caso, alguém alinhado com Janot e com a esquerda que opera no MPF. Jamais vamos corrigir nossas instituições enquanto continuarmos escrutinando a realidade apenas com lupas ideológicas.