• 09/08/2015
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PRA ONDE VAMOS?
Igor Moraes - igoracmorais.com.br/

Alguns acontecimentos recentes colocam mais certeza sobre a percepção de que a economia continuará fraca e que o custo de enfrentamento desse cenário será maior que o esperado anteriormente. A decisão de abandonar a política fiscal, sob a alegação de que, com isso, se ganha em credibilidade, na verdade, representa a chancela da incapacidade de gestão. A desculpa é a queda da arrecadação, o que é verdade, afinal de contas, foi 3% a menos nos sete primeiros meses do ano, já descontada a inflação, o que dá R$ 17 bilhões. Mas está longe de ser o álibi do maior déficit da história do Brasil.

De outro lado, o Governo foi incapaz de reduzir os gastos, que se elevaram 0,7%. E isso tem duas resultantes que preocupam. A primeira está relacionada à política econômica. Muitos analistas e diversos outros profissionais aplaudiram a decisão, sob a alegação de que não seria justo penalizar a economia com mais corte de gastos. Mas essa é uma análise de apenas parte dos impactos. É claro que o gasto público, representado pelos 22% do peso do Governo do PIB, ajuda a ativar ou desaquecer a economia. Mas será que a decisão de não conter gastos irá resolver todos os nossos problemas? Vejamos onde está o erro dessa análise. A pressão inflacionária é tanto de oferta quanto de demanda e, além disso, tem características de choque temporário e permanente. Por exemplo, o aumento de preço de energia é classificado como um choque de oferta e de cunho permanente. A combinação mais perversa que existe. Nesse grupo também estão preços da gasolina e outras commodities.

Se o repasse de preços não é disseminado, o resto da economia pode absorver esse impacto. Por exemplo, podemos ter maior produtividade e queda no preço de outros produtos, como roupa, calçado, alimentos e etc. Nesse caso, não há necessidade de ativar o botão da política monetária e nem se preocupar com a política fiscal. Mas, há um movimento no Brasil diferente. O choque de oferta ultrapassou o grupo das “commoditites” e adentrou em produtos diversos, como automóveis, vestuário, cosméticos e tudo o mais. Porque essa alta de preços é disseminada se a economia está em recessão e com queda de renda?

O leitor que viveu na década de 80 levante a mão e pule para o próximo parágrafo. Para os demais, sim, precisamos retomar a lembrança de mais de 30 anos para explicar esse resultado. O Brasil é fechado para o mundo. Sempre nos foi vendida a ideia de que importar é feio. A eterna tese dos desenvolvimentistas e alguns empresários que querem ter vantagem de mercado via menor concorrência. Por isso que da lista de 373 produtos do IPCA apenas 48 tiveram queda de preço em 2015. A produção e venda de automóveis está em queda, mas o preço subiu 5,2% no ano. Mas e a concorrência com a China? Perdeu-se com a desvalorização de mais de 50% do câmbio em um ano. Uma das maiores maxidesvalorizações da história do Brasil e pouco se comenta sobre ela.

Portanto, nossa inflação tem choques de oferta e esses são permanentes. Menos mal então que não temos choque de demanda? Claro que temos, senão o preço dos serviços não continuaria subindo na casa dos 8,5%. E essa pressão vai continuar em 2016. Em todos os cantos do Brasil escutamos as pessoas querendo reposição da inflação e o salário mínimo terá reajuste gigantesco, o que deve alimentar ainda mais essa demanda.

Tudo isso para dizer que, se abandonamos a política fiscal para ajudar a conter os preços, resta pedir ajuda para a política monetária. Um bom teste para saber se o Banco Central é independente ou não. Se sim, teremos juros a 16% ou mais. Se não for, teremos mais inflação e crescimento lento por um longo período, um típico formato de L. Façam suas apostas, mas a atual Autoridade Monetária não passa tanta credibilidade assim. Acho que o Governo jogou a toalha no combate aos preços e viramos torcedor para que tudo dê certo daqui em diante.

Essa avaliação nos conduz a segunda resultante da análise: a tese de que podemos ter a troca do Ministro da Fazenda mais cedo do que se esperava. Em minha opinião o mesmo já era um corpo estranho no Governo dado sua origem de formação ortodoxa e com suas propostas de política fiscal. E agora fica claro que não irá entregar o que prometeu, nem em 2015 nem em 2016. E, de quebra, ainda pode ficar carimbado como o responsável pela atual crise sem ter feito nada. É difícil acreditar que o Ministro está lá apenas pelo salário ou pelo poder. Ainda mais em um Governo politicamente falido. Uma nova rodada de números ruins da economia, somada a perda de grau de investimento, pode fortalecer a percepção de sua saída.

Não tenha dúvida de que os últimos eventos contribuem para reduzir as incertezas para onde estamos indo. Desaceleração pelo menos até o primeiro trimestre de 2016 e por ali ficamos um bom tempo, conjugado com continuidade de inflação alta, juros acima de 14% e câmbio podendo se estabilizar perto de 3,8. Ao final teremos maior custo para a dívida interna, pagando cerca de R$ 450 bilhões de juros por ano e que devem fazer nossa dívida ultrapassar facilmente os 70% do PIB. É um patamar considerado de risco pelas agências internacionais. A captação de dívida ficará mais cara, tanto para empresas quanto para governos, e veremos a piora dos indicadores sociais. Já vimos esse filme: “aperte dos cintos, o piloto sumiu”.