NEUTRALIDADE, GÊNERO E LÍNGUA PORTUGUESA
Percival Puggina
Interrogada, a futura presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, respondeu que quer ser chamada presidente. Não presidenta. "Fui estudante, sou amante da língua portuguesa", disse ela, emoldurando um novo capítulo em que a nação parece reatar relações de amizade com o idioma nacional.
A propósito: não é engraçado? O petismo se dedica a esse minucioso trabalho de domínio da linguagem. Para seus adeptos, chamar Dilma de presidenta é um ato político ligado à ideologia de gênero e ao que denominam "empoderamento feminino". É daí que vem o dever político de abandonar o genérico masculino, levando ao "todos e todas", a "os colegas e as colegas", e por aí afora. Tudo isso é política, ato revolucionário praticado no contrafluxo do idioma. Desconstrução, in suma.
Fica inequívoco, então, o paradoxo. O esquerdismo revolucionário petista atribui gênero ao que é neutro (como no substantivo presidente e em tantos outros, aos quais se aplicam, por igual, o artigo masculino e o feminino). E, logo após, sem olhar para o lado, na mesma ideologia de gênero, atribui gênero - múltiplos, flexíveis, variados e intercambiáveis - ao que tem sexo.