Percival Puggina
Durante quase dois dias consecutivos, os ministros do STF dissertaram sobre os perigos da pandemia, a necessidade de minimizar os contatos entre as pessoas e a imprescindível sujeição das igrejas às regras que determinassem seu fechamento. Era tão importante torná-las inacessíveis, por perigosas, que o leque de impedimentos constitucionais ficou fechado sobre as mesas e arejou apenas os votos dos ministros Dias Toffoli e Nunes Marques.
Nunca foi dito, mas, de certo modo, entre as arengas e as realidades dispersas no país, fluía a noção de que as atividades religiosas presenciais eram supérfluas ou potencialmente perigosas.
A decisão foi festejada pela mídia militante que exaltou o elevado discernimento de que se revestiu e que se refletiu no dilatado placar de 9 votos a favor do lockdown religioso.
Não passaram 24 horas da votação e cá no Rio Grande do Sul o governo decidiu que a partir de segunda-feira (12/04) as igrejas poderão abrir entre as 5 horas e as 22 horas, ou 20 horas, respectivamente, nos dias de semana e nos fins de semana.
Alguns dos mais expressivos monumentos que já visitei na Europa são obras votivas que comemoram o fim da peste e registram a memória de suas vítimas. Destaco, entre outras, a belíssima Pestsäule de Viena, a Coluna da Peste em Kremnica (Eslováquia), a Cappella della Piazza de Siena e a Basilica di Santa Maria della Salute, em Veneza.
Claro que para os doutos de toga do STF, a oração comunitária pelos enfermos, pelos mortos, pela saúde, as missas, a eucaristia, os sacramentos, os cultos, são irrelevantes produtos de confeitaria sentimental pendentes da bênção do Estado. Isso, claro, só não é assim quando, solenemente, casam as próprias filhas...
Aqui no RS, ao menos, toda a discurseira jurídico-epidemiológica de quinta-feira, virou pó na reunião local do dia seguinte.