• Percival Puggina
  • 31/01/2018
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TESÃO PELO ESTADO

 

 Não creio que adoração do Estado (estatolatria) designe de modo adequado a relação de certas pessoas e partidos políticos com o Estado. Quem adora não se serve do objeto de sua adoração. Um neologismo como estatoafetividade, expressando um sentimento quase carnal, resulta mais fiel para descrever essa relação. É tesão pelo Estado, mesmo.

O tipo de relação a que me refiro e a perspectiva política em que se escora desbordam de toda razoabilidade. Atribuir excessiva importância à política é mais perigoso do que não lhe conferir qualquer valia. Colocá-la acima de tudo mais é da essência dos totalitarismos, é uma hipertrofia de consequências nefastas. De outra parte, não encontrar na vida um espaço para cuidar do interesse geral, numa hipótese branda, é facilitar as coisas para aqueles que se valem do Estado para abusar do poder e para seu bel-prazer.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, ensina conhecido provérbio português sobre a necessidade de moderação. E essa moderação se faz necessária mesmo quando entendemos a política como a ciência e o ofício de governar a sociedade. Imagine, então, quão mais danosa se pode tornar a obsessão pela política quando aplicada de modo exclusivo à conquista e à manutenção do poder, aos impulsos da estatoafetividade!

É o que estamos assistindo, nestes dias, no Rio Grande do Sul, um Estado que, à exemplo da União, após o desastroso e funesto governo petista, agravado pela recessão gerada pelo governo Dilma, afundou numa crise fiscal sem precedentes. O Estado tem duas opções: ou deixa de pagar sua dívida com a União e fecha as portas, ou se livra provisoriamente dessa conta por três anos e adere a um duro ajuste fiscal que pode levá-lo a horizontes menos encardidos ao término desse prazo. E quem se ergue para obstar a adoção de tais medidas, que envolvem privatizações e limites para o aumento da despesa? Os mesmos que tendo recebido o poder com as contas equilibradas produziram o desastre fiscal do Estado.

No mesmo período, os petistas também exerciam o governo da União e nada fizeram na linha das inexequíveis alternativas que agora apresentam. Nada obtiveram do governo Dilma, tampouco, em acordos que poderiam ter sido celebrados – se desejados e possíveis - numa salinha do diretório nacional ou estadual do partido, em meio a rodadas de chimarrão. Agora, porém, aparecem cheios de ideias sobre direitos e haveres estaduais junto à União.

A orientar esse entrevero que se desdobra em turnos e returnos na tribuna do parlamento gaúcho está a conduta referida acima: a obsessão pelo poder, ainda que à custa do bem da população. Não descrevo algo inédito. É possível que em outros estados e municípios se reproduzam situações análogas, envolvendo diferentes partidos. O mesmo se passa, também, no Congresso Nacional. As expectativas eleitorais para outubro vindouro, a ideia de um ajuste fiscal sem sacrifício, tipo happy hour, e o amor quase carnal ao Estado e seus seios murchos patrocinam o ânimo desses inacreditáveis debates.

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Odilon Rocha -   01/02/2018 11:36:49

Caro Professor Nem ela deita com o pai nem ele com a mãe. Sabemos bem que isso tem classificação na psiquiatria. Esquerdopatas, psicológica e psiquiátricamente falando, amam de paixão, fora dos limites, o Estado papai/mamãe. Não conseguem resolver suas vidas sem isso.

Carlos Edison Domingues -   01/02/2018 09:35:37

PUGGINA Primeiramente receba as minhas felicitações e meu agradecimento pela sua participação no encontro promovido pelo Flávio Pereira com a presença do Polibio Braga, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Reuniram-se, naquela oportunidade, quem se preocupa com o desempenho do Estado, através de uma boa política. Viajei de Santa Maria, na companhia de meu filho André, apenas para assistir aquela proveitosa aula. A "tesão do Estado" é fruto da omissão e da incompetência da sociedade. O meu pai me ensinou que a ausência dos bons é mais perniciosa que a presença dos maus. A política exige a nossa presença, ainda que seja com o lenço no nariz. Lamentavelmente esta proliferação de partidos e a omissão do eleitor facilita a mercantilização do voto dos PRALAMENTAR. Parte da solução está na presença dos mais capazes dentro dos partidos. Carlos Edison Domingues