Percival Puggina
Dentre os fatos em curso na reitoria da UFPel, o que mais chama a atenção é o esforço dos envolvidos em conferir seriedade a ações adequadas ao palco de um grupo político.
Dá tristeza admitir que em órgão vital de uma Universidade se costure estratégia tão ridícula. Estratégia, aliás, reveladora dos desvios de finalidade de que essas instituições são acusadas, numa generalização imprópria. Sim, generalizações são impróprias, mas o problema, onde existe, é este: elas se ideologizam, politizam e militam a ponto de fazerem coisas assim. A universidade é deles.
Em tais instituições, quando tomadas, opera a contradição em termos de um pluralismo singular, monocular e monofônico. Um só pensar, um só ver e um só falar. Estabeleceu-se em seu corpo social uma ditadura do pensamento único, onde a divergência desperta mecanismos de rejeição, a exemplo do organismo humano em presença de corpos estranhos. Isso é gravíssimo.
Chega-se, então, a prova provada pela UFPel: a reitora nomeada se presta à função de “laranja” do companheiro mais votado para integrar a lista tríplice. Os presentes à coletiva, em suas manifestações, tampouco deixam dúvida sobre as cores desse companheirismo, pois se referiram ao que faziam como forma de “contra atacar os golpistas de Brasília e de Pelotas”...
Para o fantasioso picadeiro acadêmico, o voto dos companheiros se sobrepõe à lei federal, aos poderes atribuídos pela Constituição ao presidente da República e à interpretação da lei já explicitada na liminar do ministro Edson Fachin. Na lógica da douta militância, impor seu querer através de um estratagema não é golpismo. Golpista é o governo, imperdoável por havê-los afastado do poder com o peso de 57 milhões de votos. O ministro Fachin, diga-se de passagem, também foi extraído por Dilma de idêntico ninho ideológico, mas não deixou de ler, na lei, o que ela diz: da lista tríplice, escolha o presidente quem quiser. Essa liberdade de escolha não convive com artimanhas, jogos de guerra ou laranjas para contornar as não escolhas do presidente. Se isso persistir, a universidade terá uma reitora de direito e um reitor de fato...
Sempre que a Constituição ou a legislação infraconstitucional atribui poderes de escolha ao governante, ela atende ao interesse de promover, graças ao rodízio dos grupos políticos no poder, simétrico rodízio entre diferentes visões de mundo, de sociedade, de vida. Evita-se, assim, o que acabou acontecendo no STF e na maior parte das universidades federais, com a destruição do pluralismo, da universalidade, do espírito acadêmico e do criativo convívio entre contrários.
É compreensível a ira de quem aparelhou a universidade a ponto de se permitir a “rebelião” da UFPel. Compreender quanto dói uma saudade não é deixar de extrair a lição dissimulada no som cavo dos discursos vazios.
* Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
Adão Silva Oliveira - 15/01/2021 13:31:18
Pois é. Assim é a vida. Uma vergonha. Estes "professores" todos se escoram nos "cartórios", chamados também de universidades. É uma verdadeira casta. Há outros também - que sem qualquer concurso público - se escoram nas assessórias parlamentares das Assembleias legislativas e câmaras de vereadores de todo o nosso pobre Brasil. Antes da Constituição de 1988 - tão criticada por muitos deles inclusive - a festa era maior ainda. Quem em 1988, já contava com mais de 5 anos de "exercício" (não interessava se na própria casa mandando cartinha para seu parlamentar assegurar a próxima eleição, financiada à "custa" do próprio mandato em curso) assegurou a efetividade. Por via de consequência, obtiveram aposentadoria com polpudas remunerações, para os padrões salariais brasileiros. Mas o pior de tudo é que isso vem coroado com uma grande dose de hipocrisia. Aqui em Porto Alegre, mesmo há muitas figuras, alguns inclusive ligados a órgãos de imprensa, que professam ideias liberais, mas que se beneficiam deste artifício.Jorge Heleno - 14/01/2021 21:43:41
Esta é um questão fundamental para a sobrevivência intelectual de nossa juventude. Não importa pra que lado vá, desde seja a partir de decisões tomadas em ambiente plural. A imposição do pensamento único é a desgraça do país.ODILON ROCHA - 14/01/2021 18:15:41
Caro Professor Sendo extremamente sintético, quanto esforço, costuras e contorcionismos para manter privilégios, falcatruas, cargos e facilidades. Preocupação com o aluno e o Ensino que é bom,... .