• Percival Puggina
  • 13/07/2021
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SANGUE E LÁGRIMAS NAS RUAS DE CUBA

SANGUE E LÁGRIMAS NAS RUAS DE CUBA

Percival Puggina

 

         Antigo poema de Victoria Mata, ex-presa política cubana, dá testemunho do que assistira durante sua prisão. Ela conta assim, e penso que dê para entender:

Hoy el tempo há transcurrido, mas de 42 años!

Aquel rosal se seco, las flores se han marchetado,

Los métodos son distintos, las cosas se han refinado,

Siguem los fusilamientos, estan los mismos cossacos.

El terror lo abarca a todo y el muro vuelve a ser blanco!!!,

Porque antes del paredón, antes de ser fuzilados,

Le sacan toda la sangre, a todos los condenados!!!

Incluí esse pequeno poema no meu livro A tragédia da Utopia porque estampa a fisionomia sangrenta e cínica daquilo que a ditadura cubana, num sentido que já não consegue deixar de ser irônico, chama de revolución... É uma revolução bandida, sexagenária e enferma, depositária de todas as doenças que acompanham a depravação do poder político. Ela precisou de poucos meses para se tornar uma ditadura e roubar tudo de todos, um pouco mais para se abraçar ao comunismo, e logo ali, em menos de três anos, pular para o colo da URSS como cãozinho faminto a quem lhe estende um pedaço de pão velho.

Por ali seguiu a venda de sangue da juventude cubana. Durante décadas, enquanto os defensores brasileiros do miserável regime louvavam a luta cubana pela autonomia dos povos, a ditadura vendia “a los mismos cosacos” como no poema acima, a vida de seus jovens para revoluções de interesse da geopolítica soviética na África e na América Latina. Cinismo e hipocrisia são insígnias daquela revolução.

Olho com tristeza para a “Primavera Cubana”. Ela me traz à lembrança outras tantas que floresceram no mesmo terreno infértil de ditaduras comunistas na Hungria (1956), na Tchecoslováquia (1969) e em Beijing (1989).

Minha tristeza vem de um conjunto de percepções.

*    O povo cubano, onde quase tudo é estatal, habituou-se a ser maltratado cotidianamente por servidores do Estado, pelas brigadas de resposta rápida, pelos policiais ostensivos ou dissimulados, pelos superiores nos locais de trabalho, pelo balconista, pelo fiscal, pela professora, pelo militante do partido (1). O estado cubano o trata mal, ou o trata pior.

*     O povo da ilha é tão desarmado quanto a esquerda brasileira gostaria de ver-nos. Pelo viés oposto, o aparelho do Estado comunista está armado até os dentes e treinadíssimo para enfrentar dificuldades em seu território. 

*     O presidente do Conselho de Estado, em sua fala à nação, ao chamar os comunistas para as ruas, proclamou aos cubanos e ao mundo que as ruas são da revolução! É assim que ele vê o próprio país e a situação atual. 

*    Não é só democracia que não existe em Cuba. Lá também não há política. O art. 5º da novíssima Constituição (2019) diz: “O Partido Comunista de Cuba, único, martiano, fidelista, marxista e leninista, vanguarda organizada da nação cubana, sustentado em seu caráter democrático e permanente vinculação com o povo, é a força política dirigente superior da sociedade e do Estado”. É preciso dizer mais, se sequer cuidaram de dizer menos?

Podemos e devemos ficar ao lado do sofrido povo cubano. Apoiemos o governo brasileiro em sua rejeição à conduta criminosa do ditador Diaz Canel, atual protagonista dos delitos contra direitos humanos que há 62 anos marcam o cotidiano do regime. Rejeitemos as moções de apoio que, a começar pelo PT são emitidas no Brasil por lideranças e partidos de esquerda. Isso diz muito de cada um deles.

  1. https://www.cubanet.org/destacados/nuestra-violencia-no-llego-con-covid-19/

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Luiz R. Vilela -   14/07/2021 08:46:38

A dor ensina a gemer, dizia um ditado antigo e em todos os códigos penais do mundo, existe a figura do "furto famélico", onde roubar para matar a fome não é crime. Em Cuba, o povo esta inaugurando e exercitando a nova modalidade de descontentamento, ou seja, a insurgência famélica, onde os famintos já não aguentam mais um regime gagá, senil, esclerosado que só favorece a cúpula governativa e mantém o povo na miséria, em nome da igualdade, mesmo que seja por baixo. A nós brasileiros, cabe a tarefa de pregar o último prego no caixão da ditadura, ou seja impedir a ascensão da esquerda ao poder no Brasil, o que fatalmente secará todas as fontes de "esmolas" ao regime caduco e extemporâneo. Lula certamente no governo, voltará a mandar as "polpudas" quantias de dinheiro aos seus velhos parceiros, o que ao invés de ajudar, é altamente prejudicial ao povo da ilha. O governo com dinheiro se manterá no poder e o povo no suplício. Então, nós brasileiros, vamos ser solidários aos cubanos e não deixar o regime se fortalecer para continuar oprimindo os seus cidadãos.

FERNANDO A O PRIETO -   14/07/2021 05:37:51

Ótimo texto. Estes hipócritas que no Brasil e no mundo apóiam a ditadura cubana JAMAIS morariam lá como cidadãos comuns... Gritam contra a "ditadura" - que NÃO existe- no Brasil, mas omitem-se totalmente em mencionar os lugares onde ela existe (Cuba, China, Coréia do Norte,....). Nunca nos deixemos iludir, nem nos solidarizemos com estes hipócritas, nem apoiemos suas manifestações...

João Carlos da Cunha -   14/07/2021 00:57:28

O custo/benefício de salvar Cuba de seus problemas, implementando um programa de desenvolvimento econômico, até Cuba se tornar auto-sustentável, é inviável econômicamente, isto é, não compensa econômicamente e políticamente o investimento. Como os países da América do Norte e Central justificariam tal investimento às suas populações?

Luiz Alberto Mezzomo -   13/07/2021 18:23:12

Prof. Puggina. A questão é se o Itamaraty pertence ao governo do Bolsonaro? Até o momento nenhuma manifestação do Ministério do Exterior. A alternativa é: o Bolsonaro ainda tem, de fato, o controle governamental?

Sergio Pompilio Eckert -   13/07/2021 18:06:20

Percival, conheci Cuba em julho de 2015. Constatei a miséria, o atraso e a profunda desigualdade que o regime comunista impôs àquele povo sofrido.

roberto lima de almeida neves -   13/07/2021 17:45:35

Um sórdido regime implantado por sórdidos opressores. E há quem os apoie por aqui.