Rir... para n?chorar
Armando Alexandre dos Santos - (A Ordem, Porto, Portugal).
Comprei ontem, na Livraria Francesa, de S?Paulo, um livro que comecei a ler ap? jantar. T?apaixonante era a leitura que s?nsegui dormir depois de conclu?a.
Trata-se de Le communisme est-il soluble dans lalcool?, dos irm? Antoine e Philippe Meyer, o primeiro diretor comercial de uma editora, o segundo soci?o generalista amador.
Pelo t?lo do livro e pela profiss?do segundo autor, j?er?notado os leitores que a obra tem cunho humor?ico. De fato, consiste ela numa cole? de anedotas, blagues, brincadeiras e outras manifesta?s de humor pol?co provenientes dos mais diversos pontos da ex-Uni?Sovi?ca e recolhidas por r?o ou por meio de dissidentes do regime comunista. A publica? j? antiga: foi feita em Paris, em 1978, pelas ?itions du Seuil.
?bem sabido que as ditaduras s? habitualmente, um caldo de cultura prop?o para o humor pol?co. A ditadura comunista, pela sua brutalidade e pela sua longa dura?, propiciou mat?a abundante para v?as gera?s de humoristas an?os. A excepcional criatividade dos povos eslavos tamb?contribuiu para que esse g?ro se expandisse com vigor especial.
Seguem algumas amostras, traduzidas com liberdade (e at?por vezes, um pouco adaptadas) do livro acima. Sendo produ?s an?as, de dom?o p?co, que correm mundo em vers?muito variadas, nada obsta, ali? a
que tamb?o leitor, ao pass?as adiante, as readapte com liberdade. O fundo, infelizmente, ser?empre verdadeiro...
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-- Como morreu Mayakovski?
-- Mayakovski se suicidou. O infeliz n?foi capaz de compreender as indispens?is transforma?s de 1927.
-- E quais foram suas ?mas palavras antes de se matar?
-- Foram: por favor, camaradas, n?atirem.
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Na Sib?a, tr?prisioneiros, provenientes da mesma regi?do imp?o sovi?co se encontram. Um deles diz:
-- Estou aqui h?0 anos porque escrevi um artigo criticando o camarada Wladimir Alexandrov.
O segundo diz:
-- Estou aqui h?8 anos porque fiz um discurso elogiando o camarada Wladimir Alexandrov.
O terceiro se apresenta:
-- Estou aqui h?9 anos porque sou Wladimir Alexandrov.
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Um jornal de Zagreb lan? um concurso de reda?s livres sobre o General?imo Tito. Primeiro pr?o: 20 anos de pris?com trabalhos for?os.
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Desde que apareceu o movimento dissidente na R?a, a pol?a precisou modificar seus m?dos de atua?. Os policiais passaram a andar sempre em grupos de tr? um que sabe ler, outro que sabe escrever, e o terceiro encarregado de vigiar os dois perigosos intelectuais.
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Depois de sufocada a revolu? h?ra, de 1956, a municipalidade de Budapeste recebeu uma mensagem da municipalidade moscovita, sugerindo que, em homenagem ao seu grande libertador, Nikita Krushev, a Catedral de Santo Est?o passasse a se chamar Catedral de S?Nikita.
Os h?ros responderam: Perfeitamente. Mandem logo as rel?ias.
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Que conselho se deve dar a um intelectual sovi?co?
Em primeiro lugar, n?pense. Se n?consegue ficar sem pensar, n?fale. Se n?consegue ficar sem falar, n?escreva. Se n?consegue ficar sem escrever, n?assine. Se n?consegue ficar sem assinar, ent?n?se queixe.
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Qual a diferen?entre o cinema mudo e a democracia socialista:
- No cinema mudo s? v? filme mas n?se ouve nada. Na democracia socialista, s? ouve falar em democracia, mas n?se v?ada.
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Numa das rep?cas da Uni?Sovi?ca, ?ia de elei?s. O governo as organiza como de costume, de acordo com o cerimonial de praxe. Os eleitores se apresentam, recebem os envelopes fechados com o nome do candidato ?o, e v?um a um, disciplinadamente, depositar os envelopes na urna eleitoral.
A certa altura aparece um eleitor especialmente alcoolizado e, sem atinar com o que fazia, tenta abrir o envelope.
O secret?o local do Partido Comunista horrorizado se precipita:
-- N?sabe, camarada, que o voto secreto ?m dos pilares da nossa democracia?!
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-- O que aconteceria se a Uni?Sovi?ca estendesse o socialismo autogestion?o at? deserto do Saara?
-- O Saara logo come?ia a importar areia.
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Certo dia, em Moscou se espalha a not?a de que a cidade seria abastecida de carne. Imediatamente se formam filas enormes diante dos a?gues, e multid?de pessoas passam toda a noite ?spera de que, no dia seguinte, se abram os estabelecimentos.
De manh?nha, apresenta-se um funcion?o do governo, e adverte:
-- Os que forem judeus, podem ir embora, porque a carne n?ser?endida para os judeus.
A ter?parte dos presentes sai das filas e volta para suas casas.
Tr?horas depois, o estabelecimento ainda est?echado. Apresenta-se novamente o funcion?o do governo e anuncia:
-- S? carne para os membros do Partido Comunista. Quem n?tiver suas carteiras do Partido pode ir embora.
Nove d?mos dos presentes se retiram. Ficam s? membros do PC, ainda muito numerosos.
Tr?horas depois, continuando fechado o a?gue, o funcion?o reaparece, e diz:
-- Camaradas, agora que estamos s?s do Partido, devo dizer-lhes com franqueza que n?temos carne.
Ouve-se, ent? no fim da fila, uma voz que protesta:
-- Esses judeus s?sempre favorecidos!
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Durante o governo Stalin, foi decidido que seria comemorado solenemente o centen?o do escritor Puchkine. O Presidium Supremo decide abrir um grande concurso para erigir uma est?a a esse her?a pr?ni?Sovi?ca. De todos os pontos da URSS chegam projetos variados: Puchkine lendo; Puchkine escrevendo; Puchkine arengando as multid? Puchkine sendo homenageado pelo povo russo, etc. etc.
Venceu o melhor projeto: Stalin lendo Puchkine.
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Um estrangeiro que visitava a Iugosl?a deixou escapar, por distra?, durante a conversa, um gra? a Deus. Foi imediatamente corrigido pelo funcion?o p?co comunista:
-- N?se deve dizer gra? a Deus. Deve-se dizer gra? ao camarada Tito.
-- E como se dir?uando o camarada Tito morrer?
-- A?im, se poder?izer gra? a Deus.
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Um grupo de turistas visita em Moscou a Casa dos Inventores Sovi?cos. L?mostram-lhes as fotografias dos inventores do autom?, do avi? do refrigerador, da luz el?ica, dos navios a vapor, dos ?os, do cinema, da televis? da bomba at?a -- todos sovi?cos.
Em posi? de destaque, figura o retrato de Breznev, inventor da Casa dos Inventores Sovi?cos.
(transcrito do jornal A Ordem, do Porto)