Percival Puggina
“As coisas desmoronam e acontecem por estupidez e descuido.” (John Sanford)
Se você, cidadão consciente, conservador e liberal, patriota, considera parte de seu dever de casa dar uma espiada nas vitrines da concorrência, provavelmente já percebeu que o Congresso Nacional a ser empossado em fevereiro não será notavelmente diferente do atual. O mercado está aberto para as mercadorias da política nacional.
A perspectiva de que Lula – oh céus! – seja empossado na presidência já comanda as decisões das agremiações políticas. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco negociam as respectivas reeleições. A “maioria conservadora” perdeu a totalidade do centrão. Há sinais claríssimos de que as melancias ideológicas se vão reacomodando na carroça brasiliense e os cargos, se não existem, vão sendo criados para atender a demanda. Certo como a morte, o prejuízo será nosso.
Independentemente do que venha a acontecer no curto prazo, e o prazo encurta no tic-tac do relógio, considero indispensável que a janela da realidade, ou o palco, ou o picadeiro (como queiramos) sirva para ver toda a malícia de um sistema político que não funciona para a democracia, mas para os agentes políticos, ou atores, ou acróbatas (como queiramos). É graças a esse sistema que os eleitores trocaram uns por outros, mas – surpresa! – não deu muito certo. Mais uma vez, é reduzido o número de parlamentares de quem se pode dizer com admiração – “Esse me representa!”.
O que me dá uma canseira na alma é tão poucos darem importância a um problema desse tamanho! A inteira campanha eleitoral transcorreu num verdadeiro caos institucional, mas quase ninguém escolheu seu congressista levando em conta a necessidade de reformar as instituições. A imensa maioria dos cidadãos considera tratar-se de “caveira de burro” azarenta, sempre presente. No entanto, é pura e simples subordinação do jogo à regra do jogo. E tudo se agrava porque, mais recentemente, o juiz do jogo também gosta de bater sua bolinha, tem time do coração, entra em campo e dá botinada no adversário.
Não bastasse isso, sob o ponto de vista do poder político, nossa “democracia” é comandada pelos interesses de uns poucos. No Congresso, as decisões são tomadas pelos presidentes do Senado e da Câmara, e por uma dúzia de líderes em cada uma das duas casas. São 26 pessoas que regem 596 congressistas. Ponha mais sete ministros que formam a maioria politicamente alinhada no STF e o presidente da República e verá que 36 pessoas dirigem o show. Nota: se isso lhe parece desproporcional, não perca de vista o fato de que hoje uma, apenas, dirige tudo e só se aposenta em 2043.
Não tenho espaço neste artigo para discorrer sobre reforma política, tema sobre o qual tanto já escrevi. Apenas aproveito a cena do “acidente” para dizer que ele não é casual. Há motivos institucionais mais do que suficientes para se reproduzir indefinidamente.
É o que acontece quando quase ninguém se importa.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Heitor De Paola - 28/11/2022 16:34:10
Caro Puggina, você apenas mencionou a reforma política. Realmente, a hora atual é de reagir ao caos. Mas quando a poeira baixar, se baixar!: 1- voto distrital simples, puro, por maioria simples; 2- redução do mandato de Deputados para dois anos; 3- dois Senadores por Estado, sem suplentes, vagou cada Legislativo Estadual indica outro nome; 4- redução do mandato de Senadores a 4 ou 6 anos; 5- obrigatoriedade para ser indicado para o STF ter sido membro de Juízo de 2ª Instância por no mínimo 10 anos e comprovação de conhecimentos de Direito Constitucional mediante exame; 6- Juízes de 1ª Instância eleitos com 4 anos de mandato; 7- alguma forma de possibilidade de recall de todos os cargos eletivos. 8- defendo que o Presidente possa ser reeleito uma única vez e nunca mais possa se candidatar. Claro que essas sugestões são apenas um início.Vitorio Perozzo - 28/11/2022 10:58:20
QUERIDO AMIGO PUGGINA,POR FAVOR FAÇA UM APELO VEEMENTE PARA A ÚNICA INSTITUIÇÃO QUE PODE FAZER ISSO; AS FORÇAS ARMADAS. ELES DESARMARAM O POVO E ARMARAM OS BANDIDOS. O POVO ESTÁ NAS RUAS, MAS DESAMPARADO,POR ISSO MEU APELO. ABRAÇO E QUES NOS AJUDECarlo Germani - 27/11/2022 19:42:48
Prezado Puggina! Sempre certeiro na sua análise política. Como adendo,pergunto: 1) Se a esquerda comunista ditatorial e totalitária retornar ao poder federal (na verdade nunca perdeu o poder) e o caos generalizado se instalar,duvido que uma mega convulsão social não ocorra,e a canalha política do Congresso estará blindada? 2) É inegável que ouve depois da ascensão de Bolsonaro à presidência da República, o DESPERTAR da população. PS-Como exemplo,as mobilizações da população em frente aos quartéis de todo o país. (...) Resumo da ópera: não há blindagem alguma para nenhum político de agora em diante. PS2-Se a canalha esquerdista retornar ao poder,o caos instalado,é inevitável que cabeças vão rolar. PS3-A história política ensina que todo país para se definir como nação teve um mega conflito interno. E ao Brasil não será diferente; Quem viver verá!José Paulo Moletta - 26/11/2022 01:31:19
Mestre, sugiro um artigo sobre o Art 53 da CF, onde consta que os presidentes do Senado e Camara, tem mandatos de APENAS 2 anos, sendo vedada a recondução, pois a ¨midia abutre¨, não lê a Carta MagnaEleuterio de sousa barreira - 25/11/2022 21:59:12
Parabéns vc e uma luz nesta escuridão ainda não desisti mas já considero desistir o sistema está arrumado para nos subjugar infelizmente é só nos resta rezar talvez nem isso , mas parabéns suas análises são perfeitas vc e o guzzo são the best.Menelau Santos - 25/11/2022 11:29:46
Prezado Professor, como sempre seu texto é um retrato fidedigno da nossa realidade "democrática". Nossos candidatos se elegem para serem representantes sim, mas apenas de si mesmos. Eles lutam pelos interesses, sim, mas apenas próprios.