• Percival Puggina
  • 16/07/2021
  • Compartilhe:

PIRATARIA LEGISLATIVA

 

Percival Puggina

 

É inacreditável que um parlamento promova rapinagem de recursos públicos no montante de quase seis bilhões de reais sem que se possa identificar nominalmente a múltipla autoria. É como se o ato que garfou o orçamento da União tivesse sido praticado por um plenário em que todos usassem luvas e máscaras, para não serem reconhecidos e suas impressões digitais não ficassem registradas em painéis de votação. Na prática, manobras regimentais.

Há muito tempo, a moral entrou em recesso no Congresso Nacional. Na Câmara, a conduta de muitos deputados, de diferentes bancadas, leva aquela Casa do Povo a agir como um varejão dos negócios da política; no Senado, opera o atacado dos grandes affaires comerciais.

Varejo e atacado compõem o meu sentir sobre as duas Casas do parlamento brasileiro.

A decisão que quase triplicou, para 2022, o valor distribuído às campanhas de 2018 é consequência natural, sabe-se, da moral dominante naqueles plenários. E quanto pior o candidato, mais dinheiro ele precisa.

Muito escrevi contra a artimanha do financiamento público nos anos que precederam a decisão de 2015 com que o STF declarou inconstitucional o financiamento privado. Era uma antiga tese petista, apresentada quatro anos antes pela OAB, com pressão de toda a poderosa máquina esquerdista nacional, incluídas a CNBB, CUT, UNE, MST, Contag e muitas outras organizações. Quando aprovada finalmente por sete votos contra três, com apoio unânime da bancada petista no Supremo, eu escrevi esta obviedade em artigo tratando do assunto: “Vão usar o dinheiro dos impostos que você paga para financiar as campanhas eleitorais de partidos e candidatos nos quais você jamais votaria!”.

A rapinagem praticada ontem teve agravantes de culpa, como se observou em 2018. Sente-se para ler isto, leitor: deputados federais e senadores são os caciques dos partidos e cabe a eles a distribuição desse butim que o STF franqueou à pirataria legislativa. Adivinhe, agora, quem são os principais beneficiados dela. Pois é, acertou. Mateus e os seus. Não é a regra da competência, nem a partilha fraterna que tanto encanta a postulante CNBB, apoiadora de primeira hora dessa insensatez. É a regra do compadrio, da obediência, da utilidade e da proteção ao partido, seus líderes e seus corruptos.

Dinheiro nosso para obter resultados eleitorais que não desejamos, para reeleger parlamentares que durante quatro anos votaram em favor do interesse próprio e contra o interesse público. Preserve os bons, como o deputado Marcel e mais uns poucos que se empenharam por votação nominal. Mas está aí um horrendo exemplo do que acontece quando a astúcia de uns se encontra com a ingenuidade de muitos e a sandice de tantos.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Carlos Edison Fernandes Domingues -   19/07/2021 11:26:45

PUGGINA Esta bandalheira vai fortalecer o caixa dos maiores partidos. Aquilo que o P T escamoteavas da Petrobrás, da Caixa Econômica Federal e outras Instituições para o sustento de suas campanhas eleitorais, agora, com pruídos de honestidade, tira do erário e distribui, com proporcionalidade, com o P.S.D.B., M. D.B. e, P.P., legendas que controlam o Congresso Nacional. As pequenas legendas pouco receberão e continuarão sem expressão. Imagino, que o VETO à bandalheira sincronizada, formará uma nova legenda, fortalecida pelo voto popular. Carlos Edison Domingues

Joel Robinson -   18/07/2021 12:05:55

Empresas de ex-militares receberam R$ 610 milhões do Ministério da Defesa desde 2018 Segundo o levantamento do Metrópoles, os gastos cresceram em todos os anos do governo Bolsonaro. Em 2021, já foram pagos R$ 77 milhões

Roberto neves -   17/07/2021 14:17:10

A pilantragem do Congresso se manifesta a todo instante. Parabéns ao Puggina pelo texto brilhante

Luiz R. Vilela -   17/07/2021 07:05:09

Pois é ! Deputados e senadores, não caem do céu ou vem do exterior, saem todos do meio do tal de "povão". Então fica difícil qualifica-los como imprestáveis e mal intencionados, se a cada eleição a representatividade é renovada num certo porcentual, mas os maus hábitos são quase sempre cometidos pela totalidade dos parlamentares. Fica aí então a pergunta, representatividade distorcida representa um povo ético e moralizado? Difícil de separar o joio do trigo na questão. Quanto ao financiamento público de campanha, anda ocorrendo um fenômeno, que não é o Ronaldo Nazário. Tem sido observado que candidatos a prefeito, em cidades do interior,, fazem uma campanha "espartana", perdem a eleição e depois começam a mostrar sinais de enriquecimento pessoal. Já até ouvi dizer que muitos escondem o dinheiro que recebem para fazer a campanha, não gastam e ainda negociam com o adversário a derrota, entrando no fundo partidário do outro. Não sei até que ponto isto é verdadeiro, mas que candidato tem se dado bem em campanha isso é verídico, observável inclusive a olho nu. A verdade é que a política no Brasil, se tornou uma grande "negociata", negociam de tudo e para o cidadão cada vez mais impostos, como o ministro da fazenda quer fazer agora com o imposto de renda das pessoas físicas, visando sempre sobrar mais dinheiro para os nossos "dignos" representantes. Por muito menos o "senhor" destruiu Sodoma e Gomorra.

FERNANDO A O PRIETO -   17/07/2021 05:33:12

Mais uma vergonha! Sugiro que, neste blog e em outros locais, seja mantido destacado ("fixado", acho que é o termo técnico) o nome dos POUCOS que votaram contra, para que possamos reelege-los, e não aos outros, cúmplices desta PATIFARIA!

Cristina -   16/07/2021 19:07:00

Meu caro Puggina , o conluio na calada da noite é praxe entre os que vivem nas trevas … nem Gotham City é palho pro Brasil …

Marcos Palmeira -   16/07/2021 16:31:23

Boa tarde Puggina; estas atitudes no calar da noite ou prestes ao recesso parlamentar diz sobre a moral destes dePUTAdos e senadores: raposas tomando conta do galinheiro.

Rogerio pocebon -   16/07/2021 15:15:55

Isso acontece a muitos anos mas agora se superaram em tudo.